Bancos e agro lideram ganhos financeiros do 4º trimestre; varejo vai na contramão

Segundo especialistas, empresas do setor de mineração e siderurgia também se beneficiaram com os preços elevados das commodities e o real enfraquecido

Os bancos e as companhias do setor agrícola lideraram os ganhos da temporada de balanços financeiros do 4º trimestre, que terminou na quinta-feira (31). No sentido contrário, com resultados negativos, está o varejo.

As instituições financeiras apresentaram resultados acima do esperado pelos especialistas entrevistados pelo CNN Brasil Business. O estrategista de ações da Santander Corretora, Ricardo Peretti, afirmou que os bancos se mostraram resilientes ao longo de 2021.

O Itaú, por exemplo, registrou lucro líquido de R$ 7,2 bilhões no 4º trimestre de 2021, 33% acima do mesmo período de 2020. A alta se deve à recuperação do segmento de seguros e o crescimento de crédito, principalmente as linhas de cartões e financiamento de veículos, segundo Peretti.

Já o Banco do Brasil teve, no último trimestre de 2021, lucro líquido ajustado de R$ 5,9 bilhões, crescimento de 60,5% na comparação anual. No acumulado do ano, os ganhos foram de R$ 21 bilhões, um recorde para a instituição.

As empresas do setor de mineração e siderurgia também se beneficiaram com os preços elevados das commodities e o real enfraquecido. Segundo o analista sênior de renda variável da AZ Quest, João Mamede, os destaques no trimestre ficaram por conta de Usiminas e Gerdau.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização), que é usado para analisar a geração de caixa de uma empresa, praticamente dobrou na comparação de ano contra ano.

No caso da Usiminas, o ebitda ajustado atingiu R$ 2,45 bilhões no quarto trimestre de 2021, alta de 53% em relação ao mesmo período do ano anterior. Enquanto o da Gerdau ficou em R$ 6 bilhões, recorde para o período entre outubro e dezembro.

Segundo Mamede, outro ponto forte foi a geração de caixa das companhias. A Usiminas, por exemplo, terminou 2021 com posição de caixa líquida (maior do que a dívida).

Piores desempenhos

Segundo João Daronco, analista da Suno Research, o varejo teve o pior desempenho no período. Em geral, o quarto trimestre é um período muito forte para o setor, que se beneficia com as vendas da Black Friday e do Natal. “Tivemos decepções em ambos os períodos”, diz Daronco.

Tanto o analista da Suno Research quanto o da AZ Quest afirmam que o cenário macroeconômico pesou para o varejo, com a alta da inflação, o aumento na taxa de juros e a diminuição da massa salarial, que afetaram poder de compra dos brasileiros.

A Marisa, por exemplo, reportou prejuízo líquido de R$ 3 milhões no 4º trimestre, seguindo abaixo do breakeven —termo usado para dizer que a receita é maior que os custos fixos e variáveis. Ou seja, o valor para cobrir os custos de produção e comercialização, sem ver lucro, ficou abaixo do necessário.

“[O breakeven] é um sinalizador sobre a saúde financeira de uma empresa”, diz Tiago Reis, analista da Suno.

Já a Via, ex Via Varejo, informou lucro líquido de R$ 29 milhões entre outuro e dezembro, queda de 91,4% se comparado com o mesmo período de 2020. No dia da divulgação, em 10 de março, as ações ordinárias da companhia caíram 4,11%.

E o Magazine Luiza registrou um lucro líquido contábil de R$ 93 milhões no quarto trimestre de 2021, valor 57,6% menor na comparação anual.

Expectativas para o futuro

O analista da Suno Research aponta que o primeiro semestre ainda será bastante difícil. “Iniciamos o ano com o conflito na Ucrânia, [e também] deveremos ter alguma turbulência por conta das eleições”.

“Dessa forma, não vejo como sendo um ano de mares calmos para as empresas brasileiras, principalmente aquelas altamente dependentes do consumo pelo mercado doméstico”.

Com a alta das commodities devido à guerra na Ucrânia, os especialistas avaliam que as empresas ligadas ao setor, principalmente petróleo e minério de ferro, devem continuar a reportar resultados robustos.

Levantamento da consultoria Safras & Mercados, produzido a pedido da CNN Brasil, aponta que o milho e a soja atingiram o maior preço dos últimos dez anos, neste mês de março. O primeiro chegou a US$ 7,64 no dia 11, enquanto o segundo atingiu US$ 17,05 no dia 1º de março.

O trigo ainda bateu o recorde, segundo Safras & Mercados. O grão chegou a ser negociado a US$ 14,25 por bushel (unidade de medida usada como padrão para negociações internacionais dessas commodities), no dia 7 deste mês.

Por outro lado, o analista da AZ Quest afirma que as empresas mais dependentes da dinâmica interna, como as companhias de consumo e varejo, devem continuar a enfrentar as mesmas dificuldades do trimestre anterior.

“Para haver uma reversão dessa tendência, é fundamental que a inflação mostre sinais de arrefecimento”.

A temporada de divulgação dos balanços financeiros do primeiro trimestre de 2022 começa em 20 de abril, com os resultados da Usiminas, e termina em 3 de novembro, com o da BrasilAgro, segundo dados prévios da B3.

Fonte: CNN Brasil

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