Com a nutrição representando cerca de 70% do Custo Operacional Total (COT), a escolha correta entre vagões, caminhões misturadores e softwares de gestão de dieta é determinante para reduzir o desvio padrão no consumo e blindar a margem de lucro
Definir a automação de trato ideal é o ponto de virada estratégico para confinamentos que buscam blindar a margem de lucro em um cenário de insumos valorizados. Visto que a nutrição representa, em média, 70% do Custo Operacional Total (COT), o erro na seleção da tecnologia não afeta apenas a logística operacional, mas impacta diretamente o desvio padrão do consumo e a conversão alimentar do rebanho.
A grande dúvida do produtor, no entanto, reside no dimensionamento: até que ponto vale a pena investir em automação pesada? A resposta passa longe do “tamanho do rebanho” isoladamente e foca na complexidade da dieta e na logística operacional.
O custo da imprecisão
Dados de consultorias zootécnicas apontam que falhas na mistura — que permitem a seleção de ingredientes pelos animais (o famoso “escolher a comida”) — podem gerar uma variação no consumo de matéria seca (CMS) superior a 10% entre os animais de um mesmo lote.
Essa variabilidade resulta em dois problemas crônicos:
- Acidose subclínica: Animais que consomem mais concentrado do que o planejado.
- Desempenho inferior: Animais que consomem apenas a fibra, reduzindo o Ganho Médio Diário (GMD).
Para mitigar esses riscos, a escolha da automação deve seguir três pilares técnicos: Homogeneidade da Mistura, Tempo Operacional e Gestão de Dados.
O Perfil da Automação de Trato vs. Escala
Não se trata apenas de comprar um vagão misturador, mas de escolher o mecanismo (rotors, tombadores, roscas verticais ou horizontais) adequado aos ingredientes utilizados.
- Pequenos e Médios Projetos (Até 1.000 cabeças estáticas): Para dietas com alto teor de volumoso e fibra longa, vagões com roscas verticais costumam oferecer melhor quebra da fibra sem processar excessivamente a dieta. O erro comum aqui é o subdimensionamento: tentar usar misturadores de baixa capacidade para muitos lotes, o que força o operador a reduzir o tempo de mistura abaixo dos 3 a 5 minutos ideais, comprometendo a homogeneidade.
- Projetos de Alta Escala (Acima de 5.000 cabeças): Aqui, a automação migra para caminhões misturadores e linhas de distribuição com GPS. O foco é o Tempo de Ciclo. Um caminhão precisa carregar, misturar e distribuir em tempo hábil para que o trato não “esquente” no cocho. A tecnologia mandatória neste nível inclui balanças eletrônicas integradas via telemetria a softwares de gestão (como DataLink ou similares), que monitoram o Desvio Padrão do fornecimento em tempo real. Se a meta é fornecer 100kg e o operador fornece 105kg, o sistema alerta. Em um confinamento de 10 mil bois, 5% de desperdício diário equivale a toneladas de ração jogadas fora por mês.
Acurácia e coleta de sobras
A tecnologia ideal é aquela que permite a leitura precisa das sobras de cocho. Sistemas avançados utilizam algoritmos para ajustar a oferta do dia seguinte com base na leitura das sobras do dia anterior (escore de cocho).
Confinamentos que adotam automação na leitura de cocho relatam uma melhoria na Eficiência Alimentar (EA) na ordem de 5% a 8%, pois evitam o fornecimento excessivo (que vira sobra descartada) e o subfornecimento (que limita o ganho de peso).
A matemática da escolha
A equação para definir a tecnologia é:
(Custo da Tecnologia + Manutenção) < (Economia gerada pela redução do desperdício + Ganho adicional em GMD)
Se a automação custa R$ 200.000,00, mas economiza R$ 0,30 por cabeça/dia em eficiência e desperdício, em um rebanho de 5.000 animais, a economia diária é de R$ 1.500,00. O payback (retorno do investimento) torna-se claro e rápido.
A automação ideal não é a mais cara, mas a que entrega a dieta formulada pelo nutricionista, dentro do cocho, com o menor desvio padrão possível, garantindo que o boi coma exatamente o que foi calculado para gerar lucro.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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