
A adubação é uma das ferramentas mais poderosas para elevar a produtividade da pecuária. Mas sua eficácia não depende apenas da escolha do adubo ou da dose aplicada, depende também do manejo inteligente após a aplicação
A adubação de pastagens é uma prática essencial para manter a produtividade e a qualidade da forragem. No entanto, uma dúvida frequente entre os produtores é: quanto tempo esperar para liberar o gado após a aplicação?
A resposta não é única, pois depende de fatores como tipo de fertilizante utilizado, condições do produto (farelado ou empedrado), método de aplicação e clima no momento do manejo. Fertilizantes fosfatados e corretivos, por exemplo, não oferecem risco imediato ao rebanho e podem ser aplicados com os animais na área. Já os nitrogenados e potássicos exigem cautela, pois o consumo acidental pode causar intoxicações graves.
Tipos de adubos: quais oferecem risco e quais não
Nem todo fertilizante apresenta o mesmo nível de risco para os animais. Entender essas diferenças é essencial para tomar a decisão certa:
- Corretivos e fertilizantes fosfatados (calcário, fosfatos, MAP, etc.)
São seguros: podem ser aplicados com os animais na área.
Não apresentam risco imediato de intoxicação, pois não são palatáveis.
Geralmente não exigem intervalo de reentrada. - Fertilizantes nitrogenados e potássicos (ureia, nitrato de amônio, cloreto de potássio, misturas NPK):
Oferecem risco real. Se ingeridos acidentalmente, podem causar distúrbios nutricionais graves, como intoxicação por ureia, que pode ser fatal.
O perigo aumenta quando o produto está empedrado: blocos endurecidos podem despertar a curiosidade ou o apetite depravado do animal.
Além do risco à saúde, a entrada precoce no piquete pode reduzir a eficiência da adubação, já que parte do fertilizante ainda não foi incorporado ao solo.
Recomendação técnica: fertilizantes empedrados devem ser quebrados antes da aplicação, garantindo que estejam farelados e bem distribuídos.
O intervalo de segurança: quanto tempo esperar?
A resposta não é única: depende do tipo de produto, do estado físico do adubo e das condições ambientais.
- Corretivos e fosfatados:
- O gado pode permanecer na área sem risco.
- Não há necessidade de esperar chuva ou intervalo de reentrada.
- Nitrogenados e potássicos:
- Se o produto estiver bem farelado e aplicado uniformemente, pode haver liberação do gado sem grandes riscos, mas sempre com cautela.
- O ideal é aguardar uma chuva leve ou irrigação, que ajuda a incorporar o fertilizante ao solo, reduzindo a volatilização (no caso da ureia) e o risco de ingestão direta.
- Quando houver dúvida, respeite o REI (intervalo de reentrada) indicado no rótulo. Esse prazo varia entre horas e dias, conforme a formulação.
- Em dias úmidos ou com vento, a recomendação é ampliar o cuidado, pois há maior chance de resíduos ficarem aderidos à forragem.
Regra prática usada no campo: liberar o gado somente após a primeira chuva que incorpore o adubo ao solo.
Riscos de não respeitar o intervalo
Soltar o gado antes do tempo pode trazer consequências sérias:
- Para os animais:
- Intoxicação por ureia (salivação, diarreia, tremores, abortos e até morte).
- Distúrbios digestivos pela ingestão de cloreto de potássio.
- Queda de desempenho por estresse metabólico.
- Para o produtor:
- Perda financeira pelo consumo do fertilizante, que poderia gerar forragem.
- Redução da resposta do pasto à adubação.
- Maior risco de passivos ambientais (volatilização e perdas para o lençol freático).
Boas práticas de manejo pós-adubação
- Planejamento: escalonar os piquetes para que sempre haja área disponível para pastejo enquanto outra está em descanso após a adubação.
- Armazenamento correto: evitar umidade para impedir empedramento do fertilizante.
- Equipamento calibrado: distribuição uniforme garante eficiência e reduz riscos.
- Rotação de pastagens: facilita respeitar o intervalo sem comprometer a oferta de forragem.
- Monitoramento do rebanho: qualquer sinal de intoxicação exige retirada imediata e consulta veterinária.
- Registro e rastreabilidade: anotar datas de aplicação, produtos usados e prazos de reentrada garante segurança e profissionaliza a gestão da fazenda.
Casos reais e retorno econômico com a adubação de pastagens
Estudos da Embrapa mostram que a adubação nitrogenada pode dobrar a capacidade de suporte da pastagem, passando de 1,5 UA/ha para mais de 3 UA/ha em sistemas rotacionados.
Em termos econômicos, isso pode significar até 8 arrobas a mais por hectare/ano em recria, ou 30% mais litros de leite em sistemas intensivos.
Por outro lado, a entrada antecipada do gado pode anular parte desse ganho, transformando o adubo em custo sem retorno.
A adubação é uma das ferramentas mais poderosas para elevar a produtividade da pecuária. Mas sua eficácia não depende apenas da escolha do adubo ou da dose aplicada, depende também do manejo inteligente após a aplicação.
Produtor, lembre-se: cada saco de fertilizante é um investimento que pode se converter em arrobas ou em prejuízo. Soltar o gado na hora certa protege o rebanho, garante retorno econômico e assegura sustentabilidade ao sistema.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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