
José Donizete Paifer, referência do agronegócio brasileiro fala sobre o aumento dos preços dos alimentos e endividamento dos produtores rurais; ‘custo Brasil’ está cobrando seu preço
O cenário atual para os produtores rurais brasileiros é extremamente desafiador devido ao aumento exorbitante dos juros, que encarece o crédito agrícola e pressiona os custos de produção. Com a Selic em patamares elevados, os financiamentos para plantio, maquinários e insumos ficam mais caros, reduzindo a margem de lucro e aumentando o endividamento no campo.
Pequenos e médios produtores são os mais afetados, pois têm menor acesso a linhas de crédito subsidiadas e enfrentam dificuldades para rolar dívidas. Além disso, a alta dos juros desacelera a economia, impactando a demanda por commodities e pressionando os preços.
Sem políticas de apoio ou redução das taxas, muitos agricultores podem enfrentar insolvência (temos recorde de pedidos de recuperações judiciais), redução da produção e até abandono de atividades, ameaçando a segurança alimentar e a competitividade do agronegócio brasileiro.
Esses fatores corroboram para o aumento dos preços dos alimentos. Quem frequenta o supermercado e já precisou optar entre um produto e outro sabe que a situação não é das melhores: o ‘custo Brasil’ está pesando no bolso do consumidor. Nem sempre o valor do produto é definido por quem o produz.
Quem chamou a atenção para essa situação crítica foi José Donizete Piffer, um dos principais empresários e referências do agronegócio brasileiro. Em um vídeo gravado a pedido de sua filha, Carol Piffer, e publicado em suas redes sociais, ele detalhou os desafios enfrentados pelo setor.
“Pedi para o meu pai, que trabalha no campo, para trocar uma ideia sobre o que está por trás de tudo isso. O ponto de vista de quem produz o alimento que vai para a sua mesa” – disse ela na publicação.
“(…) essa situação, se não houver uma mudança drástica, a tendência é piorar. Eu resolvi gravar esse vídeo para esclarecer alguns pontos a respeito do que está acontecendo na inflação de alimentos, e é interessante a gente colocar alguns números. Cerca de 90% dos produtores hoje estão endividados, agora traduzindo isso em números, é muito fácil de falar” – alerta o empresário.
Segundo o empresário o país saiu de uma taxa de juros de 6% ao ano no governo passado, para 12% ao ano [atualmente em 14,25% ao ano], uma alta de 100% na taxa de juros, incidindo no custo nosso de produção. “Isso, se o produtor tiver um bom relacionamento com o banco, porque se não tiver, ele é obrigado a ir buscar nas CPRs (Cédula do Produto Rural), que chegam a quase 18%, ou seja, 300% de aumento nos últimos 2 anos” – lamentou ele.
José Donizete também trouxe alguns números interessantes sobre a dificuldade de aquisição de máquinas e implementos agrícolas, segundo ele, até antes da pandemia do covid-19 era possível adquirir um trator de 100 HPs com 1.300 sacos de soja, hoje são preciso 3.600 sacos.
“Pagávamos uma taxa anual de juros, em torno de 8 mil reais, e hoje, esse mesmo trator vai custar 80 mil reais, só de juros por ano. Então, é o custo Brasil que está pegando, por conta de uma administração ruim, e isso fez com que os juros explodissem, [os produtores] estão pagando a conta, levando-se em conta que todos esses preços, principalmente de máquinas agrícolas, são lastreados pelo preço do dólar, então já reflete-se 30%, 40% de aumento, ou mais, por conta disso” – disse o produtor.
O produtor também destacou a crescente carga tributária que impacta não apenas os produtos agrícolas, mas também os insumos essenciais para o setor. “O nosso ilustre Ministro da Agricultura [Carlos Fávaro] disse que o preço do diesel no Brasil é o mais barato do mundo, e talvez até ele tenha razão, até a ponta da saída da refinaria, porque depois que ele chega na bomba, ele dobra o preço, chegando a custar valores superiores a R$ 6″ – lamentou ele.
O produtor também destacou que o custo de produção no país explodiu. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), divulgou no final do ano passado que as vendas de tratores e máquinas agrícolas, teve um recuo de 23%, quase 25%, no ano de 2024, ou seja, não está havendo o reinvestimento para a produção de comida no agronegócio.
“O impacto disso no futuro pode ser pior ainda, além de ter alimento mais caro, poderemos presenciar a escassez de alimento, então são coisas preocupantes de um desgoverno com pessoas ruins ocupando cargos relevantes” – alertou o produtor.
José Donizete também direcionou críticas ao atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “Temos um ministro que foi reprovado em suas gestões anteriores e que, na minha avaliação, deveria ter formação sólida em finanças e economia, em vez de ocupar o cargo por indicação política. É preciso deixar claro que o alto custo atual dos alimentos é reflexo direto do ‘Custo Brasil’, que só tem se agravado”, afirmou ele.
O produtor conclui destacando que a relativa estabilidade do dólar próximo a R$ 5,00 deve-se em grande parte ao agronegócio. “O setor continua sendo o principal responsável pela entrada de bilhões de dólares na economia brasileira, especialmente neste período de colheita da safra”, afirmou.
“Sem o agronegócio trazendo divisas para o país, estaríamos lidando com um dólar entre R$ 8 e R$ 10, não há dúvidas sobre isso. Temos um futuro promissor pela frente, mas é crucial implementar mudanças urgentes no país” – finalizou o produtor.
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