
Família criou os felinos em casa, conviveu com eles no quintal e virou notícia nacional; caso expôs um Brasil com leis ambientais mais brandas e terminou em impasse sobre o destino dos leões de Curitiba
Na Curitiba dos anos 1980, um caso inusitado ganhou repercussão nacional: uma família do bairro Tingui mantinha leões vivendo no quintal de casa, tratados como animais de estimação. Em 1986, a então TV Paranaense (hoje RPC) exibiu no Jornal Hoje, da Rede Globo, uma reportagem mostrando o cotidiano da família com os felinos – algo impensável nos dias atuais. O caso ficou conhecido como “leões do Tingui”.
A figura central dessa história era um empresário curitibano conhecido como “Mapo”, dono de um leão chamado Leonardo. O animal foi trazido do Rio de Janeiro ainda filhote e chegou a ser amamentado por uma cadela dálmata da família. Domesticado desde cedo, Leonardo passeava de caminhonete pelo centro da cidade, frequentava o Parque Barigui e até a Boca Maldita, atraindo olhares curiosos e manchetes inusitadas.
Convivência no quintal e curiosidade popular
Nos primeiros anos, o leão circulava pela casa sob supervisão, mas conforme cresceu, passou a viver em jaulas instaladas no quintal. Além de Leonardo, a família chegou a manter duas leoas adultas, batizadas de Leandra e Leonarda. Os vizinhos se acostumaram com a presença dos grandes felinos, embora não fosse raro ouvir rugidos ecoando pela rua.
A residência tornou-se um ponto turístico informal: curiosos passavam para espiar os animais, e alguns vizinhos relatavam que o movimento era constante. A imagem de leões vivendo no quintal de uma casa urbana se tornou parte do imaginário da região.
Leões de Curitiba: Acidente e primeira intervenção das autoridades
A tranquilidade da convivência foi quebrada quando, por volta de 1986, Leonardo deu uma patada em um garoto no Parque Barigui após ser provocado. O episódio não teve consequências fatais, mas acendeu o alerta. As autoridades recolheram o leão e o encaminharam ao Zoológico de Curitiba.
Apesar disso, as leoas permaneceram com a família. Já com o Ibama criado em 1989 e a fiscalização ambiental mais rigorosa, o dono regularizou a posse dos animais. As jaulas foram avaliadas pela Delegacia do Meio Ambiente, que confirmou estarem dentro dos padrões de segurança e constatou que os felinos eram bem cuidados.
O desafio de doar as leoas
Em 2004, o proprietário decidiu mudar-se para um condomínio fechado, mas a presença das leoas não foi aceita pelos novos vizinhos. Iniciou-se então uma busca para doá-las. Zoológicos, circos e até o Beto Carrero World recusaram a oferta, alegando falta de necessidade ou estrutura para recebê-las.
O caso voltou à imprensa, que destacou a dificuldade de encontrar um lar para felinos tão grandes e já acostumados ao convívio doméstico. O destino final das leoas não foi amplamente divulgado, mas acredita-se que tenham permanecido sob cuidados até morrerem de velhice.
Um retrato de outra época
O caso dos leões do Tingui é um marco na memória curitibana. Ele revela um período em que leis ambientais eram menos rigorosas e em que manter animais exóticos em áreas urbanas não era fiscalizado como hoje. Também ilustra o fascínio e o risco da convivência com animais selvagens fora do seu habitat natural.
Hoje, seria praticamente impossível repetir tal feito sem intervenção imediata das autoridades. Mas, na Curitiba dos anos 80, a cena de um leão passeando pelas ruas foi real — e ficou registrada para sempre na história da cidade. Confira abaixo a reportagem dos: Leões de Curitiba.
Fontes:
- Jornal Hoje – RPC/Globo (1986)
- Portal Memória Paranaense – José Wille
- Curitiba Histórica – Fotografia de Volnei L. da Silva
- Folha de Londrina – 06/05/2004
- Tribuna do Paraná – 07/02/2004
- Lei de Proteção à Fauna – Lei nº 5.197/67
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