
O principal embate gira em torno da alta dos juros, da baixa execução orçamentária e da maquiagem nos números divulgados
Anunciado sob holofotes no Palácio do Planalto, o Plano Safra 2025/2026 chegou com promessas de recorde: R$ 516,2 bilhões em crédito para o agronegócio brasileiro. Mas, à medida que os detalhes vieram à tona, o que era para ser um anúncio histórico transformou-se em um ponto de tensão entre o governo e representantes do setor produtivo. O principal embate gira em torno da alta dos juros, da baixa execução orçamentária e da maquiagem nos números divulgados.
A senadora e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina foi uma das primeiras a contestar publicamente a narrativa oficial. Em suas redes sociais, ela alertou que os juros praticados no Plano Safra empresarial podem chegar a até 14% ao ano, o que compromete a viabilidade de investimentos no campo. Segundo a parlamentar, “os juros do Plano Safra bateram lá em cima”, e apenas 1,5% do volume anunciado representa recursos efetivamente novos.
Tereza também chamou atenção para um dado preocupante: no ciclo anterior (2024/2025), cerca de 30% dos recursos prometidos sequer foram desembolsados até maio. “Os números da execução orçamentária não mentem”, disparou. Para ela, o governo usa o Plano como peça de marketing, sem entregar o que realmente foi prometido.
Do outro lado, o governo rebate. O Ministério da Agricultura afirma que o volume de recursos é o maior da história, com destaque para os R$ 89,2 bilhões destinados à agricultura familiar — com taxas que variam de 0,5% a 3% ao ano. Também defende que, mesmo com a Selic elevada a 15%, conseguiu manter algumas linhas com juros abaixo do mercado, principalmente para pequenos produtores e práticas sustentáveis.
A verdade sobre o Plano Safra que o governo esconde
A realidade, no entanto, revela um quadro mais complexo. Embora o número total impressione, o crescimento nominal de 1,5% em relação ao ano anterior fica abaixo da inflação acumulada nos últimos 12 meses, que já supera 4,8%. Ou seja, em termos reais, houve recuo. Além disso, grande parte dos recursos ainda depende da liberação efetiva ao longo do ciclo — o que historicamente tem ficado aquém do prometido.
Outro ponto crucial é o custo do crédito. Mesmo com subsídios pontuais, as taxas médias para o crédito rural empresarial variam entre 10% e 14% ao ano, refletindo diretamente o impacto da política monetária do Banco Central. A alta da Selic, motivada pela tentativa de conter a inflação, torna o financiamento rural mais caro e afasta pequenos e médios produtores das linhas de investimento.
Na prática, o Plano Safra 25/26 expõe uma contradição: ao mesmo tempo em que é apresentado como um pacote robusto e inclusivo, carrega limitações que comprometem seu alcance real. Os juros altos e o baixo ritmo de liberação de recursos levantam dúvidas sobre sua efetividade no estímulo à produção agropecuária.
Diante desse cenário, cresce o sentimento de frustração no setor. Para muitos produtores, o Plano anunciado pelo governo parece mais uma estratégia de marketing do que uma política pública sólida. Os números estão no papel — mas, no campo, o crédito continua distante e cada vez mais caro.
Compre Rural segue acompanhando de perto os desdobramentos desse embate entre discurso político e realidade econômica, trazendo ao produtor o que realmente importa: informação com base em dados verificáveis, sem filtros ou narrativas. Afinal, é no campo que o impacto do Plano Safra será sentido — e não nos palanques.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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