
Depois de 25 anos de seleção genética, a Fazenda Cedro aposta no registro do rebanho Canchim como ferramenta de valorização comercial, fortalecimento da raça e contribuição direta para os avanços da pecuária de corte no Brasil.
A história da raça Canchim no Paraná acaba de ganhar um novo capítulo de destaque. Depois de mais de três décadas dedicadas à criação de animais dessa raça sintética genuinamente brasileira, a Fazenda Cedro, localizada em Guaraniaçu (PR), decidiu registrar oficialmente seu rebanho na Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares (ANC) e também se filiar a Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN).
A decisão marca não apenas um avanço para o criatório comandado por Claudio Cazella e suas filhas, as médicas veterinárias Luana e Ana Claudia, mas também reforça a importância do registro como ferramenta de valorização genética e de fortalecimento da pecuária de corte nacional.

Uma história que começou no cruzamento entre Nelore e Charolês
A tradição da família com o gado de corte vem desde o pai de Claudio, criador de Charolês. Foi nessa base genética que Claudio iniciou, nos anos 1990, o cruzamento com Nelore, formando o gado que viria a ser base para a formação do Canchim.
“Por volta dos anos 90 iniciei o cruzamento do Charolês com o Nelore. Aos poucos fui utilizando touros registrados, ora por inseminação, ora comprados para uso na fazenda. Assim, conseguimos consolidar o grau de sangue do Canchim e já são 25 anos mantendo essa seleção dentro da propriedade”, explica Claudio.
O objetivo sempre foi claro: desenvolver animais produtivos, adaptados e com qualidade genética superior. O esforço de seleção contínua garantiu que, mesmo antes do registro oficial, o rebanho fosse formado por indivíduos de destaque, capazes de gerar bezerros pesados e competitivos no mercado.
Nova geração, novos rumos
Se a base do trabalho foi construída por Claudio, o futuro do projeto ganha força com a participação das filhas. Luana Cazella, de 22 anos, formanda em Medicina Veterinária e atual integrante do Conselho Deliberativo Técnico (CDT) da Raça Canchim, traz inovação e engajamento institucional para o criatório. Já sua irmã Ana Claudia, também médica veterinária, acompanha o trabalho no campo com foco técnico e produtivo.
“Buscamos tecnificar cada vez mais nosso criatório, aplicando conhecimento e inovações que fortalecem a produção e a qualidade genética dos nossos animais”, resume Luana.
O rebanho da Fazenda Cedro atualmente conta com 150 a 200 matrizes. Há cerca de dez anos a propriedade adota a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), sempre priorizando touros registrados. Além disso, segue rigorosamente um calendário de estação de monta definida, manejo sanitário e zootécnico, e um cronograma nutricional de alta qualidade. O resultado aparece nos números: bezerros desmamados entre 7 e 8 meses com peso acima de 250 quilos, mostrando a eficiência da seleção genética.

Por que registrar o rebanho?
O importante passo dado pela Fazenda Cedro ao registrar oficialmente seus animais representa um divisor de águas. Muitos criadores ainda mantêm rebanhos “ocultos” — ou seja, trabalham com a raça, mas sem efetivar o registro. Essa decisão, no entanto, traz vantagens estratégicas.
“O registro dos animais apresenta diversas vantagens. Ele permite controle genealógico e zootécnico, facilita a seleção e contribui para o melhoramento genético. Além disso, valoriza comercialmente o rebanho, já que animais registrados possuem maior liquidez em leilões, feiras e programas de genética”, destaca Luana.
Entre os ganhos, estão também a rastreabilidade, a credibilidade junto ao mercado, o acesso a programas oficiais de melhoramento e a possibilidade de integrar o quadro promocional da raça, ampliando a visibilidade do criatório.
“Decidimos nos afiliar à Associação porque acreditamos que essa participação fortalece tanto a divulgação da raça quanto o nosso trabalho. Queremos mostrar nossos animais para um público mais amplo, participar de feiras e eventos e trocar experiências com outros criadores”, reforça a jovem veterinária.

Canchim: a resposta brasileira aos desafios da pecuária
A decisão da Fazenda Cedro de oficializar seu rebanho Canchim ganha ainda mais relevância quando se considera o cenário atual da pecuária brasileira. Para Luana, a raça tem características que a tornam estratégica diante das novas demandas do setor.
“O Canchim foi desenvolvido justamente para atender às necessidades do sistema produtivo brasileiro. É um gado precoce, rústico, adaptado ao clima tropical e com excelente desempenho produtivo e reprodutivo. Esses diferenciais são ainda mais importantes hoje, quando se exige eficiência, competitividade e carne de qualidade”, avalia.
- Conheça a raça Canchim: A queridinha dos criadores que pensam no lucro
- De olho no futuro da pecuária: avaliação da raça Canchim chega à sua 15ª edição
Segundo ela, o Canchim tem potencial de crescimento ao se alinhar às tendências de valorização da genética nacional e à busca por sistemas de produção sustentáveis e tecnificados. “Acredito que, ao investir em melhoramento genético contínuo e em programas de avaliação, a raça tende a ampliar ainda mais sua participação e contribuir significativamente para os avanços da pecuária de corte no Brasil”, completa.
Um exemplo para outros criadores
Ao oficializar seu rebanho, a Fazenda Cedro não apenas abre caminho para novos negócios e maior valorização genética, mas também lança um recado importante para outros criadores que ainda mantêm rebanhos não registrados.
A experiência mostra que o registro não é apenas uma formalidade burocrática, mas sim um investimento estratégico, que agrega valor, visibilidade e credibilidade ao trabalho de seleção. No caso da família Cazella, representa também a união de gerações em torno de um projeto sólido, que alia tradição, inovação e futuro para a pecuária nacional.
Este artigo faz parte de uma séria sobre criadores, confira a história da família Peeters e a revolução do Canchim no Cerrado.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.