Pecuária em alerta: Vai faltar insumo para nutrição

A Guerra da Ucrânia, deixa a pecuária em alerta com a baixa oferta de insumos para nutrição animal; A ureia tem sido vendida a um preço cerca de quatro vezes mais alto comparado ao início de 2021.

Em dois anos de pandemia, os setores de alimentação e saúde animal parecem disputar uma prova de resistência, com etapas cada vez mais difíceis: escassez de matéria-prima, apagão logístico, desvalorização cambial, alta dos combustíveis e inflação. Quando a situação parecia se estabilizar, ou pelo menos ser contornada, e o maior desafio seria lidar com a ressaca do aumento de custos de produção, a Rússia invadiu a Ucrânia, estremeceu o mundo e o suprimento global de insumos voltou a ser um “campo de batalha”.

A ureia tem sido vendida a cerca de € 900 por tonelada métrica, cerca do quádruplo do preço no início de 2021, de acordo com Chris Lawson, responsável pela área de fertilizantes no CRU Group, uma empresa de informações de mercado. Os países sem produção nacional de fertilizantes também podem ter dificuldades de acesso, o que terá graves consequências para o sistema alimentar global.

Em termos de matéria-prima para nutrição animal, a alta na cotação das commodities agrícolas foi crucial. Rússia e Ucrânia representam 19% das exportações mundiais de milho e 28% de trigo, de acordo com análise da diretoria de Agronegócios do Itaú BBA.

Ainda que a relevância seja menor em soja, o reflexo nos preços da oleaginosa é inevitável. Esse cenário só agrava a já complicada disponibilidade de insumos básicos para a fabricação de rações, devido aos efeitos climáticos — falta ou excesso de chuvas, geadas e até queimadas — que prejudicaram lavouras pelo Brasil.

A dependência de insumos importados, como vitaminas, aminoácidos e enzimas, mesmo quando estavam disponíveis, piorou o quadro. Segundo o CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani, com o dólar valendo cinco vezes mais do que o real, a conta pesou, tanto pelos preços dos produtos em si, quanto pelo custo de logística.

“No segundo semestre do ano passado, o frete em dólar de um contêiner de 20 pés vindo da China custava seis vezes mais do que tradicionalmente”, disse.

A escassez de contêineres ampliou o entrave logístico e intensificou a competição por espaço nos portos. Para o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emilio Salani, essa concorrência dificultou a entrada de insumos no Brasil.

Vencemos a batalha de tirar os produtos da Índia e dos Estados Unidos e esbarramos aqui dentro.” Com o fechamento do tráfego no Mar Negro e no Mar de Arzov, por onde saíam os navios da Ucrânia, e as sanções comerciais à Rússia, a situação do transporte mundial piorou, seja pelas restrições de navegação, seja pelo alto custo de frete e do seguro.

De acordo com o advogado especializado em transporte marítimo e sócio da Rabb Carvalho Advogados Associados, Larry Carvalho, já em 15 de fevereiro, nove dias antes do primeiro ataque russo aos ucranianos, a Lloyds Market, maior empresa de seguro de navios do mundo, havia declarado aquela região como área de guerra, o que impactou direta e imediatamente no valor do seguro.

“Além disso, o preço do barril de petróleo cresceu muito, e cerca de 15% do custo de transporte marítimo vem do óleo bunker”, afirmou.

Autossuficiência ajuda empresas  

Outro impacto direto desse caos mundial é a queda no abastecimento de fertilizantes, insumo essencial para a maior parte das cadeias produtivas agropecuárias e, indiretamente, para as indústrias de nutrição. A Rússia é um dos maiores produtores e exportadores de macronutrientes, e o Brasil depende desse suprimento.

A situação só é um pouco menos pesada para quem tem certa autossuficiência. É o caso da DSM, maior fabricante global de vitaminas, que também produz o fosfato e as enzimas utilizados em sua linha para ruminantes, principalmente sal mineral.

De qualquer forma, a empresa ainda depende da matéria-prima básica, e a concorrência não é pequena. “Quando falamos de suplemento, o componente mais caro é o fósforo, e só 5% do fornecimento mundial vai para a nutrição animal, a maior parte é usada na agricultura”, afirmou o diretor de marketing do Negócio de Ruminantes da DSM, Juliano Sabella. Por isso, segundo ele, é melhor não centralizar toda a demanda em uma só fonte.

Abastecer o mercado e manter alguma margem de lucro sem repassar essa carga aos clientes tem sido desafiador até para empresas com mais fôlego e musculatura. A Special Dog Company, uma das principais fabricantes de alimentos para cães e gatos do País, sustentou o patamar de vendas em 20 mil toneladas por mês, mas à base de muitos ajustes. Inclusive da lucratividade, disse o diretor de Supply Chain da empresa, Thiago Manfrim. A relação de longa data com os fornecedores de matéria-prima e a estabilidade da companhia ajudaram. “As empresas mais sólidas são priorizadas.”

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