
Com raízes nas fazendas do Velho Oeste, a apartação evoluiu de uma necessidade do campo para uma das modalidades equestres mais fascinantes do mundo. No Brasil, a paixão cresce com provas emocionantes, genética apurada e vaqueiros de alta performance.
Quem assiste a uma prova de apartação pela primeira vez pode até pensar que está vendo uma dança coreografada entre cavalo, boi e cavaleiro. Mas por trás desse balé marcado por movimentos ágeis e precisos, está uma das mais antigas habilidades da lida com gado: a de separar um animal do rebanho sem causar alvoroço. Esse trabalho, que começou como parte da rotina nas fazendas americanas do século 19, virou um esporte que ganha cada vez mais destaque no Brasil e no mundo.
Do pasto para a arena: a origem da apartação
Lá nos tempos do Velho Oeste, era comum ver cowboys conduzindo grandes rebanhos por trilhas poeirentas. Em determinadas situações, era preciso isolar uma vaca ou um boi — fosse para tratamento, venda ou manejo.
Alguns cavalos, naturalmente mais atentos e espertos, se mostravam excepcionais nessa tarefa. Eram eles que, ao menor movimento do boi, já estavam prontos para reagir. A essa inteligência nata se deu o nome de cow sense, ou senso de gado.
Com o tempo, essa habilidade deixou de ser apenas útil no trabalho para virar uma atração por si só. Em 1898, a cidade texana de Haskell sediou o primeiro grande evento do tipo, o Cowboy Reunion, reunindo nada menos que 15 mil espectadores. Assim nascia o esporte da apartação.
A oficialização da modalidade e a criação das entidades
Em 1946, nos Estados Unidos, nasceu a National Cutting Horse Association (NCHA), instituição que estabeleceu as regras e ajudou a profissionalizar as competições. Hoje, essa entidade movimenta mais de US$ 39 milhões por ano em premiações e atrai competidores de todas as idades e níveis.
O Brasil também abraçou a modalidade. A primeira prova oficial por aqui ocorreu em 1977, durante uma exposição da ABQM. E em 1989, foi fundada a Associação Nacional do Cavalo de Apartação (ANCA), responsável por organizar campeonatos e estabelecer as diretrizes da prática no país.
Como funciona uma prova de apartação?
Numa competição, cavalo e cavaleiro têm 2 minutos e 30 segundos para entrar no rebanho, escolher uma rês e mantê-la afastada dos demais, impedindo que ela retorne ao grupo. Tudo isso sem usar as rédeas ou forçar o animal, que deve agir com autonomia, antecipando os movimentos do boi com técnica e leveza.
A nota parte de 70 pontos, podendo variar entre 60 e 80, e leva em consideração critérios como postura, iniciativa, coragem e principalmente a precisão nos movimentos. Os melhores cavalos são aqueles que parecem “ler a mente” da rês, mantendo o controle da situação com autoridade e elegância.
Marcas históricas e craques da modalidade da apartação
No Brasil, poucos atingiram a nota máxima de 78 pontos. Entre os que chegaram lá estão Gerson Almeida dos Santos (com Son Ofa Jay), Filipe Rezende Barbosa (com Intruder As A Cat) e Antônio Sérgio de Araújo Júnior (com Quick To Dual). Provas memoráveis que entraram para a história da ANCA.
Nos Estados Unidos, os brasileiros também brilham. O destaque vai para Armando Costa Neto, único competidor Non Pro a conquistar a Tríplice Coroa da NCHA, e para Rodrigo Taboga, que se estabeleceu no berço da modalidade e já ultrapassou meio milhão de dólares em ganhos, vencendo eventos como o NCHA Open Derby.
Um esporte com alma rural e emoção nas veias
Mais do que uma competição, a apartação é a celebração de uma parceria ancestral entre homem e cavalo. Uma prova de inteligência, confiança mútua e respeito ao instinto. Quem vive no campo reconhece o valor prático dessa habilidade; quem assiste a uma prova reconhece a beleza do desafio.
Em arenas de todo o Brasil — de São Paulo a Mato Grosso do Sul, de Minas à Bahia — a modalidade ganha novos adeptos, com categorias que vão do Amador ao Profissional. E em cada apresentação, renova-se o encanto por essa arte de fazer do trabalho um espetáculo.
Afinal, não é todo dia que se vê um cavalo pensar como um boi — e se divertir com isso.
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