
O governo da Argentina antecipou a cobrança para o dia 25 de setembro, justificando que a meta de arrecadação de US$ 7 bilhões em Declarações Juradas de Vendas ao Exterior (DJVE) foi atingida em menos de 72 horas.
A Argentina surpreendeu o mercado ao retomar os impostos sobre exportação de grãos — conhecidos como retenciones — um mês antes do prazo anunciado inicialmente. A medida, publicada no Decreto 526 de 30 de julho, previa a isenção temporária até 31 de outubro, com retorno apenas em novembro. No entanto, o governo argentino antecipou a cobrança para o dia 25 de setembro, justificando que a meta de arrecadação de US$ 7 bilhões em Declarações Juradas de Vendas ao Exterior (DJVE) foi atingida em menos de 72 horas.
Com isso, voltam a vigorar as alíquotas anteriores:
- 26% para a soja;
- 9,5% para o milho e o trigo.
Por enquanto, as exportações de carnes bovina e de frango seguem isentas.
Motivações econômicas e apoio internacional
A decisão ocorre em meio a fortes turbulências financeiras enfrentadas pelo governo de Javier Milei, que tenta equilibrar as contas públicas e reconstruir a confiança dos mercados. Nesta semana, o país recebeu apoio financeiro dos Estados Unidos, com o Tesouro americano negociando uma linha de crédito de US$ 20 bilhões com o Banco Central da Argentina, além de possíveis facilidades de compra de dívida.
A medida, embora emergencial, gera reações diversas. Para o governo, a antecipação da cobrança é necessária para garantir fluxo de caixa e cumprir metas fiscais impostas por acordos internacionais.
Repercussão entre produtores e entidades do agronegócio
A retomada das retenciones divide opiniões dentro do setor agrícola argentino:
- Nicolás Pino, presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA), elogiou a iniciativa anterior de isenção e defende que o benefício seja permanente, como forma de incentivar a competitividade.
- Já Andrea Sarnari, presidente da Federação Agrária Argentina (FAA), afirma que pequenos e médios produtores não foram beneficiados pela isenção temporária, pois já haviam vendido sua produção, deixando o maior impacto positivo restrito aos grandes exportadores, que conseguiram armazenar grãos e aproveitar o momento de isenção.
Pressão dos Estados Unidos e impactos globais
O setor produtivo norte-americano também reagiu. A Associação Americana da Soja (ASA) manifestou preocupação com a concorrência desleal, já que os preços da soja americana caíram durante o período de isenção na Argentina. Segundo a entidade, enquanto os agricultores dos EUA enfrentam dificuldades de mercado, a Argentina aproveitou o benefício fiscal para vender rapidamente cerca de 20 carregamentos de soja à China, em apenas dois dias.
Essa movimentação afetou o mercado de Chicago, onde os contratos futuros da soja fecharam em alta após a retomada dos impostos:
- Soja em grão (novembro): US$ 10,12 ¼ por bushel (+0,32%)
- Soja (janeiro): US$ 10,31 ¼ por bushel (+0,26%)
- Farelo (dezembro): queda de US$ 2,90 (-1,05%)
- Óleo de soja (dezembro): alta de 0,86%
Analistas indicam que a China conseguiu abastecimento estratégico durante o período de isenção, e que o retorno ao mercado deve ocorrer apenas em janeiro, coincidindo com o início da colheita da safra 2025/26 no Brasil.
Reflexos para o Brasil e o agronegócio sul-americano
Para o Brasil, principal concorrente da Argentina nas exportações de soja, a medida pode abrir espaço para ampliar embarques nos próximos meses, principalmente com a entrada da nova safra. A antecipação das retenciones tende a reduzir a competitividade argentina e favorecer produtores brasileiros, sobretudo se a demanda chinesa se reaquecer.
Contudo, especialistas alertam que a instabilidade política e fiscal argentina ainda representa um fator de risco para o comércio regional, podendo afetar preços e contratos internacionais.
A volta antecipada dos impostos de exportação na Argentina reforça a complexidade da política econômica do país e evidencia o desafio de equilibrar arrecadação, competitividade e estabilidade fiscal. O movimento gera efeitos imediatos nos mercados globais de grãos, enquanto o Brasil observa com atenção a oportunidade de consolidar sua liderança nas exportações agrícolas.
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