
Especialistas apontam que o ciclo pecuário entra em fase de virada, com risco de escassez de matrizes e valorização gradual do preço do bezerro até 2026
O mercado pecuário brasileiro vive um momento decisivo, marcado por mudanças estruturais que podem redefinir o rumo do ciclo pecuário nos próximos anos. O abate recorde de fêmeas observado recentemente acendeu um alerta no setor, levantando preocupações sobre um possível “apagão de matrizes” — cenário que, caso se confirme, pode reduzir a oferta de bezerros e pressionar a cadeia de reposição.
Embora parte dos analistas avalie o risco como moderado, os sinais de valorização da categoria já são evidentes. O mercado começa a reagir, indicando uma virada de fase no ciclo pecuário, com perspectiva de alta gradual nos preços dos bezerros e oportunidades estratégicas para quem apostar na retenção de fêmeas neste momento.
Abate de fêmeas preocupa, mas cenário ainda é de transição
De acordo com Leonardo Alencar, head de agro e sócio da XP Investimentos, em entrevista concedida ao programa Mercado Pecuário, exibido pelo Portal DBO, o aumento expressivo no abate de fêmeas não representa, por ora, um risco imediato de apagão. No entanto, o especialista alerta para possíveis impactos no médio prazo, especialmente se a reposição de matrizes não acompanhar o ritmo atual de abates.
“Apesar do abate elevado, a adoção de tecnologias na cria — como melhoramento genético e manejo nutricional — pode compensar parte da redução no número de matrizes”, explica Alencar.
O especialista destaca ainda a dificuldade de análises mais precisas devido à falta de dados oficiais atualizados sobre o tamanho real do rebanho brasileiro, o que impede projeções exatas de desfrute e expansão.
Bezerro entra em rota de valorização: a “pernada de alta” vem aí
Segundo análise da Agrifatto, o bezerro já dá sinais de recuperação no mercado. O preço real da categoria no Mato Grosso do Sul atingiu R$ 13,63/kg em agosto de 2025, uma alta de 26,95% em relação à mínima de setembro de 2023, embora ainda distante dos picos de 2021, quando o valor chegou a R$ 17,90/kg.
Os analistas destacam que o equilíbrio entre oferta e demanda começa a se restabelecer, e dificilmente os preços voltarão aos patamares de 2023. O piso atual gira em torno de R$ 2.000 por cabeça, com tendência de valorização gradual ao longo de 2025 e 2026.
“Estamos saindo da fase de liquidação e caminhando para o início de uma nova etapa de retenção de fêmeas, estimulada pela valorização real do bezerro”, explica a Agrifatto.
“A categoria ainda não viveu sua principal ‘pernada de alta’, e o produtor que conseguir reter matrizes agora poderá colher bons frutos nos próximos anos.”
Momento estratégico: reter mais, vender menos
A recomendação das consultorias é clara: o pecuarista que tiver caixa equilibrado e capacidade de suporte nas pastagens deve aproveitar o momento para reter fêmeas e ampliar o plantel.

“O criador que fez a lição de casa, reformando pastos e ajustando manejo, chegará em 2026 com mais arrobas por hectare e melhor capacidade de resposta à alta do ciclo”, reforça a Agrifatto.
Por outro lado, muitos produtores seguem vendendo matrizes por necessidade financeira, o que pode ampliar a escassez futura e acelerar a valorização dos bezerros.
Relação bezerro x boi gordo mostra sinais de ajuste
O levantamento do Farmnews, com base em dados do Cepea, mostra que no início de outubro o ágio do bezerro sobre o boi gordo apresentou leve queda. Enquanto o preço do boi gordo acumulou recuo de 3,5% em 2025 até a parcial de outubro, o bezerro subiu 10,2% no mesmo período.
Esse movimento indica um descolamento entre os preços, que tende a diminuir até o final do ano, acompanhando a recuperação esperada do boi gordo e reforçando o início de um novo ciclo de alta.
“Os sinais do mercado apontam para uma virada de fase no ciclo pecuário. O preço do bezerro deve continuar reagindo, acompanhando a melhora no boi gordo e na demanda por animais de reposição”, explica o relatório.
Perspectivas para 2026: boom de preços no horizonte
A convergência de fatores — redução do plantel de matrizes, aumento gradual da demanda e recuperação do boi gordo — cria as condições ideais para um novo boom no preço do bezerro entre o final de 2025 e o início de 2026.
O produtor que reter fêmeas agora e investir em manejo técnico e nutricional poderá se posicionar de forma vantajosa para o próximo ciclo.
Diante do exposto, o mercado de reposição entra em uma fase estratégica: quem se preparar agora, colhe lucros depois. O abate elevado de fêmeas serve como alerta, mas também como oportunidade de reposicionamento. A tendência é de valorização consistente da categoria nos próximos meses, com o ápice do ciclo previsto para 2026.
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