Pecuarista cria o próprio frigorífico e aposta em carnes premium – que segue crescendo – no Brasil

Da seleção genética no campo à verticalização da cadeia produtiva, trajetória de Valdomiro Poliselli Júnior mostra como a pecuária nacional passou a disputar espaço com as carnes mais valorizadas do mundo; Pecuarista cria o próprio frigorífico e aposta em carnes premium

A transformação da pecuária brasileira nas últimas décadas passa, cada vez mais, pela agregação de valor, controle de qualidade e domínio da cadeia produtiva. Em meio a esse movimento, a história de Valdomiro Poliselli Júnior se destaca como um exemplo de visão estratégica aplicada ao campo. Criado em ambiente rural e com forte ligação desde a infância com o gado, o produtor decidiu ir além da criação tradicional e estruturou um modelo que hoje conecta genética, manejo, confinamento e indústria, resultando em um dos projetos mais sólidos de carnes premium do país.

Segundo informações divulgadas pelo Agro Estadão, Valdomiro é fundador da VPJ Alimentos, grupo que se consolidou como referência nacional no segmento de carnes nobres ao apostar, ainda nos anos 1990 e 2000, em práticas que só mais tarde se tornariam tendência no Brasil.

Da infância no curral à formação técnica

Filho e neto de produtores rurais do interior paulista, Valdomiro cresceu literalmente ao lado do curral. Essa convivência diária com a pecuária moldou não apenas sua identidade, mas também sua percepção sobre a importância da qualidade animal e do melhoramento genético. Ainda jovem, buscou formação técnica em colégio agrícola e, posteriormente, graduação em Administração, unindo o conhecimento prático do campo à gestão profissional.

De acordo com o relato publicado pelo Agro Estadão, desde cedo ele demonstrava interesse por seleção, cruzamento e novas tecnologias, visão que se tornaria a base do modelo produtivo adotado anos depois pela VPJ.

Pecuarista cria o próprio frigorífico e aposta em carnes premium
Frigorífico da VPJ em Pirassununga (SP) permitiu agregar valor à carne. Foto: VPJ/Divulgação via Estadão Conteúdo

Goiás, cruzamento industrial e pioneirismo genético

Um dos pontos de virada da trajetória ocorreu em 1995, quando Valdomiro expandiu suas operações para Nova Crixás (GO). Na região, iniciou um projeto de pecuária intensiva com foco em cruzamento de raças, apostando na combinação entre a rusticidade do zebu e a qualidade de carne do Angus.

Ainda segundo o Agro Estadão, ele foi um dos responsáveis por introduzir no Brasil o Angus de pelagem vermelha e por estruturar um dos primeiros trabalhos completos de cruzamento industrial do país, envolvendo cria, recria, engorda e confinamento sob controle rígido de desempenho .

O frigorífico VPJ como estratégia, não como plano inicial

Pecuarista cria o próprio frigorífico e aposta em carnes premium. A entrada na indústria frigorífica não estava nos planos originais. No entanto, a crescente demanda por carne diferenciada, ainda no início dos anos 2000, levou Valdomiro a um novo passo. Em 2004, a VPJ começou a abater seus próprios animais e percebeu que, para capturar valor real, seria necessário controlar também a desossa, o porcionamento e a embalagem.

Conforme divulgado pelo Agro Estadão, a aquisição de uma planta frigorífica em Pirassununga (SP) marcou a virada definitiva do negócio, permitindo que a VPJ deixasse de ser apenas fornecedora de matéria-prima para se tornar marca reconhecida no mercado premium .

Quebra de paradigma no mercado nacional

Naquele período, o desafio era grande. Restaurantes de alto padrão ainda priorizavam carnes importadas, especialmente da Argentina e do Uruguai. A carne brasileira, apesar da escala produtiva, carregava um estigma de menor qualidade.

Com disciplina genética, padronização de abate e controle rigoroso, a VPJ conseguiu romper essa barreira. Um dos marcos citados pelo Agro Estadão foi a entrada da marca no Empório Santa Luzia, em São Paulo, vitrine que abriu portas para empórios, supermercados e restaurantes premium em todo o país.

Hoje, a VPJ está presente nos 27 estados brasileiros, com mais de mil produtos distribuídos em cerca de 150 pontos de venda especializados.

Foto Divulgação.

Carne premium além do boi

A estratégia de diferenciação não ficou restrita à bovinocultura. Em busca de um portfólio mais amplo, a VPJ passou a trabalhar também com cordeiro Dorper, a partir de 2005, e com suínos da raça Duroc, desde 2015 — ambos escolhidos por suas características de precocidade, marmoreio e qualidade sensorial da carne.

Segundo Valdomiro, conforme relatado pelo Agro Estadão, a lógica é a mesma aplicada aos bovinos: animais diferenciados, genética selecionada e padrões de abate mais exigentes que os do mercado convencional .

O tripé da qualidade: genética, manejo e confinamento

O modelo produtivo da VPJ é sustentado por três pilares bem definidos:

  • Genética: seleção rigorosa, uso de DNA, ultrassonografia e avaliação genômica, com foco em marmoreio, ganho de peso e cortes maiores;
  • Manejo: pastagens sombreadas, currais antiestresse e cuidados constantes com bem-estar animal;
  • Confinamento de precisão: dietas balanceadas, estruturas cobertas e acompanhamento detalhado de desempenho.

Esse tripé garante que apenas animais de alta performance cheguem ao frigorífico, mantendo a padronização exigida pelo mercado premium, conforme destacado na reportagem do Agro Estadão .

Reconhecimento e visão de longo prazo

Ao longo dos anos, a VPJ acumulou prêmios nacionais e internacionais, além de forte valorização de seus touros em leilões. Em um movimento recente de verticalização, a empresa passou a rastrear bezerros originados de sua genética, recomprá-los e destiná-los ao abate próprio.

O objetivo, segundo Valdomiro, é claro: em até cinco anos, trabalhar exclusivamente com animais de genética VPJ, fechando um ciclo que começa no campo e termina na mesa do consumidor — uma visão que resume três décadas de investimento, disciplina e paixão pela pecuária de qualidade.

steak - carne vermelha - contra-file carne bovina
Foto: Divulgação

Crescimento do mercado de carne premium reflete mudança no perfil do consumidor

O mercado de carnes premium vem ganhando espaço consistente no Brasil, impulsionado por um consumidor cada vez mais atento à origem, ao modo de produção e à experiência gastronômica oferecida pelo produto. Em 2025, o segmento operou em um ambiente mais favorável, inclusive nas exportações, e manteve desempenho acima da média da carne convencional. Para 2026, a perspectiva segue positiva, mesmo diante de desafios relacionados à oferta, sinalizando que o consumo de carnes de maior valor agregado deixou de ser um nicho restrito para se tornar uma tendência estrutural do mercado.

Esse avanço está diretamente ligado à profissionalização da cadeia produtiva, com maior uso de programas de certificação, melhoramento genético e sistemas produtivos mais intensivos e integrados. Segundo dados analisados pelo Compre Rural, a carne premium já representa entre 2% e 4% do consumo total de carne bovina no país, fatia ainda pequena, mas em clara expansão tanto no mercado interno quanto nas exportações.

A evolução do rebanho, com animais mais jovens, carcaças bem acabadas e oferta padronizada ao longo do ano, tem sido decisiva para sustentar esse crescimento e ampliar o acesso do consumidor a produtos gourmet, incluindo a valorização de novos cortes e diferentes apresentações comerciais

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM