As contribuições da Embrapa Gado de Corte na COP30

A Embrapa Gado de Corte, ao longo dos seus 50 anos de história, já vinha trabalhando – a princípio, não diretamente – para superação desta questão de aquecimento global.

Enfim, estamos durante a anunciada COP30, a 30ª Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, evento promovido pela Organização das Nações Unidas, e que está sendo realizado em Belém, Pará, de 10 a 21 de novembro.

Embora nosso planeta tenha enfrentado e se adaptado a várias fases de frio e calor ao longo dos seus 4,6 bilhões de anos – seja em função de variáveis astronômicas, do próprio planeta ou de ação humana, sobretudo após a revolução industrial ocorrida há 2,5 séculos –, o termo Mudanças Climáticas, na era atual, está associado, principalmente, ao aquecimento global proporcionado pelos chamados Gases de Efeito Estufa – GEE: metano (CH4), gás carbônico (CO2) e óxido nitroso (NO2) que retêm o calor na atmosfera e intensificam o efeito estufa.

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No caso do metano, a fonte de emissão mais criticada é o gado bovino ou os ruminantes, de um modo geral, como resultado do processo de digestão da fibra das forrageiras por meio da fermentação entérica. Já no caso do gás carbônico, as principais fontes de emissão são o uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) e o desmatamento, com efeitos sobre a diminuição da captação do CO2 disponível na atmosfera para a realização da fotossíntese, e pela emissão deste gás pela queima do material. O óxido nitroso, por sua vez, é resultado da decomposição de matéria orgânica no solo e, como efeito colateral, pelo uso de adubação química nitrogenada.

A Conferência Mundial, neste contexto, tem como principal objetivo conclamar todos os países membros da ONU a assumirem compromissos, as chamadas NDCs (do inglês Nationally Determined Contribution, ou seja, Contribuição Nacionalmente Determinada), com metas de diminuição da emissão destes gases, propostas de medidas de adaptação e estabelecimento de políticas públicas que proporcionem o alcance destas metas.

A Embrapa Gado de Corte, ao longo dos seus 50 anos de história, já vinha trabalhando – a princípio, não diretamente – para superação desta questão de aquecimento global. Afinal, esquecido das nações mais evoluídas, o Brasil, pouco tempo depois de ter saído da condição de importador para a posição de maior exportador mundial de carne bovina, em 2004, passou a sofrer duras críticas, quer por causa do seu segundo maior rebanho comercial do mundo, quer pelas alegadas “práticas de desmatamento e baixos níveis de qualidade dos seus sistemas de produção”.

Esta história de superação vem sendo construída desde 1986, com pesquisas nas áreas de formação, manejo e recuperação de pastagens degradadas, passando-se, posteriormente, a partir de 1993/94 pelas fases de integração da pastagem com lavoura e, mais tarde, em 2008, com inclusão do componente florestal, inicialmente com o propósito de se proporcionar mais bem-estar aos animais.

Para participar da COP30 e levar ao conhecimento das nações pelo menos algumas das nossas contribuições para a solução destes problemas, os pesquisadores Luiz Orcírio Fialho de Oliveira, engenheiro-agrônomo e médico-veterinário, doutor em Nutrição Animal e chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia; Roberto Giolo de Almeida, engenheiro-agrônomo, doutor em Zootecnia (Forragicultura e Pastagens); e Mariana de Aragão Pereira, zootecnista, mestre em Economia Aplicada e doutora em Gestão Agrícola estarão presentes.

Serão levadas à COP30, para demonstração e exposição na área denominada Agrizone, as tecnologias, resultados de pesquisa e documentos descritos a seguir:

  • BPA – Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos e Bubalinos

Lançado em 2005, com aprimoramentos ao longo do tempo, este Programa envolve as práticas de bem-estar animal desde a fase de cria até o pré-abate; manejo de pastagens; suplementação alimentar e saúde animal; identificação individual dos animais, de forma a possibilitar a rastreabilidade; gestão ambiental e social; e, finalmente, administração e responsabilidade trabalhista. A aplicação deste Programa proporciona benefícios diretos pela eficiência econômica dos sistemas produtivos, com melhoria da gestão, redução do ciclo de produção e ganhos ambientais e sociais, além é claro da obediência da nossa legislação ambiental – a que mais protege o ambiente quando comparada às legislações de outros países.

  • Protocolo Carne Baixo Carbono – CBC

Este Protocolo foi desenvolvido ao longo do período de 2008 a 2020 e será lançado oficialmente durante a COP30. A estratégia adotada para a sua concepção foi avaliar a captação do gás carbônico (CO2) da atmosfera pelas pastagens, no processo natural conhecido por fotossíntese. Neste processo, na presença de luz solar, calor e umidade, as moléculas de Carbono presentes no CO2, são convertidas pelo, em parte, em carbo-hidrato – base do alimento para o gado –, e retidas, em outra parte, nas raízes das plantas e no solo. Desta forma, o CO2 captado neste processo compensa, o efeito do metano produzido pelos bovinos.

Este Protocolo envolve várias práticas e processos, tais como: formação e manejo sustentável das pastagens; recuperação de pastagens degradadas; uso da integração lavoura-pecuária; dieta animal com uso de bioinsumos e modificadores ruminais para mais eficiência no processo da digestão, diminuindo-se a emissão de metano; redução do ciclo da produção, por meio da genética e da nutrição animal; e melhoramento do sistema produtivo. Com serviço de certificação, este processo possibilita a emissão do Selo CBC.

Obs.: para minorar o efeito negativo do terceiro gás envolvido nesta questão, o óxido nitroso, a Embrapa desenvolveu o bioinsumo a base da bactéria Azospirillum brasiliense. Aplicado junto às sementes, no plantio, ou em aspersão, durante o manejo das pastagens de braquiária, este bioinsumo proporciona aumento na captação de nitrogênio da atmosfera e sua fixação biológica no solo, melhorando a produtividade das pastagens, reduzindo a necessidade de adubação nitrogenada e, portanto, diminuindo a emissão de óxido nitroso.

No dia 16 de novembro, das 16h30 às 18h, este Protocolo, desenvolvido pela parceria da Embrapa com a Marfrig, será lançado oficialmente.

  • Projeto de Levantamento de estoque de Carbono – Acrimat – Embrapa Gado de Corte

A Embrapa Gado de Corte, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (ACRIMAT) e a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) estabeleceram um Acordo de Cooperação em 2021, com o objetivo de estimar os estoques de Carbono das Paisagens do Pantanal de Mato Grosso, informação fundamental para o apoio a políticas públicas, principalmente aquelas que incentivam a sustentabilidade por meio da harmonia entre a produção econômica e a preservação do meio ambiente.

A partir de imagens de satélites e coleta de dados de campo com informações sobre o estoque de Carbono de 1.162 plantas, foram definidas seis diferentes classes de vegetação que variaram de classe 1 para paisagens sem árvores à classe 6 para paisagens com mais de 480 árvores.

Em seguida foram realizados recortes amostrais de 68 parcelas 10 x 10m, a fim de conhecer o estoque de Carbono por hectare na planície pantaneira de cada município com área no Pantanal do MT, apresentando estimativas de estoques que variaram de 28,78 toneladas/hectare nas fazendas pantaneiras do município de Barão de Melgaço/MT a 33,42 toneladas/hectare nas fazendas pantaneiras do município de Poconé/MT, representando o alto nível de conservação das paisagens nas fazendas pantaneiras, evidenciando o manejo conservacionista dos sistemas de produção de bovinos no Pantanal.

Como resultado final, foi preparado um Atlas do estoque de Carbono nestas paisagens, o qual será apresentado na COP30 para conhecimento da sociedade sobre a importância da pecuária para a região, tanto no sentido de geração de renda como também na preservação ambiental.

  • Position Paper “Pecuária brasileira como parte da solução para as mudanças climáticas” – A posição da Embrapa sobre o papel estratégico da pecuária tropical na transição para sistemas agroalimentares sustentáveis e de baixo carbono.

Este documento foi escrito como um compromisso assumido por ocasião da realização do primeiro Forum Pré-COP30: A Pecuária Como Parte da Solução, realizado pela Embrapa Gado de Corte, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e Sistema FAMASUL-Senar.

Contribuíram na redação deste documento 18 pesquisadores de diversas Unidades da Embrapa, sob a coordenação da pesquisadora Mariana de Aragão Pereira. O documento, de um modo geral, compartilha a visão de que a pecuária pode ser parte da solução do problema de aquecimento global, com potencial para contribuir com a redução das emissões de gases de efeito estufa, ao incorporar tecnologias prontamente disponíveis para o ambiente tropical, com espaço para reduzir o impacto ambiental e, ao mesmo tempo, gerar emprego, renda e segurança alimentar.

Além disso, em ambiente tropical, e conduzida predominantemente em pastagens, a pecuária brasileira proporciona bem-estar aos animais e custos de produção sensivelmente mais baixos, quando comparados aos de países de clima temperado.

A Embrapa Gado de Corte terá ainda duas participações importantes. Uma delas, no dia 13 de novembro, no “Mato Grosso do Sul Carbono Neutro 2030: segurança alimentar, transição energética e inclusão social no centro da estratégia”; e outra, no dia 17, em conjunto com a CNA.

Fonte: Embrapa

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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