Bayer tenta novo acordo sobre Roundup, enquanto estuda falência da Monsanto

Com mais de 67 mil processos em andamento e prejuízos bilionários – indenizações que já superam US$ 10 bilhões, gigante alemã Bayer busca alternativas legais nos EUA para conter impacto do “legado tóxico” da Monsanto

A Bayer, multinacional alemã com atuação global nas áreas de saúde, nutrição e agricultura, vive um dos capítulos mais conturbados de sua história desde que adquiriu a Monsanto por US$ 63 bilhões em 2018. A compra, que visava fortalecer sua posição no setor agroquímico, transformou-se em um pesadelo jurídico e financeiro, marcado por mais de 67 mil processos judiciais que ligam o herbicida Roundup ao desenvolvimento de câncer em usuários.

Agora, pressionada por indenizações que já superam US$ 10 bilhões e com apenas US$ 6,2 bilhões restantes em provisões legais, a empresa elabora um plano duplo: buscar um novo acordo judicial nos EUA e, em caso de insucesso, levar a Monsanto à recuperação judicial por meio do Chapter 11, dispositivo da legislação americana equivalente à recuperação judicial brasileira.

Acordo ou falência: planos paralelos da Bayer

De acordo com fontes ligadas à companhia e reportagens do Wall Street Journal, a Bayer está negociando uma resolução para os processos ainda pendentes na Justiça do Missouri — estado onde a Monsanto tem sede. Caso não haja avanço, a entrada com pedido de falência da subsidiária Monsanto é considerada uma forma de concentrar os litígios em um tribunal de falências e suspender temporariamente as ações em curso, ganhando fôlego financeiro e tempo para reestruturar seus passivos.

A estratégia, no entanto, não é inédita nem isenta de riscos. Grandes corporações como Johnson & Johnson e 3M tentaram manobras semelhantes com suas subsidiárias — ambas sem sucesso, sendo obrigadas a recuar após decisões contrárias da Justiça americana.

Monsanto: Impacto nos negócios e reações do mercado

Desde a aquisição da Monsanto, o valor de mercado da Bayer encolheu 80%. Em 2024, a empresa reportou prejuízo líquido de € 2,55 bilhões, somado a uma queda contínua nas vendas da divisão agrícola, especialmente devido à competição de genéricos vindos da Ásia e ao declínio no preço do glifosato.

A situação é tão grave que a Bayer obteve autorização dos acionistas para diluir suas ações em 35% e levantar US$ 9 bilhões, buscando recursos extras para lidar com os processos. Mesmo assim, investidores criticam a gestão atual, liderada por Bill Anderson, apontando falhas estratégicas e ausência de sinergia entre os braços farmacêutico e agrícola da empresa.

Roundup no centro da crise

O epicentro da crise é o Roundup, herbicida à base de glifosato amplamente utilizado em lavouras de soja, milho e algodão. Agricultores norte-americanos aplicam cerca de 300 milhões de libras de glifosato por ano, segundo o Serviço Geológico dos EUA. A Bayer insiste que o produto é seguro, respaldando-se em pareceres da Agência de Proteção Ambiental (EPA), que não encontrou evidências conclusivas de que o glifosato cause câncer.

No entanto, tribunais americanos vêm decidindo em sentido oposto. Em janeiro de 2024, um júri da Pensilvânia condenou a Bayer ao pagamento de US$ 2,25 bilhões após concluir que a Monsanto “não alertou sobre os perigos” do Roundup.

Próximos passos

A Bayer aguarda uma decisão da Suprema Corte dos EUA, que pode ocorrer ainda em junho de 2025, sobre a admissibilidade de um novo recurso relacionado aos litígios do glifosato. Paralelamente, segue investindo em lobby junto a legisladores estaduais e federais na tentativa de aprovar leis que limitem a responsabilidade civil futura da empresa.

A expectativa da companhia é encerrar ou estabilizar os litígios nos próximos 12 a 18 meses, segundo Rodrigo Santos, brasileiro à frente da divisão agrícola da Bayer. Até lá, a empresa caminha sobre uma linha tênue, tentando proteger sua imagem, preservar caixa e evitar que o “legado tóxico” da Monsanto comprometa ainda mais seu futuro.

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