
É fundamental começar esclarecendo que simples não é o mesmo que pobre, simplicidade é uma escolha, um modo de vida, uma postura cultural e ética
Quando uma nova matéria sobre Hannah Neeleman e sua Ballerina Farm surge na mídia, é quase automático que o primeiro comentário que aparece seja algo como: “Ah, mas ela não é simples, é rica!”. Essa observação virou um clichê tão repetido que merece ser desconstruída, não com ironia vazia, mas com uma análise antropológica que nos convide a pensar com mais profundidade.
Simplicidade não é sinônimo de pobreza
É fundamental começar esclarecendo que simples não é o mesmo que pobre. Simplicidade é uma escolha, um modo de vida, uma postura cultural e ética. Pobreza, por sua vez, é uma condição socioeconômica que muitas vezes restringe escolhas e impõe dificuldades. São conceitos distintos que se confundem apenas quando nos falta olhar mais atento.
Exemplos não faltam: há pessoas pobres que vivem cercadas de consumismo, exibicionismo e relações superficiais; e há ricos que vivem com as mãos na terra, valorizando o básico, o natural, a rotina honesta e a conexão com o que realmente importa.
Hannah Neeleman: riqueza com simplicidade
Hannah não nega sua origem privilegiada — seria absurdo negar as condições que possibilitaram sua escolha. Mas a riqueza não apaga a simplicidade das práticas e do cotidiano dela.
- Rotina agrícola e manual: Hannah cria gado, cuida dos porcos, faz pães, planta flores e está envolvida ativamente na operação da fazenda. Isso não é marketing, é trabalho de verdade, com suor e mãos sujas.
- Estética e vida doméstica: seus vestidos florais, aventais de tecido gingham e ambientes vintage remetem a uma vida desacelerada e dedicada à família — não a uma ostentação vazia, mas a uma escolha estética alinhada à simplicidade.
- Gestos de cuidado: criar oito filhos em uma fazenda, educar e estar presente nas pequenas tarefas do dia, requer entrega e uma dedicação que nada tem de fútil.
Mulheres modernas e a comparação imposta

É comum ver mulheres modernas — que vivem o corre-corre das grandes cidades, do mercado de trabalho competitivo, da vida tecnológica — dizerem que “não podem se comparar” a Hannah. E, de fato, ninguém mandou que se comparem. O propósito da vida de Hannah não é ser um padrão para todas, mas uma alternativa real e legítima para quem deseja e pode escolher esse caminho.
Essa tensão entre estilos de vida reflete conflitos sociais mais profundos: o medo do diferente, o questionamento da liberdade de escolha da mulher, e o embate entre o urbano-industrial e o rural-artesanal.
A crítica simplista e o convite à reflexão
Quando alguém diz que Hannah não é simples por ser rica, está simplesmente caindo numa armadilha de raciocínio superficial, que confunde condição financeira com modo de vida, status social com valores pessoais.
A simplicidade da Ballerina Farm está na escolha diária — acordar cedo, cuidar do solo, da criação, fazer pão à mão — não no extrato bancário.
Essa distinção é essencial para entendermos o fenômeno que a fazenda representa: um resgate de valores que muitos perderam, uma reafirmação do vínculo humano com a natureza e uma inspiração para a reinvenção da vida no campo.
Conclusão antropológica
A Ballerina Farm, através da vida e das escolhas de Hannah Neeleman, nos desafia a repensar preconceitos culturais e econômicos. Mostra que o verdadeiro simples é um estado de espírito e prática, acessível a quem quer se conectar com o essencial, independentemente do capital financeiro.
E mais: revela que a simplicidade pode conviver com a riqueza — não como contradição, mas como equilíbrio.
Portanto, antes de desacreditar alguém porque tem dinheiro, vale entender que o que importa é como ele vive, o que valoriza e o que escolhe cultivar — na terra e na vida.
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