Agro deve perder cerca de US$ 5,8 bilhões com tarifa de Trump, aponta estudo

Estudo prevê impacto direto de US$ 5,8 bilhões no setor do Agro com tarifa de Trump; PIB pode encolher até 0,5 ponto percentual, e suco de laranja será o mais prejudicado

O “tarifaço” anunciado pelo presidente Donald Trump contra o Brasil, com alíquota de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos, já tem seus primeiros impactos estimados. Segundo um estudo obtido pela CNN Brasil, o agronegócio brasileiro pode perder até US$ 5,8 bilhões por ano, com efeito direto sobre as receitas de exportação, principalmente nos segmentos de suco de laranja, madeira, açúcar e carne bovina. O PIB pode encolher até 0,5 ponto percentual com a tarifa de Trump.

A medida, prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto de 2025, se concretizada, promete tensionar ainda mais as relações comerciais entre os dois países, afetando o crescimento econômico e a balança comercial brasileira. Segundo o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “Nós não estamos em uma guerra tarifária. A guerra tarifária vai começar na hora que eu der a resposta ao Trump, se não mudar de opinião. Porque as condições que o Trump impôs não foram condições adequadas”, pontuou.

Impacto imediato no agro: 48% de queda nas receitas

Segundo o estudo citado pela CNN, o Brasil exportou US$ 12,1 bilhões em produtos do agronegócio para os EUA em 2024. Com base na elasticidade das importações americanas, estima-se uma redução de 48% nas receitas com o novo imposto, o que representa uma perda de US$ 5,8 bilhões apenas para o agro.

Os autores do levantamento apontam que o choque tarifário será “integralmente transmitido aos preços de importação”, elevando proporcionalmente o custo dos produtos brasileiros nos EUA e diminuindo sua competitividade. Em alguns casos, como o do suco de laranja não congelado, a tarifa tornaria o produto comercialmente inviável no mercado norte-americano.

Setores mais afetados com tarifa de Trump

A seguir, os setores com maior percentual de perda nas exportações aos EUA, conforme a estimativa do estudo:

  • Suco de laranja não congelado, não fermentado: 100%
  • Obras em madeira e açúcar sólido refinado: 100%
  • Portas e caixilhos de madeira: 93%
  • Álcool etílico: 71%
  • Sebo de bovinos, ovinos ou caprinos: 50%
  • Açúcar de cana (outros) e carne bovina congelada: 33%
  • Café verde (não torrado): 25%
  • Polpa química de madeira: 25%

Enquanto alguns produtos como o café tendem a sentir menos o impacto — por causa da alta demanda global e baixa substituição —, outros como o etanol e o açúcar enfrentam riscos significativos de retração.

PIB pode cair até 0,5 ponto percentual

O efeito do tarifaço vai além do agro. Economistas consultados por O Globo estimam que o impacto pode reduzir o crescimento do PIB brasileiro em até 0,5 ponto percentual em 2025, com projeções que antes variavam entre 2% e 2,4%.

Para André Valério, economista do Inter, a economia brasileira é relativamente fechada, mas o setor agropecuário e industrial será penalizado. Já Gustavo Sung, da Suno Research, estima que a queda no PIB fique entre 0,2 e 0,3 ponto percentual, atingindo setores mais expostos como carnes e sucos.

Efeito cambial e inflação

Segundo estudo do Santander, o dólar precisaria se desvalorizar 5,5% (de R$ 5,40 para R$ 5,75) para compensar a perda nas exportações. Mesmo assim, o banco projeta uma perda comercial de até US$ 9,4 bilhões em 12 meses, dos quais US$ 3,9 bilhões ocorreriam ainda em 2025.

Do lado da inflação, o efeito imediato seria pequeno: queda de 0,10 ponto percentual no IPCA, com dissipação ao longo do ano. Contudo, um câmbio persistentemente alto poderia elevar o IPCA entre 1,5 e 2 pontos, caso o dólar se mantenha acima de R$ 5,70.

Governo e mercado reagem

O governo brasileiro, por meio do vice-presidente Geraldo Alckmin, já articula reuniões com setores da indústria e do agro para debater o cenário. Além disso, o presidente Lula assinou decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade, dando margem para eventuais retaliações do Brasil às medidas protecionistas dos EUA.

Empresários e economistas ainda aguardam os próximos passos de Trump, cuja postura comercial agressiva já gerou incertezas em ciclos anteriores. Claudio Considera, do FGV Ibre, alerta que a natureza política das tarifas dificulta previsões econômicas mais precisas.

Caminhos possíveis para o Brasil, especialmente o Agro

Mesmo diante das perdas com a tarifa de Trump, especialistas acreditam que o Brasil pode redirecionar parte da produção para o mercado interno ou buscar novos compradores internacionais, especialmente para itens como carne e café, que seguem altamente demandados globalmente.

O Brasil pode perder receita, mas consegue achar outros clientes. A gente consegue se adaptar”, afirma o economista Felipe Kotinda, do Santander.

Se implementado, o tarifaço de Trump pode se tornar um dos maiores desafios ao agronegócio brasileiro dos últimos anos. Com impacto direto nas exportações e efeitos colaterais sobre o PIB, câmbio e inflação, a medida intensifica a necessidade de diversificação de mercados e de políticas de apoio aos setores mais atingidos.

Conteúdo produzido com base nas matérias veiculadas pela CNN Money e Jornal Globo

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