Ajustes de manejo para cada tipo racial no cruzamento

Na teoria, sempre falamos que toda raça tem seus pontos fortes, que devem ser muito bem explorados para maximizar o desfrute dentro de cada sistema de produção e, sobretudo, aumentar a lucro da atividade.

Por Alexandre Zadra

No entanto, percebo que poucos são os projetos que tentam ajustar o uso de raças para cada sistema de produção e vice-versa. São alguns ajustes práticos que venho tentando fazer para que sejam usadas com maior probabilidade de acertos.

Inicio com um exemplo de uso equivocado das raças nos cruzamentos: a utilização da raça Senepol sobre matrizes ½ sangue britânicas.

Foto: Alexandre Zadra

Por ser uma raça de pequeno porte, o Senepol pode ser classificado como “tipo de animal de conformação britânica”. A raça vem sendo equivocadamente usada sobre matrizes meio sangue britânicas. Esse acasalamento gera, por vezes, animais ultraprecoces no acabamento, com pesos abaixo das 16 arrobas, que são desvalorizados pela indústria frigorífica.

É evidente que o cruzamento da raça Angus vai muito bem com fêmeas Nelore no Centro Norte do Brasil. Contudo, podemos extrapolar essa situação da raça Angus e traçar um paralelo com o Senepol.

Comparativamente, os produtos do cruzamento do touro Angus ou do touro Senepol com uma fêmea meio sangue britânica serão equivalentes.

Foto: Alexandre Zadra

Esse é um exemplo tácito do mau uso das raças nos cruzamentos. Desse modo, concluímos que a utilização do Senepol deve ser semelhante à utilização de animais da raça Angus. Ou seja, quando o objetivo é gerar melhores resultados nas carcaças devemos acasalar matrizes Nelores ou cruzadas, de grande porte, como animais meio-sangue Simental.

Caso se decida pelo uso do Senepol nas fêmeas ½ sangue Angus, deve-se priorizar as matrizes adultas, pois novilhas desmamam bezerros entre 20 kg a 30 kg mais leves que serão bois de pequeno porte. Já sobre as ½ Continentais, o Senepol produzirá um boi pesado e bem terminado.

Outro detalhe importante para o uso do Senepol no cruzamento é a utilização de touros e vacas Senepol de grande porte e no início da estação de monta. É sabido que bezerros nascidos em agosto/setembro são sempre mais pesados a desmamam.

Para maximizar esse cruzamento, é recomendado suplementar os produtos em “creep feeding” a partir de 45 dias de vida, com o objetivo de proporcionar maior peso na desmama.

Recomenda-se, ainda, manter os animais inteiros por mais tempo em comparação com o ½ sangue, pois esses garrotes precisam do hormônio masculino por um período maior para compensar a queda no ganho em peso a partir de 420 kg.

Na minha experiência acompanhando abates de animais inteiros com sangue Senepol, obteve-se acabamento desejado quando bem manejados. Desse modo, em alguns casos, não há a necessidade da castração para obter bons resultados na carcaça.

Outro ajuste que venho indicando para obter acabamento desejado para aproveitar o excelente ganho em peso e a adaptação da raça Caracu é o cruzamento com matrizes ½ Britânicas. Para esses garotes, recomendo a castração quando atingirem entre 350 kg e 400 kg de peso vivo, de modo que iniciem o confinamento já castrados.

Foto: Alexandre Zadra

Recomendo o uso da raça Bonsmara em acasalamento com matrizes ½ sangue Angus, devido à ótima carcaça e peso adequado ao abate, desde que as filhas desse cruzamento não sejam retidas para reprodução e que ocorra um manejo nutricional adequado em qualquer sistema, seja a pasto ou confinado.

Aconselho o acasalamento de touros Bonsmara em fêmeas azebuadas quando se deseja utilizar posteriormente para reprodução às filhas que são produtos desse cruzamento, pois geram animais com pelos mais curtos e maior adaptação ao clima nas condições de centro-oeste.

Outras dicas para cruzamentos

Devemos caprichar no pasto e suplementação no período de seca para a região Centro Norte do Brasil quando lidamos com bezerros desmamados, filhos de bimestiços 5/8 (Brangus, Braford, Canchim), e vacas ½ sangue Nelore ou Bonsmara. Além disso, é indicado dar continuidade à suplementação durante o período das águas. Recomenda-se, ainda, que os animais sejam confinados por volta de 18 a 20 meses para serem abatidos em 100 ou 120 dias, com ganho diários entre 1.400 gramas e 1.500 gramas.

Dica: é importante castrar os filhos de Canchim antes que sejam confinados.

Para bezerros ¾ Zebu ¼ Europeu, iniciar aos 45 dias a suplementação no cocho (“creep feeding”) até a desmama e suplementar durante o período de seca; levá-los ao confinamento com 20 meses inteiros ou manter a pasto com suplementação até 30 meses desde que os animais sejam castrados.

Foto: Alexandre Zadra

Bezerros ½ sangue Europeus vão bem em qualquer manejo e respondem muito bem, quer seja suplementados ou não.

Animais ½ sangue Britânicos terminados a pasto devem ser castrados com 380 kg a 400 kg. Por outro lado, é possível mantê-los inteiros até o abate desde que sejam confinados. Já animais ½ sangue de raças Continentais, devem sempre ser castrados com 350 kg a 380 Kg de Peso Vivo.

Lembre-se que os fatores limitantes do cruzamento industrial são o acabamento e a padronização das carcaças. A questão fundamental é manejar adequadamente cada tipo racial para que se consiga um boi precoce de carne macia.

Fonte: Cross Breeding

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