Marrocos recebe primeiro navio de gado vivo cruzado do Brasil

Ao todo Marrocos recebeu um carregamento de 2,8 mil bovinos vivos oriundos do Brasil; expectativa é que país enviará cerca de 30 mil cabeças até o final do ano

O Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, de acordo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), ainda está em fase embrionária quando se trata da comercialização de gado em pé –– nome técnico que indica esse tipo de transação. Em 2021, foram exportadas em torno de 2,4 milhões de toneladas de bovinos vivos em todo o mundo, esse volume representa aproximadamente 20% do comércio internacional de bovinos, considerando a soma de animais vivos e carnes. Nesse período, a participação do país foi de pouco mais 1% do total.

Foram embarcados 2.800 bovinos do estado do Pará, região norte do Brasil. Outros 3.000 animais são esperados no porto de Jorf Lasfar em 8 de abril. O governo marroquino abriu mão da tarifa de importação de 30.000 animais até o final deste ano.

Segundo Felipe Heimburger, chefe Econômico e Comercial da Embaixada do Brasil em Rabat, o mercado de gado vivo do Brasil foi aberto no início deste ano. “O certificado veterinário internacional foi aprovado em janeiro, durante missão da autoridade sanitária marroquina ao Brasil, que assinou convênio com o Ministério da Agricultura e Pecuária”, disse Heimburger à ANBA.

“Desde outubro do ano passado, o Marrocos quer importar gado vivo do Brasil porque eles estão em uma estação de seca e a criação local está prejudicada. Além disso, aumenta o consumo de carne nas noites do Ramadã”, lembrou o diplomata. O Ramadã é o período sagrado do Islã, no qual os muçulmanos jejuam durante o dia e realizam jantares em família após o pôr do sol.

Para estimular as importações e garantir o abastecimento do país, o Marrocos suspendeu a tarifa de 30 mil bovinos até dezembro deste ano. A cota é válida para qualquer país com o qual tenha relações diplomáticas.

novilhada gorda oriunda de cruzamento nelore angus
Foto: Eduardo Krisztán Pedroso

“Com tarifa zero, os exportadores brasileiros foram incentivados a abastecer o mercado marroquino. O gado que chega é um cruzamento entre Zebu e Angus; é a primeira vez que o zebu brasileiro entra aqui; os marroquinos não conheciam Zebu muito bem”, disse Heimburger. Os animais foram prontamente abatidos em matadouros locais.

No dia 8 de abril chegará o segundo lote, com 3.000 animais, também pelo porto Jorf Lasfar, na cidade de Al Jadida. “É de lá que vem o fosfato, o fertilizante que vai para o Brasil. Eles usaram essa rota para que o navio pudesse retornar ao Marrocos com os animais”, informou o diplomata. Mil e quinhentos animais serão imediatamente, e a outra metade será engordada em fazendas locais.

Somando os dois embarques, sairão do Brasil 5.800 animais. A expectativa é que os compradores árabes façam novos pedidos de gado brasileiro abaixo da cota de 30 mil cabeças. “A Espanha usou a cota com 3.500 animais, o Uruguai usou um pouco também, mas ainda dá tempo até meados do ano se os exportadores brasileiros quiserem enviar até 20 mil cabeças de gado. Há demanda”, disse. Segundo Heimburger, é mais barato importar do Brasil [do que da Espanha], e o país tem uma boa imagem do agronegócio no Marrocos. “Agora, o Brasil pode competir em pé de igualdade com a Europa”, declarou.

Foto: Divulgação

Primeiro o gado vivo, depois a carne

Heimburger explicou que o incentivo fiscal ao boi gordo pode ser o ponto de partida para a entrada da proteína animal brasileira no Marrocos, tanto em cortes congelados quanto em carcaças inteiras posteriormente. “Esse mercado poderia comprar proteína animal do Brasil. É aqui que queremos chegar; na verdade, queremos baixar a tarifa para todo o setor de proteínas porque hoje a carne desossada congelada tem tarifa de 200% , é uma barreira, e eles têm alguns mecanismos, algumas cotas que podem usar”, informou o diplomata. No caso de aves congeladas, o índice é de 93%. “Isso, na prática, impede a entrada do produto brasileiro no mercado por causa do protecionismo”, afirmou.

O exército marroquino compra 6.000 toneladas de proteína animal sem tarifas; enquanto isso, o setor privado pressiona o governo para reduzir o imposto. “Eu acho que no final, isso vai acontecer. Acredito que com essa confiança que está sendo construída entre exportadores brasileiros e importadores marroquinos, conseguiremos uma cota livre de tarifas também para proteína animal congelada. O Brasil é confiável, entrega regularmente e vai apoiar a segurança alimentar do Marrocos”, acredita.

O país árabe não é autossuficiente em agricultura e pecuária. Apesar de ter um rebanho considerável de ovinos e algumas aves e bovinos, depende de importações, inclusive ração animal, e compra soja e milho do Brasil.

“[A venda da proteína animal brasileira] será uma parceria ganha-ganha, boa para o consumidor marroquino e para o exportador brasileiro. O Marrocos é um mercado importante, com quase 40 milhões de habitantes e promissor para a carne bovina”, afirmou.

De 2 a 7 de maio, acontecerá a Exposição Agrícola Internacional do Marrocos (SIAM 2023). Pela primeira vez, a Embaixada do Brasil em Rabat participará do evento com estande e apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária. “Já temos 13 empresas confirmadas nos setores de proteína animal, alimentos e máquinas agrícolas”, disse Heimburger, que está no cargo há dois anos e meio.

Com informações da Agência de Notícias Brasil-Árabe

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