Agricultura agoniza na Argentina com seca histórica; fotos

Seca no país ficará registrada na história, segundos agricultores; PIB da Argentina será afetado e perdas podem ultrapassar US$ 10 bilhões

A estiagem prolongada com temperaturas extremamente altas, e segundo produtores uma das maiores da história, já atingiu níveis catastróficos e semana após semana deixa as estimativas de produção obsoletas, os números esperados para a safra continuam sendo refeitos porque há registros de perdas de 100% de lavouras por toda a Argentina.

Temores de perdas estão tomando conta do governo do presidente Alberto Fernández, com as bolsas de grãos alertando que a deterioração de até 2 pontos do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. E isto causaria danos significativos aos cofres do estado da Argentina e suas chances de cumprir as metas fiscais delineadas em seu acordo de dívida multibilionária com o Fundo Monetário Internacional.

Segundo estimativas da Bolsa de Valores de Rosário, o impacto da seca apagaria 2,2 pontos do PIB até 2023. Um relatório apresentado pela Bolsa cortou as estimativas para a colheita de trigo, soja e milho em 28,5 milhões de toneladas, equivalente a 23% da produção inicial esperada.

O custo da seca de 2022/23 já chega a US $10,425 bilhões para os produtores de soja, trigo e milho e apagaria 2,2 pontos da estimativa do PIB deste ano, alertou, acrescentando que a situação “pode piorar se o déficit de chuvas continuar”.

“Quando falamos em perda de receita líquida do setor produtor, estamos nos referindo à diferença entre a margem líquida do produtor estimada no momento da semeadura, com rendimento médio em condições climáticas normais, e a que se espera até hoje, em decorrência da seca”, explicou a entidade comercial de Rosário.

“Essa análise leva em conta tanto a perda de rendimento, quanto os hectares que foram semeados e não podem ser colhidos, e aqueles que nem puderam ser semeados por falta de umidade”, acrescentaram.

A menor receita com as exportações também tem um efeito cascata em fretes, serviços financeiros e intermediários, assim como uma menor demanda no setor de construção, etc. É o que se chama de efeito multiplicador da agricultura sobre o consumo na Argentina. No início desta semana, a bolsa de Rosário disse que a Argentina perdeu metade da safra de soja em sua principal área de cultivo, o fértil pampa húmeda, devido à seca.

“Embora se soubesse que seria uma safra muito difícil por causa da estiagem, o que se viu superou os piores pesadelos dos produtores”, disse a bolsa. Alertando que “as perdas econômicas serão muito grandes”, a bolsa de grãos disse que “há queda na área semeada devido à extrema falta de água” e a expectativa é de que “pode haver produtores que não colham nada este ano.”

Associações e instituições de classe já têm, há tempos, se organizado e pedido que a situação seja revista pelas autoridades governamentais, porém, ainda sem sucesso. O pleito da Coninagro (Confederação Intercooperativa da Agricultura) é de que as retenciones não sejam pagas diante das perdas provocadas pela estiagem. 

A situação é grave. Há algum tempo, quando solicitamos uma reunião com o ministro (da Economia, Sergio Massa), tivemos uma série de cobranças, mas agora já temos a confirmação do prejuízo: a campanha do trigo acabou e as perdas estão entre 40% e 50%, segundo diferentes estimativas”, disse Elbio Laucirica, presidente da Coninagro, que já estima uma perda de, pelo menos, um quarto da produção nacional de soja.

Alguns depoimentos

Através das redes sociais alguns argentinos relatam o desespero. É o caso do Julian Imhoff, que fala da pouca chuva que cai no solo de sua região. Segundo ele a safra 2022/2023 ficará lembrada nos livros – “O ano passado não foi tão ruim como o início de 2023. Em 2021 somamos 900mm de chuva no ano, em 2022 somamos 510mm no ano, em janeiro deste ano apenas 10mm.”

“A Argentina sofre a pior seca dos últimos 60 anos! O dano está feito. Embora em algumas regiões estejamos em datas de plantio, a produção deste ano cairá fortemente. Na soja, produzimos cerca de 52 milhões de toneladas, a produção estimada para este ano é de 37 milhões” – Edgard Ramirez – @World_Farmers.

Foto: Renzo Basso
milho seco na argentina - Renzo Basso
Foto: Renzo Basso
soja secando na argentina - Marcelo Risso
Foto: Marcelo Risso
Foto: Julian Imhoff
Foto: Julian Imhoff

Com informações da Agrolink

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