Artigo: Um ano de turbulências para a carne bovina

A última reviravolta no segmento foi a prisão dos irmãos Wesley e Joesley Batista – controladores da JBS, a maior empresa de carnes do mundo.

Emoções não faltaram no mercado do boi gordo neste ano. E uma tempestade perfeita fez com que o ciclo de baixa do preço da arroba, decorrente da ampliação da oferta influenciada pelo aumento do abate de fêmeas (matrizes), sofresse uma pressão baixista ainda maior.

A última reviravolta no segmento foi a prisão dos irmãos Wesley e Joesley Batista – controladores da JBS, a maior empresa de carnes do mundo. A prisão do CEO da JBS, Wesley, fez com que a processadora reduzisse de forma expressiva a compra de gado por alguns dias. Concorrentes também aproveitaram a turbulência e, como resultado, os preços da arroba caíram um pouco mais.

Embora os preços já estejam voltando aos patamares observados antes das prisões, novas quedas não estão descartadas. Na virada de setembro para outubro não houve a reação que normalmente acontece nessa época, marcada pelo aumento das compras no atacado. Caso a demanda permaneça fraca – com muitos frigoríficos já com seus ciclos alongados, os preços da arroba do boi enfrentarão novas baixas. Nessa equação, não pode ser ignorado o fato de o período da entressafra estar chegando ao fim e os animais do segundo giro de confinamento estarem quase prontos para ingressar no mercado.

“A gente já tinha uma tendência de queda, mas os eventos políticos foram choques que reforçaram essa tendência”, afirmou Mariane Crespolini, pesquisadora da área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

O primeiro choque foi em março, com a Operação Carne Fraca, que provocou o embargo temporário de vários países à carne brasileira. Quando as exportações reagiram e, consequentemente, os abates voltavam ao normal, em maio, a delação dos irmãos Batista veio como balde de água fria no mercado.

Esses fatores, afirmou Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto, levaram a retração no preço da arroba do boi no ano mesmo com o crescimento da demanda. “Houve um aumento de abate de 8% até setembro, mas mesmo o crescimento da demanda e os preços saíram de uma média de R$ 154 a arroba em São Paulo para R$ 142”, disse. Segundo ela, com o aumento da demanda, era esperado que houvesse, no mínimo, uma estabilidade nos preços.

Gustavo Figueiredo, consultor da Agro Agility, reforçou que “não há como saber como estaria o preço da arroba no país se não fossem esses choques”. Mas, destacou, uma coisa é certa: os eventos políticos elevaram muito a volatilidade no setor.

Fonte: Valor Econômico Por Kauanna Navarro

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