Produtos carbono neutro já chegam à mesa

O NoCarbon possui certificações como Carbon Free e Certified Humane Brasil, e está disponível em 300 pontos de venda, chegando a supermercados do eixo Rio-São Paulo.

Pequenas e grandes empresas do setor pecuário vêm trabalhando na criação de produtos carbono neutro, com baixo impacto ambiental e um manejo mais sustentável nas cadeias de produção. Práticas inadequadas podem levar a um aumento das emissões de metano ao mesmo tempo em que diminuem e pioram a quantidade produzida.

A neutralidade também atende a uma demanda de mercados internacionais por descarbonização. No ano passado, a União Europeia chegou a apresentar uma proposta com o objetivo de proibir a importação de produtos que tenham origem em áreas desmatadas, entre eles, a carne bovina.

Na cadeia do leite, formas de manejo dos animais interferem na quantidade produzida e poluem mais o ambiente, de acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Embrapa Gado de Leite. Vacas com temperamento mais arisco emitiram uma quantidade 36,7% maior de metano e produziram menos leite, segundo o estudo.

Em julho do ano passado, a Guaraci Agropastoril, de São Paulo, lançou o primeiro leite orgânico e de carbono neutro do país, o NoCarbon. O que diferencia o produto de outros rótulos é a forma de produção do leite, de acordo com um dos sócios da empresa, Luis Fernando Laranja da Fonseca. O NoCarbon não utiliza hormônios no trato do rebanho e agrotóxicos no solo.

“Todo o carbono produzido é compensado pela empresa na própria fazenda onde atuamos, com a plantação de árvores nativas”, afirma Laranja da Fonseca. O NoCarbon possui certificações como Carbon Free e Certified Humane Brasil. Para isso, a Guaraci investiu R$ 5 milhões na elaboração de um inventário de emissões que acompanhasse a produção desde a ordenha no campo até a logística de envase e transporte do leite.

Baseada na Fazenda da Toca, em Itirapina (SP), a produção do NoCarbon possui 450 animais e chega a 4 mil litros de leite por dia. A Guaraci quer aumentar a produção com uma segunda fazenda, localizada na Bahia, segundo Laranja da Fonseca. O NoCarbon está disponível em 300 pontos de venda, chegando a supermercados do eixo Rio-São Paulo como Casa Santa Luzia, St Marche, Oba Hortifruti e Zona Sul. O produto também deve estar nas lojas do Carrefour em breve, de acordo com a Guaraci. A empresa ainda negocia para entrar nas gôndolas do Grupo Pão de Açúcar e da Cia. Zaffari, do Rio Grande do Sul.

A descarbonização também tem movimentado grandes empresas do setor. Para desenvolver uma carne carbono neutro em parceria com a Embrapa Gado de Corte, a Marfrig investiu R$ 10 milhões na criação de uma nova linha de produtos que foi lançada no ano passado, a Viva. O projeto envolveu 12 centros de pesquisa da Embrapa e mais de 150 pesquisadores.

O frigorífico terá exclusividade de utilização do selo até 2030, mediante pagamento de royalties. “[O novo produto] responde às demandas dos consumidores, investidores e de toda a comunidade por produtos verdadeiramente sustentáveis”, afirma Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e Comunicação Corporativa da Marfrig.

Na certificação criada pela Embrapa, o rebanho é criado nos sistemas silvipastoril ou agrossilvipastoril (integração lavourapecuária-floresta). Dessa forma, em uma mesma propriedade podem coexistir a criação de gado e florestas de eucalipto, por exemplo. A primeira fazenda a receber a certificação, localizada em Santa Rita do Pardo (MS), fornece a carne à Marfrig. Além de modificar formas de manejo para obter uma carne produzida de forma mais sustentável, o frigorífico insere aditivos na nutrição dos animais para reduzir a fermentação entérica, diminuindo a emissão de metano.

A Marfrig não abre números de produção, que ainda é pequena, mas Pianez afirma que a quantidade deve aumentar “significativamente” em breve. O frigorífico pretende lançar ainda em 2022 também a carne de baixo carbono. Por ora, a linha Viva alcança apenas o mercado interno, mas também poderá entrar no portfólio de produtos exportados, de acordo com informação da empresa.

Fonte: Valor Econômico

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