
Amendoim: O contraste do recorde histórico nas exportações e o alerta de crise no campo; confira a análise de produtor sobre a realidade da atividade no país
O agronegócio brasileiro de amendoim celebra um marco impressionante em 2025, com as exportações atingindo um recorde histórico. No entanto, por trás dos números robustos, o setor lida com um cenário de incertezas e margens apertadas para o produtor rural, conforme aponta a análise de especialistas do mercado.
De janeiro a agosto de 2025, o Brasil comercializou mais de 180 mil toneladas da leguminosa, gerando um faturamento de US$ 222 milhões. Este volume representa um crescimento exponencial de 26% em comparação com o mesmo período de 2024, de acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA).
O estado de São Paulo, que responde por 86% da produção nacional, liderou os embarques com 100% da safra exportada neste período. Os principais destinos foram a Rússia (22%), China (21%), Argélia (11%) e Países Baixos (7%), este último servindo como importante porta de entrada para o bloco europeu. Além do grão, as exportações de óleo de amendoim também registraram um avanço expressivo, crescendo mais de 170%.

Sinais de alerta no campo
Apesar do desempenho histórico, o cenário não é de euforia unânime. Em uma análise detalhada sobre o setor, o produtor e consultor Helder Lamberti, da página Amendoim Brasil, coloca os resultados sob uma lente crítica, alertando para a sustentabilidade da cadeia produtiva.
“Recorde histórico nas exportações de amendoim, mas com sinais de alerta no campo,” resume Lamberti. Segundo o especialista, a forte concorrência internacional, a elevada oferta global e a pressão sobre os preços têm reduzido a rentabilidade tanto dos produtores quanto dos exportadores.
A consequência mais visível dessa pressão é a retração drástica de área plantada para a próxima safra. “A estimativa atual indica uma redução entre 30% e 35% na área plantada para a safra 2025/26, um dos maiores recuos das últimas décadas,” afirma Lamberti.
Muitos produtores, especialmente aqueles que recentemente migraram da soja para o amendoim, enfrentaram custos elevados, necessidade de mão de obra especializada e dificuldades na comercialização, gerando frustração. Mas o aperto nas margens não poupou sequer os tradicionais. A combinação de preços baixos, juros elevados e crédito restrito comprometeu a capacidade de investimento, levando muitos a repensar o tamanho das áreas e o nível de tecnologia no próximo ciclo.
O desafio da sustentabilidade da cadeia do amendoim
A crise de rentabilidade se estende aos elos posteriores. Nos cerealistas, margens menores e menor liquidez interna dificultam os repasses. Já os exportadores enfrentam o desafio de competir em um ambiente global de preços desvalorizados, logística mais cara e concorrência crescente de países como Argentina, Índia e Senegal.
Helder Lamberti conclui que o sucesso do volume precisa ser traduzido em sustentabilidade para toda a cadeia. “O desempenho positivo nas exportações precisa se refletir em melhor remuneração ao produtor e sustentabilidade para toda a cadeia,” defende.
Mais do que simplesmente exportar grandes volumes, o setor é convocado a uma mudança estratégica. “O setor precisa agregar valor, planejar melhor a safra e investir em inteligência de mercado para garantir previsibilidade e rentabilidade,” aconselha.
Para a Amendoim Brasil, o recorde é, portanto, mais do que motivo de orgulho; é um “chamado à ação”. O desafio central é construir um crescimento equilibrado, garantindo a valorização de cada elo, do campo ao porto, para que a marca histórica de hoje não se torne a causa de uma crise de oferta no futuro.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.