Produtora supera preconceitos e vira uma das embaixadoras das mulheres do agro

Após trabalhar como doméstica e vendedora de móveis, Sônia Bonato voltou ao campo e hoje comanda fazenda de 154 hectares em Goiás.

Ela nasceu e cresceu em um sítio no interior de São Paulo, mas seguiu o caminho de muitos filhos de agricultores familiares e se mudou para a área urbana. Em São Joaquim da Barra e Ituverava, trabalhou como doméstica, vendedora de móveis, vendedora de peças e gerente de concessionária.

Há 25 anos, Sônia Bonato fez o caminho de volta para a zona rural, buscou cursos, frequentou palestras e dias de campo, diagnosticou e expandiu seu negócio – e hoje administra uma fazenda de 154 hectares em Goiás, onde planta soja, milho e cria bezerros.

Não por acaso, Sonia se tornou embaixadora do Congresso Nacional das Mulheres do Agro: seu sorriso largo está na abertura do site do evento, apresentado como o maior da América Latina. Neste ano, será on-line, em outubro, devido à pandemia do novo coronavírus.

“Minha história no agronegócio começou quando meu marido, que sempre trabalhou no campo, herdou um pequeno pedaço de terra em São Paulo. Resolvemos vender para comprar áreas em Goiás, onde o preço era mais baixo.” A Fazenda Palmeiras, em Ipameri, não tinha energia e a casa teve de ser reformada para receber a família.

No começo, a propriedade só tinha umas vaquinhas, que produziam 60 litros de leite por dia. Por cinco anos, Sônia se encarregou de entregar leite em casas na cidade, junto com ovos, frangos e o que mais conseguis se produzir.

Formada em contabilidade e com muita vontade de aprender, a produtora conta que resolveu fazer cursos e buscar a ajuda de profissionais do agro para diversificar os negócios e alavancar a fazenda. Antes, firmou uma parceria com o marido, Milton Bonato, em que ela cuida da gestão da fazenda e ele fica com a parte técnica.

“Eu ia aos cursos e dias de campo sozinha. Enfrentei muito olhar torto de homens que não engoliam minha presença num ambiente tão masculino. Não me importei, me expus e nunca saí de um evento ou curso com dúvidas.”

Foi num desses cursos que Sônia aprendeu a planilhar a produção, fazer orçamentos e planejar novos investimentos. Aumentou, então, sua área de silagem, abriu espaço para plantar soja e investiu em tecnologia de manejo e em genética para melhorar a qualidade dos bezerros que vende para recria.

Hoje, a fazenda tem 15 hectares de milho, 60 de soja e produz pelo menos 30 bezerros por ano. A família, diz Sonia, tem renda suficiente para viagens de férias e investimentos em maquinários e melhorias.

Ela admite que ainda enfrenta preconceitos por ser negra e mulher, mas a pior discriminação é a que sofre como pequena produtora.

“Imagina que cheguei a uma loja de produtos agropecuários, a funcionária estava me atendendo e, quando viu um grande produtor entrar na loja, me deixou falando sozinha.” Sônia desistiu da compra e ligou para o dono da loja para exigir que preparasse melhor seus empregados para atender igualmente os clientes.

Integrante da diretoria da Aprosoja-Goiás, reconhecida em 2018 como uma dos destaques do 1º Prêmio Mulheres do Agro, na categoria Pequena Propriedade, Sônia organiza um livro que resgata receitas culinárias do campo, que está em seu quarto volume.

A produtora diz que é importante que todas as mulheres se esforcem para ter voz e espa-ço. “Mulher no agro tem de correr atrás e mostrar competência. Eu tenho muito orgulho de tudo que conquistei com o meu trabalho.”

Fonte: Revista Globo Rural

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