Após alta de 123,6% na área plantada, parece que o ímpeto do algodão brasileiro cessou; entenda

Após expansão histórica, algodão brasileiro desacelera: projeções indicam queda na produção e ritmo de crescimento enfraquecido até 2026

Nos últimos anos, o algodão brasileiro viveu uma verdadeira explosão em área plantada e produção, consolidando o país como um dos principais players globais na cotonicultura. No entanto, os dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sugerem que esse ímpeto pode estar perdendo força. Depois de mais que dobrar sua área plantada desde 2017, a cotonicultura brasileira começa a dar sinais de esgotamento. Novas estimativas da Conab apontam não apenas uma leve retração na produção, mas também uma perda de fôlego no avanço da cultura para os próximos ciclos.

Crescimento impressionante até 2025

Entre 2017 e 2025, a área semeada com algodão no Brasil saltou de 939,1 mil hectares para aproximadamente 2,1 milhões de hectares, um avanço de 123,6%. No mesmo período, a produção de algodão em pluma mais que dobrou, passando de 1,5 milhão para cerca de 4,1 milhões de toneladas — um aumento expressivo de 173,3%. Esse desempenho não foi apenas reflexo da expansão territorial: a produtividade também cresceu, impulsionada por tecnologias e manejo mais eficientes.

Com a safra 2024/25 finalizada no início de outubro, esses números se consolidam como um marco no desenvolvimento da cultura.

Estimativas para 2026 indicam mudança de rumo

Apesar do histórico positivo, as projeções para a safra 2025/26 sinalizam um cenário mais contido. Segundo o primeiro boletim de safra da Conab, divulgado em outubro:

  • A área plantada deve crescer modestos 2,5%, alcançando 2,14 milhões de hectares.
  • A produção de pluma deve cair 1,1%, de 4,08 para 4,03 milhões de toneladas.
  • A produção de caroço de algodão também recua, passando de 5,78 para 5,72 milhões de toneladas, uma redução de 1,2%.

Trata-se da primeira retração prevista desde 2021 tanto para a pluma quanto para o caroço, o que, mesmo com o leve aumento de área, indica uma possível estagnação da produtividade ou efeitos negativos de variáveis climáticas e de mercado.

Taxa de crescimento anual do algodão brasileiro desacelera

A Scot Consultoria utilizou a taxa composta de crescimento anual (CAGR) para avaliar a tendência da área plantada com algodão, e os números reforçam a leitura de que o ciclo de forte expansão está perdendo força:

  • 2017–2020: crescimento médio de 20,8% ao ano
  • 2021–2024: 12,4% ao ano
  • 2023–2026 (estimado): 8,7% ao ano

Esse recuo na velocidade de expansão mostra que o mercado pode estar chegando a um novo patamar de maturidade, onde os aumentos expressivos de área já não se sustentam com o mesmo vigor.

Após alta de 123,6% na área plantada, parece que o ímpeto do algodão brasileiro cessou; entenda
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

Impactos no mercado de coprodutos

A redução na produção de algodão pode ter efeitos colaterais importantes, especialmente na oferta de coprodutos como farelo e torta de algodão, amplamente utilizados na formulação de rações para ruminantes. Com menor disponibilidade, há tendência de aumento de preços, o que pode impactar a competitividade desses insumos em relação a alternativas como o farelo de soja e o DDG (grãos secos de destilaria).

Ainda é cedo para decretar um fim ao avanço do algodão brasileiro, mas os dados apontam para um momento de transição. Questões como logística, custo de produção, cenário internacional, câmbio e clima devem influenciar fortemente o rumo da cultura nos próximos anos.

Se por um lado o setor acumulou ganhos impressionantes desde 2017, por outro, os próximos ciclos devem exigir maior estratégia e cautela, tanto por parte de produtores quanto de agentes da cadeia industrial e exportadora. O algodão brasileiro continua relevante — mas agora, mais atento aos sinais do mercado.

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