Acelen colhe os primeiros frutos do plano de R$ 16 bilhões para turbinar a produção de macaúba

Projeto da Acelen Renováveis, controlada pelo fundo Mubadala Capital, já investiu R$ 500 milhões em pesquisa e desenvolvimento, elevando a germinação da palmeira nativa de 3% para 70%. Empresa mira 1 bilhão de litros de óleo por ano até 2038 e aposta na agricultura familiar como parceira estratégica.

No mercado brasileiro de biocombustíveis, o nome da Acelen Renováveis tem ganhado destaque com um dos projetos mais ousados já anunciados no setor. Controlada pelo fundo Mubadala Capital, braço de investimentos do fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, a empresa está investindo US$ 3 bilhões — o equivalente a R$ 16 bilhões — para construir uma cadeia integrada de produção do óleo de macaúba, uma oleaginosa nativa do Brasil com altíssimo potencial energético e ambiental.

O plano foi detalhado em reportagem publicada pela AgFeed, que acompanha os desdobramentos desse investimento bilionário voltado à transição energética e ao fortalecimento da produção sustentável de biocombustíveis no país.

Avanços científicos e o impacto da pesquisa

Em entrevista à AgFeed, o diretor de Agronegócios da Acelen Renováveis, Victor Barra, explicou que a companhia já destinou R$ 500 milhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para aprimorar o cultivo da macaúba. O resultado mais expressivo até agora foi a elevação da taxa de germinação das sementes de 3% para 70%, um avanço obtido em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

Historicamente, o processo de germinação da macaúba era extremamente delicado, exigindo um corte cirúrgico na casca da semente — o chamado opérculo —, o que tornava o cultivo lento e vulnerável à contaminação. Com o novo protocolo, desenvolvido pela Acelen e a Unimontes, essa etapa foi eliminada: a casca é apenas enfraquecida, permitindo a entrada de oxigênio e favorecendo o brotamento natural.

“Reduzimos as perdas e trazemos uma mudança relevante na produção de mudas. Isso permite escalar com mais eficiência o processo até as mudas acabadas que vão ao campo”, destacou Barra à AgFeed.

O Agripark e a consolidação da macaúba como ativo do futuro

Em agosto de 2024, a empresa inaugurou o Acelen Agripark, em Montes Claros (MG), considerado um marco tecnológico no setor. O investimento foi de R$ 314 milhões, sendo R$ 258 milhões financiados pelo BNDES, e a estrutura tem capacidade para produzir 10,5 milhões de mudas por ano.

Instalado em uma área de 138 hectares, o Agripark é descrito como “um divisor de águas”, pois conecta a ciência ao campo. A unidade também abriga uma planta piloto capaz de extrair até duas toneladas de óleo por hora, essencial para consolidar a etapa industrial do projeto.

A Acelen aposta na macaúba porque a planta pode produzir de sete a dez vezes mais óleo por hectare que a soja, o que representa uma enorme vantagem em produtividade e sustentabilidade.

Expansão agrícola e integração com produtores familiares

Nos próximos anos, o foco da empresa será expandir o cultivo para até 180 mil hectares de áreas próprias — todas em pastagens degradadas, o que reforça o caráter ambientalmente responsável do projeto.

Parte das áreas já começou a ser cultivada na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, onde a empresa mantém uma fazenda-modelo com 350 hectares, que deve chegar a 1,5 mil hectares até o próximo ano.

Além disso, a Acelen lançou o programa “Acelen Valoriza”, voltado à integração com a agricultura familiar. Dez famílias já foram selecionadas para participar da iniciativa, que garante fornecimento de mudas, transferência de tecnologia e compra assegurada dos frutos.

Cadeia integrada e metas até 2038

O projeto envolve toda a cadeia de valor, desde a produção agrícola até a refinaria industrial em Mataripe (BA), adquirida pela empresa em 2021 por US$ 1,6 bilhão. Nessa unidade será construída uma biorrefinaria voltada à produção de biodiesel e combustível sustentável de aviação (SAF) — combustível estratégico na descarbonização do setor aéreo.

A meta é que, até 2038, o parque de produção esteja operando plenamente, atingindo a marca de 1 bilhão de litros de óleo por ano, além de gerar coprodutos de alto valor agregado, como biochar, usado em fornos e na nutrição animal.

De acordo com estimativas da própria Acelen, o projeto deve gerar até 85 mil empregos diretos e indiretos e movimentar US$ 40 bilhões na economia brasileira nas próximas décadas.

Sustentabilidade e protagonismo global nos biocombustíveis

A escolha da macaúba como principal matéria-prima reflete a visão da Acelen de conciliar rentabilidade, inovação e impacto ambiental positivo. O cultivo da palmeira contribui diretamente para o sequestro de carbono, com potencial estimado de 160 milhões de toneladas de CO₂ ao longo do ciclo produtivo — um volume comparável às emissões anuais de países inteiros.

A AgFeed destaca que, com o avanço dessa agenda, o Brasil reforça sua posição como líder global na produção de biocombustíveis, consolidando um modelo de energia limpa e renovável ancorado em inovação e inclusão rural.


Fonte: AgFeed — “Os primeiros frutos do plano de R$ 16 bi da Acelen para turbinar a produção de macaúba com foco em biocombustíveis”, por Gustavo Lustosa, publicado em 9 de outubro de 2025.

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