Avicultura tem cenário favorável com custos em queda, mas carrega riscos com a gripe aviária

A detecção dos primeiros casos da doença em aves silvestres no Brasil desde maio, acendeu um alerta no setor.

O cenário para a avicultura começou a ficar menos pressionado a partir do segundo trimestre de 2023, com o alívio nos custos da ração, isso após os últimos três anos terem sido bastante desafiadores para as margens do setor, dado o choque de preços dos grãos. Todavia, apesar das margens apertadas, o setor continua crescendo a produção apoiado principalmente na forte demanda externa.

Acreditamos ser possível um novo recorde de exportação de carne de frango em 2023, desde que o Brasil não sofra eventuais embargos associados ao avanço dos casos de gripe aviária. A detecção dos primeiros casos da doença em aves silvestres no Brasil desde maio, acendeu um alerta no setor, dada a maior proximidade do problema dos sistemas de produção comercial de carne de frango e ovos. As medidas de biossegurança foram reforçadas e o país decretou emergência zoossanitária no sentido de desburocratizar o uso de recursos para seu enfrentamento. No momento em que este trabalho foi publicado, o Brasil tinha confirmados 62 casos em aves silvestres em 7 estados, 2 em criação de subsistência, e nenhum em granjas comerciais. Com isso, o país segue sustentando o status sanitário internacional de livre de gripe aviária embora já tenha sofrido embargo por parte do Japão aos produtos do ES e SC.

Caso o país venha a ter casos em granjas comerciais, a dimensão dos impactos dependerá muito da contenção ou não do avanço da doença. Num cenário hipotético de proliferação dos casos em granjas comerciais, é possível que, em curto prazo, observemos o fechamento de alguns mercados externos com consequente maior direcionamento da produção para o mercado doméstico, o que tenderia a reduzir os preços da carne.

Além disso, a necessidade de se reduzir de maneira forçosa o ritmo de atividade geraria impacto negativo na demanda por milho, dado que a avicultura de corte representa próximo de 45% da demanda de milho para rações no país e outros 9% a postura. Entretanto, caso esta hipotética introdução da gripe aviária no sistema comercial ocorra seguida do controle no avanço para outras áreas, é de se esperar que o problema seja temporário e restrito à área afetada e seu entorno, com consequências bem mais brandas em termos de bloqueios à exportação, excedentes de carne no mercado interno e demanda por milho.

Apesar das preocupações com a gripe aviária, o cenário para as exportações é positivo, na medida em que os EUA, principal concorrente, devem ter um pequeno crescimento dos embarques em 2023, segundo o USDA, da ordem de 1,3%, ou 42 mil t, enquanto para o Brasil, o Departamento Americano estima aumento de 8,5%, o que equivale a 378 mil t. Com isso, a participação do Brasil na exportação total subirá de 33% em 2022 para 35% neste ano.

Entre os importadores, o destaque é a China, com previsão de absorver 725 mil toneladas em 2023, 14,5% acima das compras do ano passado. O país asiático tornou-se o principal comprador externo do produto brasileiro, respondendo atualmente por 17% do total in natura.

No mercado doméstico, embora a ave carregue o apelo do baixo preço do quilo quando comparado à carne bovina, em termos relativos, a competição deverá seguir  intensa, dado o aumento da oferta de gado e o consequente barateamento da proteína bovina ao consumidor final. Além disso, o cenário econômico doméstico deve continuar desafiador em termos do crescimento projetado para o PIB, apesar do início do ciclo de cortes de juros estar possivelmente mais próximo.

Indústria de carne de frango – custos aliviando e boa demanda

Com os custos da ração mais baixos, acreditamos que as margens da avicultura tenderão a se fortalecer ao longo do segundo semestre de 2023 e início de 2024, a despeito de um
provável aumento da oferta que deve ocorrer, como resposta ao ambiente mais favorável sob a ótica dos custos. Todavia, a depender da intensidade dos novos alojamentos, o benefício dos custos mais baixos pode ser anulado pelos preços mais fracos da carne, derivados do excesso de oferta.

Além disso, entendemos ser essencial às companhias, uma relação próxima e boa comunicação para com os compradores externos, juntamente da preservação da liquidez diante do cenário incerto associado aos desdobramentos da gripe aviária, dado que isso pode exigir empenho relevante de capital até que a situação se normalize.

Fonte: Consultoria Agro/Itaú BBA

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