Segundo a Scot e a Safras & Mercado, boi gordo recua em 8 estados com suspensão de compras por frigoríficos. Superoferta de frango e consumo travado ampliam incertezas no curto prazo
O mercado físico do boi gordo abriu esta semana sob forte viés de baixa. Segundo levantamento da Scot Consultoria, os preços recuaram em 8 das 17 principais praças pecuárias monitoradas nesta terça-feira (20), incluindo São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Acre, Maranhão e Santa Catarina.
A queda tem origem direta na confirmação de um caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul, o que levou frigoríficos a suspenderem as compras de boiadas por tempo indeterminado — uma medida preventiva frente ao impacto da proteína concorrente no mercado interno.
São Paulo volta a cair e disputa nos balcões já bate R$ 304/@
Na avaliação da Scot, o boi gordo “comum” em São Paulo foi cotado nesta terça a R$ 305/@, enquanto o “boi-China” recuou para R$ 315/@. No entanto, segundo dados da Agência DATAGRO Pecuária, já há negócios sendo efetivados a R$ 304/@, o que sinaliza negociações cada vez mais pressionadas nos balcões das indústrias.
A consultoria observa que a pressão é alimentada tanto pela oferta elevada de animais terminados como pela reorganização da demanda de proteínas no varejo, após a suspensão de exportações de frango para países como a China, em decorrência do caso de influenza aviária.
Consumo retraído e carne encalhada: indústria opera com estoques cheios
De acordo com a Safras & Mercado, o ritmo de abates segue estável, com escalas confortáveis de 8 a 9 dias úteis na média nacional. Esse cenário, somado à menor saída no varejo, explica a retração. Ainda segundo a consultoria, a segunda quinzena do mês historicamente apresenta consumo mais fraco, o que limita a capacidade de reação dos preços.
No mercado atacadista, os preços da carne bovina seguem pressionados:
- Quarto traseiro: R$ 23,90/kg
- Quarto dianteiro: R$ 19,40/kg
- Ponta de agulha: R$ 17,80/kg
Frango invade o mercado e trava a boiada
Segundo análise da DATAGRO, a suspensão de embarques de carne de frango para o mercado chinês — maior comprador — gerou um efeito colateral imediato: mais de 400 mil toneladas de frango excedente devem ser absorvidas internamente nos próximos 60 dias. Isso torna o cenário ainda mais delicado para a carne bovina, que passa a disputar espaço com uma proteína significativamente mais barata nas gôndolas.
A Safras & Mercado reforça que esse deslocamento de demanda é um dos fatores decisivos na atual retração da arroba. A situação acendeu o alerta nas escalas de abate, e algumas unidades interromperam momentaneamente as compras em estados do Centro-Oeste e Sudeste.
Mercado futuro reage, mas expectativa é volátil
Apesar do cenário físico do boi gordo complicado, a B3 (Bolsa de Valores) encerrou a segunda-feira (19) com leve recuperação, puxada por expectativas pontuais de reação no médio prazo. O contrato com vencimento em outubro/25 subiu 1,8%, fechando em R$ 331,30/@. Os demais contratos também ensaiaram leve alta, embora o ambiente permaneça instável.
Exportações sustentam parte da base do preço boi gordo, mas não seguram tudo
Os embarques de carne bovina seguem consistentes. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 211,5 mil toneladas em abril, totalizando uma receita de US$ 1,062 bilhão, com preço médio de US$ 5.021/tonelada. A DATAGRO aponta que o bom desempenho externo serve como freio para quedas ainda mais expressivas, mas não consegue anular a pressão interna.
Com escalas cheias, oferta crescente e um mercado doméstico que caminha de lado, o boi gordo atravessa uma fase de incertezas. A combinação entre superoferta de carne de frango, gripe aviária interferindo nas exportações, e consumo interno travado coloca o pecuarista numa posição delicada.
A recomendação dos analistas é clara: redobrar o monitoramento dos custos, travar preços do boi gordo sempre que possível e evitar precipitações na venda de animais, especialmente em regiões mais impactadas pela suspensão de compras.
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