Angola desperta como nova fronteira agrícola e atrai atenção de produtores brasileiros

País africano quer atrair produtores brasileiros para fortalecer sua produção de alimentos

Imagine um território com solo fértil, clima propício ao cultivo e sede de desenvolvimento, mas que ainda engatinha na adoção de tecnologias modernas e na construção de uma infraestrutura rural eficiente. Assim é Angola atualmente — cenário que lembra o Mato Grosso do Brasil de décadas atrás, quando o potencial agrícola começava a se revelar, mas os desafios logísticos e tecnológicos ainda eram imensos.

Apesar de o país africano de língua portuguesa ainda apresentar números modestos na produção de grãos — o milho, seu principal cultivo, não supera os 3 milhões de toneladas por safra — o contexto é de urgência. Com uma população que já ultrapassa os 36 milhões de habitantes e cresce em torno de 1 milhão de pessoas por ano, garantir a segurança alimentar se tornou prioridade nacional.

Nesse contexto, o governo angolano tem intensificado esforços para atrair investidores do agronegócio brasileiro. Nesta semana, uma comitiva de empresários do setor, acompanhada do ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, desembarcou no país africano com a missão de identificar áreas viáveis para projetos agropecuários e construir possíveis parcerias locais.

Mas essa aproximação não é algo inédito. Alguns produtores brasileiros já operam em Angola há mais de uma década e hoje ajudam a abrir caminho para novos empreendedores. Um exemplo é Altair Oliveira, produtor goiano e um dos fundadores da Fazenda Pipe, com áreas produtivas nas províncias de Malanje e Cuanza Norte desde 2010. A propriedade, que nunca precisou de correção com calcário devido à fertilidade natural da terra, cultiva atualmente 4.700 hectares de milho, 2.200 hectares de soja e 500 hectares de feijão, com 1.250 hectares irrigados — área que deve mais do que dobrar até a próxima safra.

Segundo Oliveira, o maior obstáculo foi o início. “Há 15 anos não existia infraestrutura básica. A fazenda era acessível apenas de helicóptero, pois não havia sequer estradas”, lembra. A eletrificação recente da propriedaderealizada de forma independente — marcou uma virada: permitiu a instalação de pivôs de irrigação, elevando a capacidade produtiva da área.

O próximo passo é a possível liberação do uso de sementes transgênicas, atualmente proibidas em Angola. A adoção dessas tecnologias poderia elevar significativamente a produtividade e reduzir custos operacionais, hoje pressionados pelo uso de variedades convencionais.

A Fazenda Pipe já recebeu entre 40 e 50 milhões de dólares em investimentos e, segundo Oliveira, há espaço para expansão. Uma propriedade anexa de 8 mil hectares está disponível para projetos conjuntos, e a entrada de parceiros brasileiros experientes pode acelerar o processo.

Outro projeto relevante em solo angolano com DNA brasileiro é liderado pela Biocom, que iniciou em 2014 a produção de cana-de-açúcar em Cuanza Norte. A empresa opera a única usina de açúcar do país, com capacidade de produção de 130 mil toneladas anuais. Detentora de uma concessão para 59 mil hectares — dos quais 46 mil são aptos ao cultivo —, a Biocom hoje utiliza 33 mil hectares com cana e busca parceiros do Brasil para expandir os canaviais e modernizar áreas ainda não exploradas.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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