
Última chamada para a reposição: Indicadores apontam valorização expressiva no preço do bezerro nos principais estados pecuários, com ciclo de alta se consolidando; especialistas da Scot Consultoria e Agrifatto analisam o cenário e projetam o que esperar até 2027
O mercado de reposição vive um momento decisivo. Com a arroba do bezerro em forte alta, acumulando valorização superior a R$ 900 por cabeça em 12 meses, segundo o CEPEA/ESALQ (MS), analistas apontam que esta pode ser a última janela de aquisição com perspectiva de boa margem para o pecuarista, antes que os preços atinjam um platô e o ciclo pecuário avance para um novo estágio.
A análise do gráfico do Indicador do Bezerro CEPEA/ESALQ para Mato Grosso do Sul mostra um salto de aproximadamente R$ 2.050 em agosto de 2024 para cerca de R$ 2.950 em julho de 2025, uma alta superior a 43%.
Essa movimentação é confirmada por dados da Scot Consultoria, que aponta o valor do bezerro desmamado no MS em R$ 2.800 em junho de 2025, contra R$ 1.959 um ano antes — acréscimo de 42,9%.
Tabela 1. Cotações do bezerro de desmama em diferentes praças, com destaque para variações anuais

Por que os preços subiram tanto?
A valorização do bezerro em 2025 não é um fenômeno isolado ou pontual — ela é o reflexo direto de decisões tomadas dois ou até três anos atrás, em um típico movimento do ciclo pecuário. A chamada “oferta atual” de bezerros está intimamente ligada à estação de monta de 2023, quando o abate de fêmeas atingiu níveis elevados e comprometeu a capacidade de reposição do rebanho.
Esse contexto é importante porque o bezerro não é um insumo industrial de pronta entrega — sua produção depende de tempo, planejamento e capacidade reprodutiva do rebanho de matrizes. Quando muitas fêmeas são abatidas, como ocorreu entre 2023 e 2025, a conta aparece dois anos depois: menor número de nascimentos, menor oferta e aumento de preços.
Além disso, há outros fatores estruturais contribuindo para a escalada dos preços:
- Demanda internacional aquecida, especialmente da China, que voltou a importar com força após um período mais contido.
- Confinamento ganhando força, puxando a procura por animais de reposição prontos para engorda.
- Maior pressão por boi padrão exportação (“boi China”), o que eleva o interesse por bezerros de qualidade genética superior e boa precocidade.
Mesmo em praças onde os preços ficaram relativamente estáveis por meses, como São Paulo e Mato Grosso, a escassez de bezerros com padrão de qualidade adequado e o retorno de frigoríficos às compras mais agressivas mudaram a tendência de mercado, elevando o piso das negociações.
Ou seja, não é apenas valorização: é uma reprecificação estrutural que, se a pecuária repetir os erros do passado — como novo descarte precoce de matrizes —, pode se prolongar por mais tempo do que o planejado.
Gráfico 1. Participação (%) anual* de fêmeas no abate de bovinos no Brasil, e preços reais (deflacionados pelo IGP-DI) para a arroba do boi gordo e do bezerro de desmama, em São Paulo.

E ainda vale a pena comprar?
Essa é a pergunta-chave para quem atua com recria e engorda. A Scot traça cenários projetando margens para animais comprados hoje e terminados em 2027, considerando sistemas de pasto com 22 meses de terminação. Os cálculos mostram que há retorno positivo para compras até o primeiro semestre de 2025, com base nos preços atuais do boi gordo (R$ 305,40/@) e nos valores médios de aquisição dos bezerros.
“O bezerro adquirido em outubro de 2024 ainda trará retorno positivo”, aponta o relatório. Porém, os especialistas alertam: caso os preços do boi gordo não acompanhem as altas do bezerro nos próximos anos, as margens podem voltar a ficar apertadas.
Tabela 2. Exemplo do cálculo da margem bruta do produtor com a venda do bezerro após 22 meses.

Agrifatto confirma melhora na relação de troca
Em paralelo, a Agrifatto sinaliza melhora no poder de compra do invernista, com avanço na relação de troca bezerro/boi gordo, puxado pela valorização da arroba do boi em junho.
A média nacional fechou junho em 2,16 bezerros por boi gordo, com alta de 1,04% em relação a maio, indicando uma leve vantagem para o pecuarista que busca repor o plantel.
São Paulo, por exemplo, teve avanço de 3,27% na troca, alcançando 2,25 cab/cab, enquanto o boi magro também seguiu essa tendência com média nacional de R$ 4.162,26/cab, a maior desde março de 2022.
Ciclo de alta ou armadilha de margem no preço do bezerro?
Esse é o ponto mais delicado e decisivo para o pecuarista em 2025: estamos diante de um novo ciclo de alta com potencial de boa margem, ou caminhamos para um cenário onde o ágio do bezerro comprometerá o lucro?
A Scot Consultoria responde com números: bezerros comprados até meados de 2025 ainda projetam margens brutas positivas para abate até 2027, assumindo que a arroba do boi gordo se mantenha nos patamares atuais (R$ 305,40/@). Mas o que torna essa equação arriscada é o “se”.
Historicamente, quando o preço do bezerro sobe muito rápido, o risco de achatamento da margem aumenta — especialmente se o boi gordo não acompanha na mesma proporção. É o famoso “comprar caro e vender no mesmo preço”, o que leva a margens negativas, como foi visto entre 2022 e 2023.
Por outro lado, há fundamentos para sustentar otimismo:
- O mercado futuro (B3) já trabalha com contratos acima de R$ 330/@ para outubro/25, sugerindo tendência altista no médio prazo.
- O abate elevado de fêmeas ainda não foi revertido, o que deve manter a oferta de bezerros apertada nos próximos dois anos.
- Demanda internacional firme e dólar valorizado criam um ambiente favorável às exportações, ajudando a sustentar o boi gordo em patamares mais elevados.
No entanto, o pecuarista não pode cair na armadilha do “otimismo automático”. Quem comprar bezerros agora precisa ter estratégia clara de terminação, controle de custos e olhar para o mercado futuro. A gestão de risco com ferramentas como barter, contratos a termo ou hedge via B3 pode ser decisiva para proteger a margem projetada.
Em resumo: sim, estamos em um ciclo de alta. Mas quem não fizer conta pode transformar oportunidade em armadilha.
A janela está aberta, mas não por muito tempo
Julho de 2025 pode ser a última chance de comprar bezerros com preço ainda competitivo frente às expectativas de margem futura. Quem deixar para depois pode enfrentar valores mais altos e margens mais apertadas, a depender do comportamento do mercado de boi gordo.
Com fundamentos técnicos sólidos e indicadores históricos favoráveis, a decisão do pecuarista agora exige análise estratégica, gestão de risco e atenção aos ciclos da cadeia produtiva.
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