Abate de vacas leiteiras traz “crise” e elevação dos preços

A restrição de oferta do leite – e, consequentemente, dos lácteos – é parcialmente explicada pela entressafra da produção. Preços no campo podem ultrapassar os R$ 3,00/L; Veja!

Os preços do leite no campo, assim como nos mercados, seguem em alta, devido à menor produção – PREÇO AO PRODUTOR ACUMULA ALTA REAL DE 20,6% NO ANO, aponta Cepea. O volume de leite cru industrializado pelos laticínios brasileiros diminuiu 10,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2021. Com isso, as indústrias de laticínios seguem em disputa pela compra do leite cru, matéria-prima para a produção de lácteos, para tentar evitar capacidade ociosa de suas plantas.

A forte queda de produção de leite no país neste ano, assim como a redução das importações do produto, que já caiu cerca de 30% no período, resultaram em falta de lácteos no mercado e na elevação do preço ao consumidor. De acordo com o sócio-diretor da Milkpoint Mercado, Valter Galan, essa alta deve chegar ao campo, fazendo o preço ao produtor superar R$ 3 por litro.

“Para o pagamento de julho, referente ao produto comercializado em junho, deve ter uma elevação de R$ 0,40 a R$ 0,50 por litro na média [levantada pelo] Cepea, que foi 2,68 [por litro] no último mês. Então deve ultrapassar os R$ 3 para julho”, diz.

A restrição de oferta do leite – e, consequentemente, dos lácteos – é explicada pela entressafra da produção. Com o inverno e clima mais seco, a qualidade e disponibilidade das pastagens cai e, por isso, a alimentação do rebanho é afetada, levando à queda na produção. E é preciso destacar que, neste ano, o fenômeno climático La Ninã também intensificou os efeitos sazonais de diminuição da oferta.

Ainda que o componente climático seja importante para explicar esse cenário, não seria exagero dizer que o principal fator que explica essa alta substancial dos preços é, de fato, o aumento dos custos de produção. Segundo pesquisas do Cepea, o Custo Operacional Efetivo (COE) da atividade esteve em alta nos últimos três anos – de janeiro de 2019 a maio de 2022, o avanço no COE foi de expressivos 56%.

Observa-se, assim, que toda estrutura de produção foi se encarecendo nos últimos anos, espremendo as margens dos produtores. Diante desse cenário, muitos pecuaristas enxugaram investimentos ou saíram da atividade.

Foto: Divulgação

Para assegurar alguma rentabilidade, produtores também recorreram ao abate de animais, atraídos pelos elevados preços da arroba. De acordo com dados do IBGE, o número de vacas e novilhas abatidos no primeiro trimestre de 2022 aumentou 11,4% e 17,2%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.

Levando-se em conta que a produção de leite é uma atividade de ciclo operacional longo, pode-se dizer, portanto, que esse cenário observado atualmente é resultado de um longo período de aumentos consistentes nas cotações dos insumos agropecuários, que corroeu margens de produtores e de laticínios por muitos meses.

Agentes do setor consultados pelo Cepea relatam que essas altas nos preços dos lácteos vinham sendo represadas, já que a demanda brasileira está bastante fragilizada. Contudo, a redução drástica da oferta levou a uma situação generalizada de queda nos estoques de derivados lácteos, o que tem sustentado o avanço dos preços ao consumidor.

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Acompanhando a menor oferta e aumento dos preços no campo, os preços do leite longa vida bateram recorde nos mercados atacadista e varejista.

O que espera o Cepea

A expectativa do setor é de que os preços no campo sigam firmes, à medida que a oferta continuou baixa em junho. Grande parte desse aumento dos preços no Spot ocorreu da primeira para a segunda quinzena do mês, quando o preço médio subiu 20,8% e atingiu R$ 4,16/litro.

Com a matéria-prima mais cara e estoques enxutos, os derivados lácteos seguiram fortemente valorizados em junho. De acordo com a pesquisa do Cepea/OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), na negociação entre laticínios e canais de distribuição do estado de São Paulo, os preços médios mensais do leite UHT e da muçarela avançaram quase de 18% de maio para junho.

A demanda doméstica vem mostrando uma leve melhora com o aumento de subsídios e desemprego menor. “Este cenário de oferta em queda e demanda levemente melhor tem permitido reajuste de preços nos produtos lácteos, o que tem trazido um alívio de curto prazo para a indústria. Porém, o cenário macroeconômico continua incerto, com inflação (IPCA) projetada para 2022 próxima de 8% segundo o relatório Focus e as incertezas sobre o fim do atual ciclo de aperto monetário do BACEN”, a informação foi divulgada pelo Rabobank, em seu novo relatório.

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