
Dependência de até 95% do potássio estrangeiro expõe fragilidade do agronegócio brasileiro e acende alerta sobre soberania nacionaL; “se o mundo quiser parar o Brasil, é só segurar a importação do NPK”, alertou
O Brasil, potência mundial na produção de alimentos e responsável por cerca de 27% do Produto Interno Bruto (PIB) quando considerado o conjunto do agronegócio, pode ter sua força paralisada por um fator muitas vezes negligenciado: a dependência externa de fertilizantes. A afirmação foi feita pelo senador Zequinha Marinho (PA), durante uma de suas falas sobre segurança nacional e sustentabilidade da produção agrícola. Para ele, a vulnerabilidade está no NPK — sigla que designa os três principais macronutrientes usados na lavoura: Nitrogênio, Fósforo e Potássio.
Segundo Marinho, “se o mundo quiser parar o Brasil, é só segurar a importação do NPK”. O alerta reflete um problema estrutural: apesar de possuir reservas minerais, o país importa cerca de 85% dos fertilizantes consumidos, sendo que, no caso do potássio, a dependência chega a 95%. A situação coloca em xeque a soberania alimentar e econômica, já que o agro é o motor das exportações nacionais.
O peso do agronegócio na economia brasileira
O agronegócio brasileiro movimenta cifras bilionárias e coloca o país entre os maiores produtores e exportadores de grãos, carnes, café, açúcar e outros produtos. Em 2024, o setor respondeu por quase um terço das riquezas geradas no país e foi responsável por manter o superávit da balança comercial.
Esse protagonismo, no entanto, só é possível graças ao uso intensivo de fertilizantes, que garantem alta produtividade em solos tropicais naturalmente pobres em nutrientes. Sem eles, a produção cairia drasticamente, afetando a segurança alimentar global.
A vulnerabilidade da importação do NPK
O NPK é essencial para culturas como soja, milho, trigo e café. O Brasil importa quase todo o potássio da Rússia, Belarus e Canadá; depende do nitrogênio vindo dos Estados Unidos e do Oriente Médio; e do fósforo originário principalmente de países do Norte da África.
Esse cenário expõe o país a choques externos, como sanções, crises diplomáticas ou interrupções logísticas. O conflito entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, já mostrou o impacto direto da geopolítica nos preços e no fornecimento de fertilizantes.
Reservas brasileiras de fertilizantes são pouco exploradas
O senador lembrou que o Brasil possui reservas minerais suficientes para reduzir essa dependência, incluindo minas de potássio na região Amazônica capazes de suprir até um terço da demanda nacional. O entrave, porém, está em questões regulatórias e ambientais, especialmente pela proibição de exploração em áreas indígenas.
“Nós compramos potássio de comunidades indígenas do Canadá, mas não podemos permitir que os nossos indígenas façam o mesmo aqui. Isso precisa ser revisto. O mercado já é nosso, só falta dar condições de produção dentro do país”, destacou Marinho.
Segurança nacional e soberania
A dependência excessiva de insumos externos para sustentar o agro brasileiro vai além da questão econômica: é um problema de soberania nacional. Caso o fluxo de importações seja interrompido, toda a cadeia de alimentos e exportações pode ser comprometida, com impactos diretos na inflação, no abastecimento interno e na competitividade do Brasil no mercado internacional.
Especialistas apontam que o caminho passa pela diversificação de fornecedores, investimentos em pesquisa para fertilizantes alternativos e a exploração sustentável das reservas nacionais, conciliando preservação ambiental e desenvolvimento econômico.
Panorama da dependência de importação do NPK pelo Brasil
Nutriente | Dependência de importação | Principais fornecedores | Situação no Brasil |
---|---|---|---|
Nitrogênio (N) | 80% | EUA, Oriente Médio | Produção interna limitada |
Fósforo (P) | 55% | Marrocos, Tunísia | Reservas exploradas parcialmente |
Potássio (K) | 95% | Rússia, Belarus, Canadá | Grandes reservas em áreas restritas |
Um futuro em disputa
O agronegócio brasileiro, responsável por alimentar milhões de pessoas no mundo, pode se tornar refém da própria dependência com a importação do NPK. A fala de Zequinha Marinho expõe uma realidade incômoda: sem fertilizante não há produção, e sem produção o Brasil perde seu maior trunfo econômico.
A discussão sobre fertilizantes não é apenas técnica, mas estratégica. O país precisa decidir se continuará vulnerável às pressões externas ou se buscará, com planejamento, garantir autossuficiência e independência para manter sua posição de potência agrícola mundial.
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