Angus de alta performance: entenda como o Beef Value multiplica os ganhos por carcaça

Em tempos de margens estreitas, ferramenta de seleção genética desenvolvida pela American Angus Association torna-se bússola para produtores brasileiros que buscam “blindar” o lucro no confinamento

Em um cenário onde a nutrição pode representar até 70% do custo operacional de um confinamento no Brasil, a eficiência biológica do rebanho deixou de ser uma vaidade técnica para se tornar uma questão de solvência financeira. É neste contexto que o índice Beef Value ($B), ou Valor Carne, se consolida como a métrica definitiva para quem busca precisão matemática no lucro. Mais do que uma DEP (Diferença Esperada na Progênie), o $B é um índice bioeconômico expresso em dólares, desenhado para responder a uma única pergunta: quanto dinheiro a mais este animal vai colocar no bolso do produtor após o abate?

Para especialistas, o uso dessa ferramenta marca a transição de uma pecuária visual para uma pecuária de engenharia de dados. “Buscar animais mais eficientes é fundamental para uma pecuária mais produtiva e sustentável. Os dados de consumo e desempenho coletados permitem identificar touros que produzem mais comendo menos”, afirma Mateus Pivato, gerente técnico da Associação Brasileira de Angus.

Pivato refere-se à correlação direta que índices como o $B possuem com a eficiência alimentar, mensurada hoje em provas de ponta com cochos inteligentes que avaliam o Consumo Alimentar Residual (CAR).

A Engenharia do Índice: $B = $F + $G

Para compreender a complexidade da ferramenta, é preciso desmontá-la. O Beef Value ($B) não é um número isolado; ele é a fusão ponderada de dois outros índices econômicos da American Angus Association:

  1. Feedlot Value ($F) – Valor Confinamento: Foca exclusivamente no desempenho pós-desmama. Ele penaliza animais que comem muito para ganhar pouco (baixa conversão) e premia aqueles com alto Ganho Médio Diário (GMD) e eficiência na ingestão de matéria seca.
  2. Grid Value ($G) – Valor de Carcaça: Foca no que o frigorífico paga. Ele pondera DEPs de Marmoreio (Marb), Área de Olho de Lombo (AOL), Peso de Carcaça (CW) e Espessura de Gordura (Fat).

Ao selecionar um touro com $B elevado (Top 1%), o produtor está, matematicamente, injetando no rebanho genes que encurtam o tempo de cocho ($F) e garantem as premiações das tabelas de qualidade ($G).

Genética: O Único Insumo Permanente

A decisão de usar sêmen de touros com alto valor agregado, muitas vezes mais caros, ainda gera debate. No entanto, a matemática do ROI (Retorno Sobre Investimento) é implacável a favor da alta performance.

“Entre tantos custos e produtos necessários à pecuária de corte, a genética é o único insumo com caráter permanente e acumulativo. Os bons genes dos touros adquiridos hoje estarão presentes nas vacas de cria por uma década”, explica Fernando Velloso, da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha e inspetor técnico da raça.

Segundo Velloso, a mentalidade de “custo por dose” deve ser substituída pela de “lucro por produto”. Um touro que custa R$ 20,00 a mais na dose, mas cujo índice $B projeta um ganho de US$ 50,00 a mais por carcaça, paga-se na primeira geração com uma margem de lucro superior a 1000%.

Dados de mercado: O impacto no bolso

Angus de alta performance: entenda como o Beef Value multiplica os ganhos por carcaça Matriz da raca Brangus - Sta Cruz T048 - genética
Sta Cruz T048 / Foto: Divulgação

Simulações baseadas nos sumários americanos de 2024 mostram o abismo financeiro entre a média e o topo:

  • Touro Angus Média da Raça: $B de aproximadamente +140.
  • Touro Angus Top 1%: $B superior a +230.

A diferença de US$ 90,00 por cabeça (aprox. R$ 520,00 na cotação atual) representa o lucro líquido adicional esperado da progênie do touro Top 1% em comparação à média. Em um abate técnico de 100 animais F1 (meio-sangue), isso significa R$ 52.000,00 de receita extra gerada puramente pela decisão genética, sem acréscimo de infraestrutura.

A demanda por essa qualidade é tracionada pela ponta final da cadeia. Michael Borges, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, reforça que o mercado consumidor mudou a régua de exigência.

“O consumidor está sedento por Angus, por carne de alta qualidade. O mercado paga o prêmio porque existe a percepção de valor. Isso nos indica um cenário promissor para quem produz com foco em certificação”, analisa Borges.

Dados de mercado: O impacto no bolso

Simulações baseadas nos sumários americanos de 2024 mostram o abismo financeiro entre a média e o topo:

  • Touro Angus Média da Raça: $B de aproximadamente +140.
  • Touro Angus Top 1%: $B superior a +230.

A diferença de US$ 90,00 por cabeça (aprox. R$ 520,00 na cotação atual) representa o lucro líquido adicional esperado da progênie do touro Top 1% em comparação à média. Em um abate técnico de 100 animais F1 (meio-sangue), isso significa R$ 52.000,00 de receita extra gerada puramente pela decisão genética, sem acréscimo de infraestrutura.

A demanda por essa qualidade é tracionada pela ponta final da cadeia. Michael Borges, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, reforça que o mercado consumidor mudou a régua de exigência.

“O consumidor está sedento por Angus, por carne de alta qualidade. O mercado paga o prêmio porque existe a percepção de valor. Isso nos indica um cenário promissor para quem produz com foco em certificação”, analisa Borges.

Box Técnico: Raio-X do Beef Value ($B)

Composição dos pesos econômicos no índice

ComponenteO que avalia?Impacto Econômico
CMS (Consumo Matéria Seca)Quanto o animal comeRedução direta do Custo da Dieta Diária.
CW (Peso de Carcaça)Peso do animal no ganchoAumenta a receita bruta por animal abatido.
Marb (Marmoreio)Gordura intramuscularDefine o acesso a bônus “Prime” ou “Choice”.
AOL (Área de Olho de Lombo)Musculosidade e rendimentoAumenta o rendimento de cortes nobres.
Gordura (Fat)AcabamentoEvita descontos por falta de cobertura ou excesso de refugo.

A eficiência como sobrevivência

Em tempos onde a commodity (o boi comum) sofre com a volatilidade de preços, o índice Beef Value funciona como um “seguro de rentabilidade”. Ele permite ao produtor brasileiro, mesmo utilizando genética importada ou nacional de ponta, prever com acurácia o desempenho econômico do lote antes mesmo do nascimento do bezerro.

Como resume a diretriz técnica da própria associação americana: “O $B facilita a seleção genética multicaracterística simultânea para mérito de carcaça e confinamento”. Para o pecuarista moderno, traduz-se em: mais arrobas, menos ração e carne premium no gancho.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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