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Agricultores preferem soja no lugar da cana

Muitos produtores de cana de açúcar almejam migrar para o cultivo da soja, cultivo preferido do agricultor brasileiro.

por Amélio Dall’Agnol

Muitos produtores de cana de açúcar, principalmente os da Região Nordeste, almejam migrar para o cultivo da soja, igual fizeram no passado muitos produtores de café. A pergunta óbvia é: por quê? E a resposta, também óbvia, é: porque remunera mais. A soja é o cultivo preferido do agricultor brasileiro. Responde por mais da metade da área cultivada com lavouras anuais do país: 36 milhões de hectares (Mha), ante uma área total cultivada de 62 Mha.

A preferência se dá porque a soja é um produto de fácil comercialização, visto ter poucos competidores e muitos consumidores, o que gera muita demanda, responsável por manter os preços de mercado mais estáveis e remuneradores. Dentre os principais grãos cultivados globalmente, a soja é o produto cuja demanda mais cresce em nível mundial, dada sua importância como matéria prima proteica na produção de carnes, cujo consumo aumenta em paralelo com o crescimento da economia, a qual promove um maior consumo de proteínas animais, geradas a partir das proteínas vegetais presentes no farelo da soja, em detrimento do consumo de grãos; arroz e feijão, principalmente.

Uma aparente desvantagem da cana é ser cultura permanente (5 a 10 anos), enquanto que a soja é cultura anual (4 a 6 meses). Se a aposta do agricultor for pela cana, ele não terá a opção de arrepender-se e trocar de cultivo após um ano de lavoura. O sojicultor, por outro lado, poderá facilmente trocar a soja por outra cultura, após a primeira safra.

Dentre as causas da migração de muitos produtores de cana para o cultivo da soja está no persistente excesso de oferta de açúcar no mercado internacional, o que tem mantido os preços muito baixos, deixando pouca margem de lucro para os canavieiros, que acumularam prejuízos nos últimos anos. As recentes tarifas chinesas sobre o açúcar pioraram a situação e desestimularam ainda mais os canavieiros, que não vislumbram, no curto prazo, a possibilidade de reação do mercado. A migração dos produtores de cana para a soja só não acontece com maior intensidade por causa do temor do canavieiro em abandonar o cultivo que ele conhece e aventurar-se em lavoura que ele desconhece, podendo piorar ainda mais a sua situação. O freio à mudança também se dá porque o maquinário utilizado em ambas as culturas é distinto, exigindo grande investimento para realizar com êxito essa transição.

A maior lucratividade na produção de soja frente à cana parece evidente, fazendo com que, não apenas os canavieiros nordestinos estejam avaliando a possibilidade de migrar para a produção de soja, como, também, produtores do Sudeste estejam considerando tal possibilidade, se não no total da área, pelo menos em parte da lavoura hoje ocupada com canaviais necessitando de reforma, em função da baixa produtividade. A prova dessa transição está no aumento de 2,0 Mha nas lavouras de soja nos últimos dois anos, ante a redução em 400 mil hectares nas lavouras de cana.

Se esta onda se intensificar, muitas usinas se verão na contingência de fechar as portas por falta de matéria-prima para moagem. Sessenta usinas de cana de açúcar fecharam as portas na última década como consequência do desestímulo proporcionado pela política de preços baixos do etanol estabelecido no governo Dilma Rousseff e outras poderão fechar por falta de produtores interessados em continuar produzindo cana. Uma alternativa para manter os canavieiros na atividade seria remunerar melhor a produção, mas o mercado internacional do açúcar não favorece tal alternativa.

A tarifa de 25% imposta pela China sobre a soja importada dos EUA, em retaliação às taxas impostas aos produtos chineses exportados para aquele país, deve favorecer ainda mais o cultivo da soja no Brasil, pois incrementará a demanda chinesa pela soja brasileira e afetará positivamente os preços do mercado.

Tudo o que um agricultor mais busca na sua atividade é o lucro, daí a busca pela alternância de cultivos.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja via Blog da Embrapa no Canal Rural

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