
Do Caracu ao Pé-Duro: conheça os bovinos que ajudaram a construir a pecuária brasileira e como algumas delas, atualmente, lutam contra a extinção.
Ao longo de séculos, o Brasil desenvolveu e adaptou raças bovinas que moldaram sua história agropecuária. Em meio à valorização de raças comerciais internacionais, como o Angus e o Brahman, pouco se fala sobre os bovinos genuinamente brasileiros, cuja genética é resultado de séculos de seleção natural, adaptação e cruzamentos locais. Estas raças nativas não apenas contribuíram para a consolidação da pecuária nacional, como também carregam enorme importância histórica, cultural e ambiental.
Hoje, preservar essas raças significa manter viva uma parte essencial do patrimônio genético do país, fundamental para garantir a sustentabilidade e a resiliência do setor pecuário frente aos desafios climáticos e econômicos atuais.
Tabapuã: a única zebuína genuinamente brasileira
Desenvolvida na década de 1940 na Fazenda Água Milagrosa, no município de Tabapuã (SP), a raça Tabapuã é a única zebuína considerada genuinamente brasileira. Resultante de cruzamentos entre animais das raças Nelore, Guzerá e Indubrasil, o Tabapuã se destaca por ser mocho (sem chifres), o que facilita o manejo.

Com pelos claros, finos e curtos, o animal tem excelente adaptação ao clima tropical. É um gado de grande porte, com temperamento dócil, alta fertilidade e ótimo desempenho zootécnico, como ganho de peso, rendimento de carcaça e qualidade da carne. Por essas características, vem conquistando cada vez mais espaço entre os pecuaristas que buscam produtividade aliada à rusticidade.
Canchim: o precoce brasileiro
Outra raça de destaque genuinamente nacional é o Canchim, resultado de um projeto iniciado na década de 1950 pela Embrapa. Seu desenvolvimento envolveu cruzamentos entre raças zebuínas (Nelore, Guzerá e Indubrasil) e o europeu Charolês, visando obter um animal adaptado às condições brasileiras, mas com alto rendimento de carne.

O Canchim é conhecido como “O Precoce Brasileiro” por sua rápida taxa de crescimento, qualidade de carcaça e excelente conversão alimentar. Também apresenta temperamento dócil e grande resistência ao calor, características muito valorizadas em sistemas produtivos de pasto.
Além do Tabapuã e do Canchim, o Brasil é lar de 13 raças bovinas consideradas nativas. Entre elas, destacam-se:
- Caracu: única que não está mais em risco de extinção. Com origem em raças ibéricas, é valorizada por sua rusticidade, produção mista (carne e leite), e resistência ao calor e a parasitas.
- Pé-Duro: uma das raças mais adaptadas ao Semiárido brasileiro. Pequeno porte, alta fertilidade e capacidade de sobreviver com pouca água e alimentação rústica fazem do Pé-Duro um símbolo de resistência.
- Crioula Lageana (ou apenas Lageana): criada há séculos na Serra Catarinense, é reconhecida pela habilidade materna, rusticidade e bom desempenho em regiões frias.
- Pantaneiro: nativo do bioma Pantanal, é adaptado à umidade, inundações sazonais e doenças tropicais. Tem bom desempenho na produção de carne e leite.
- Junqueira, Mocho Nacional e Franqueira: raças menos conhecidas, mas com papel importante no desenvolvimento genético do rebanho brasileiro.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a maioria dessas raças se encontra em risco de extinção, sendo que algumas já desapareceram por completo, como Igarapé, Pedreira, Turina, China, Franqueira e Malabar. A Embrapa mantém núcleos de conservação e programas de melhoramento genético com foco na preservação dessas linhagens.
Raças estrangeiras que se adaptaram ao Brasil
Embora não sejam nativas, algumas raças estrangeiras desempenham papel relevante na pecuária nacional, tendo se adaptado bem ao ambiente tropical:
- Nelore: de origem indiana, é a principal raça de corte no Brasil. Resistente ao calor, representa mais de 80% do rebanho nacional.
- Angus: raça britânica de carne de qualidade, muito usada em cruzamentos para melhorar a precocidade e o marmoreio.
- Brahman: originário dos EUA, descendente do zebu indiano, é valorizado por sua resistência e rusticidade.
- Senepol: caribenha, é mocha, tem boa conversão alimentar e ótimo desempenho em cruzamentos.
- Sindi: de origem paquistanesa, se destaca pela produção de leite e pela resistência ao calor.
Preservar as raças bovinas nativas do Brasil é mais do que uma questão zootécnica — é uma missão cultural, econômica e ambiental. Essas raças carregam traços genéticos únicos, que podem ser essenciais em um futuro de mudanças climáticas e pressões sobre os sistemas produtivos. Além disso, representam o elo entre o presente e os primórdios da pecuária brasileira, onde a seleção era feita na base da sobrevivência e da adaptabilidade.
Sem ações efetivas de conservação, corre-se o risco de perder para sempre essas riquezas genéticas. Por isso, instituições públicas como a Embrapa, universidades e criadores particulares desempenham papel fundamental na preservação e valorização dessas raças.
Conhecer, respeitar e divulgar a importância dos bovinos nativos do Brasil é um passo essencial para garantir que o futuro da pecuária continue sustentável, eficiente e, acima de tudo, genuinamente brasileiro.
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