
O projeto que começou com oito vacas e uma ordenha balde ao pé, hoje é um business milionário que tem como propósito fazer produtos com alma — e com leite Jersey. Confira a entrevista com Laticínios Malagutti.
Sabe o que é alimento afetivo? Aquela sensação de conforto que só comida de vó proporciona? É possível senti-la em cada mordida dos produtos feitos com o leite das vaquinhas felizes da Fazenda Malagutti. O projeto que começou com oito vacas e uma ordenha balde ao pé, hoje é um business milionário que tem como propósito fazer produtos com alma — e com leite Jersey.
Tem gosto de verdade, de cuidado, de casa. É aquele conforto que não se explica, só se sente — como comida de vó, sabe? No Laticínio Malagutti, esse sabor vem de um segredo simples: a felicidade das vaquinhas.
Você consegue sentir quando um alimento foi feito com amor.
Sim, elas escolhem quando querem ser ordenhadas. Vivem com liberdade, respeito e carinho. E essa energia boa — real, palpável — percorre toda a cadeia de produção, do campo a mesa. Porque aqui, cada litro de leite carrega um propósito: nutrir com alegria, transparência e bem-estar.
1. Como nasceu a fazenda da família Malagutti e o projeto com a raça Jersey?
A Fazenda Malagutti nasceu a partir de uma decisão em sociedade de produzir nosso próprio leite — de altíssima qualidade e com rastreabilidade total. Desde o início, decidimos investir em tecnologia para evitar os desafios comuns da mão de obra e das ordenhas em horários fixos. A origem da propriedade é familiar, passada de geração em geração há décadas.
A raça Jersey sempre foi uma referência para nós, que viemos da indústria de laticínios. Existe um consenso: é a melhor raça para industrialização e verticalização, por sua qualidade e sólidos no leite. Começamos a pecuária leiteira em 2022, mas o projeto foi concebido em 2018, antes da pandemia.
Começamos com oito vaquinhas. O projeto dos sonhos previa 140. Ordenhávamos com balde ao pé, duas vezes por dia. A produção foi aumentando: 16, 25, 32… o balde ao pé não deu mais conta! Migramos para ordenha canalizada e, com 52 animais, veio a decisão pelo robô. Começamos com 80 vacas em lactação no primeiro ano de robô. Hoje, temos 110 animais sendo ordenhados de forma robotizada — e ainda temos no rebanho descendentes daquelas primeiras oito vacas.
Aprendemos tudo com elas: levamos coices, erramos a alimentação (chegamos a desperdiçar o dobro do necessário), mas foi com essas oito vaquinhas que começamos a entender o leite.
2. Como foi a estruturação e modernização da fazenda?
A modernização foi motivada pela fragilidade humana. Queríamos excelentes resultados sem depender exclusivamente da mão de obra tradicional. Nossas principais tecnologias hoje são:
- Ordenha voluntária robotizada
- Monitoramento avançado de saúde animal
- Sistemas de operação remota com imagens e sons
Na ordenha voluntária, o animal aprende a fazer seu próprio ciclo. Estimulamos com ração — quanto melhor a ração, mais atrativa a ordenha. Há uma limitação natural: elas não ordenham além do necessário só por mais ração. Elas adoram desfilar no robô, é o ápice do bem-estar. Algumas não se adaptam ao sistema autogerido e exigem manejo especial, mas são exceção.
3. Quais práticas de bem-estar animal fazem parte da rotina da fazenda?
Os pilares são ambiência, climatização, qualidade da cama e da água. Quanto mais calibrados esses pilares, mais conforto elas têm, e maior é a produção — com menos problemas locomotores. Um bom exemplo: quanto melhor a cama, menor o gasto com casqueamento.
A Jersey é imbatível em rusticidade. Mesmo com temperaturas mais altas, mantém-se bem e produtiva.
4. O que representa o Selo Produto Jersey Sustentável para vocês?
O Selo Jersey Sustentável representa, para nós, a conformidade de uma produção alinhada a um projeto que promove uma pecuária harmoniosa, afetuosa e respeitosa com todos os seres envolvidos no processo — desde a produção vegetal, que alimenta os animais, até as interações humanas.
A certificação foi, de fato, um encontro entre o reconhecimento que buscávamos pelo nosso trabalho e a superação do básico. Nossa fazenda e nossos produtos entregam algo além. Ter o Selo Jersey nos rótulos indica que há, sim, uma dinâmica saudável com o meio ambiente e com a saúde. É SUSTENTÁVEL!
A produção de leite Jersey é harmoniosa com o ambiente e com a sociedade. Isso torna o ato de consumir mais leve e consciente, porque existe um cuidado real com todos os envolvidos.
Quando o consumidor vê o selo, ele automaticamente atribui um valor importante ao produto. Mesmo que não compreenda todos os detalhes técnicos da certificação, ele entende de forma imediata que a natureza, por nós, não está sendo lesada — e isso é fundamental.
5. Como surgiu o laticínio Malagutti e quais os diferenciais dos produtos?
O laticínio começou com a geração anterior, nossos pais. Eles já faziam produção artesanal, vendiam porta a porta, numa economia bem diferente da atual. A partir daí, identificaram o potencial de mercado e começaram a crescer.
Trabalhar com leite do nosso próprio rebanho nos permite saber exatamente o que estamos levando ao mercado. Consumimos o que produzimos. Esse cuidado se traduz em bem-estar para nós e nossos clientes.
6. Você tem um papel fundamental no reposicionamento da marca. Qual foi a trajetória até aqui? Como foi trazer uma visão mais jovem e estratégica para o marketing e o business?
Entrei no negócio pela conexão com a família. O reposicionamento da marca expressa respeito e bem-estar do campo à mesa. Desde a agricultura que alimenta o rebanho, até o queijo, tudo reflete nossos valores.
A visão jovem trouxe impacto. Fugimos do padrão tradicional, com uma abordagem mais arrojada no marketing e no posicionamento. A geração atual é conectada com o visual e com o engajamento. No começo, cometemos erros por falta de experiência, mas aprendemos — inclusive com profissionais que nos passaram para trás.
O segredo é conhecimento. Só ele protege contra os desafios do mercado.
7. Como é trabalhar em família?
É desafiador. Se há um problema no trabalho, ele entra em casa. É difícil conciliar visões distintas: uma mais empresarial, outra mais passional e familiar. Alguém sempre precisa ceder.
Aqui, quem domina uma função assume as decisões sobre ela e presta contas aos demais. Admiro muito a resiliência de todos. Estamos sempre buscando manter tudo funcionando. Os tempos mudaram, o boca a boca não é mais suficiente — agora é preciso acompanhar o digital.
8. Quais os pilares do marketing dos Laticínios Malagutti?
Nosso principal pilar é alinhar o marketing com o dia a dia e com os valores de respeito aos animais e ao meio ambiente.
O consumidor Malagutti busca um toque artesanal, aliado à tradição e à tecnologia. Conquistamos o Selo Arte, que permite expandir a comercialização para outras regiões e aumentar o alcance da filosofia da raça Jersey.
9. Quais são os planos futuros do Laticínios Malagutti?
Queremos chegar às mesas locais com produtos frescos. Nosso foco é continuar suprindo com qualidade a demanda da região e, depois, expandir mantendo o padrão.
A Jersey segue no centro da estratégia: é uma raça confiável, com leite que entrega sabor, textura e qualidade.
10. Que mensagem você gostaria de deixar ao consumidor que escolhe um produto Malagutti?
Ao pegar um produto Malagutti na gôndola, o consumidor precisa saber: está consumindo um produto feito por uma família que sempre buscou qualidade superior.
É sabor, sal, textura — sem variações. É tradição, sem conservantes ou atalhos para reduzir custos. É alimento para saborear, não só para matar a fome.
O consumidor pode confiar: temos o Selo Jersey Sustentável, que exige inspeção rigorosa. Aqui, em Santa Catarina, o CIDASC é o órgão fiscalizador e atua com seriedade. Também conquistamos o Selo Arte, que assim como o Selo Jersey, só é concedido a quem cumpre requisitos sanitários. Onde o CIDASC passa, há qualidade.
11. Quais medidas de biosseguridade são adotadas na fazenda?
Biosseguridade é confiar na procedência dos animais e na higienização de quem atua na fazenda. Trabalhamos com profissionais de confiança, principalmente na reprodução e inspeção. Evitamos ao máximo a saída de animais.
Veículos de risco (como caminhões de lixo) não entram. Estamos construindo um rodolúvio para sanitização. Controlamos vetores como carrapatos e moscas. Atuamos com rapidez no diagnóstico e contenção de doenças.
12. Quais práticas preventivas de saúde animal vocês adotam?
Utilizamos protocolos de vacinação reprodutiva, monitoramento clínico e genético de doenças. “Uma vaca em 100 são 99 expostas ao perigo”. A detecção e o tratamento precisam ser rápidos, e a tecnologia nos ajuda nisso.
Temos parceiros veterinários de confiança. Sempre que algo foge aos nossos protocolos, chamamos o especialista.
13. Quais fontes de energia renovável são utilizadas?
Utilizamos energia fotovoltaica. Ainda estamos aprendendo a lidar com as oscilações, mas já conseguimos zerar os custos com energia da rede externa e ter independência na geração de energia. Isso é sustentabilidade real.
14. A sustentabilidade vai além da energia?
Estamos trabalhando intensamente nisso — são os próximos passos. O projeto exige tempo para atingir o padrão que almejamos. Em um futuro próximo, iniciaremos a separação de sólidos, com foco na redução de poluentes provenientes dos dejetos. O separador será fundamental, especialmente porque, na nossa região, não há muitas lavouras por perto. Dentro das possibilidades econômicas e da mão de obra disponíveis na fazenda, estamos fazendo o possível e, nos próximos meses, realizaremos as adequações necessárias para operar com 100% do nível de sustentabilidade que buscamos.
Temos reservas legais na propriedade, com muita mata preservada, especialmente ao redor das nascentes. Também utilizamos árvores para sombreamento nos piquetes e mantemos o máximo possível da vegetação nativa.
15. Uma frase que ouvimos na fazenda resume muito do que vimos por lá: “A gente tira leite de vaquinhas felizes. Porque é isso que o mercado quer.” O que essa frase significa para você?
Nós oferecemos ao animal um conforto que ele jamais teria na natureza. É claro que ela gosta de estar ao ar livre, mas se sente muito mais confortável na ambiência do confinamento — no nosso caso, o compost barn — onde ainda tem contato com o sol, o vento… Quando deixamos o portão aberto, elas até saem, mas logo voltam por conta dos estímulos naturais que acabam gerando certo desconforto.
Se o animal apresenta saúde e boa produção, é porque está confortável — e isso é visível no nosso rebanho. Digo que nosso leite é produzido por vaquinhas felizes porque elas são tratadas como verdadeiras rainhas, protegidas até mesmo das intempéries do ambiente natural. Estão em um espaço totalmente pensado, construído e preparado para elas, onde podem ser ordenhadas no momento que quiserem.
Aquelas que não se adaptam ao robô de ordenha — o que é raro — são retiradas do sistema, para que não fiquem estressadas. Nós respeitamos isso. Quando o consumidor visita a fazenda, fica encantado com a autonomia e a liberdade de escolha que proporcionamos aos animais. Isso é criar vaquinhas felizes.
16. Em um mundo onde o consumidor quer mais do que sabor — ele quer propósito —, o quanto essa filosofia de “leite de vaquinhas felizes” é também um posicionamento de marca?
Essa filosofia influencia totalmente a nossa comunicação de marca. Acreditamos na energia. A vibração de alegria das vaquinhas ao produzirem leite de forma voluntária se transmite para o alimento — e depois para quem consome. É uma teia de energia que se fortalece desde a origem.
Comunicamos, com clareza, que todos os nossos processos buscam atender ao bem-estar dos animais sob nossa responsabilidade. Podemos — e devemos — levar isso para a embalagem, com um sorriso grande que represente a alegria e o bem-estar que o produto proporciona. Sabe aquele conforto alimentício? Aquela sensação de comida de vó? É sobre isso.
NOVIDADE! Estamos desenvolvendo um programa de turismo na fazenda, com foco em educação, cultura e transparência. Queremos mostrar os animais, a calma do campo e a verdade por trás da produção de leite. Essa experiência será uma oportunidade para aproximar o público da realidade da pecuária que respeita e cuida.
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