
Casos acendem alerta de saúde pública; vítimas sofreram intoxicação grave após consumir bebidas adulterada por metanol ou “batizadas” com substância altamente tóxica
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo confirmou nesta segunda-feira (29) a terceira morte causada pela ingestão de bebida alcoólica adulterada com metanol. O caso mais recente ocorreu em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e integra uma série de ocorrências de envenenamento que vêm preocupando autoridades sanitárias e policiais no estado .
Nos últimos 25 dias, três pessoas morreram e outras seis foram hospitalizadas após consumir bebidas supostamente adulteradas. A substância, utilizada indevidamente na fabricação de bebidas falsificadas, é altamente tóxica e pode causar cegueira, falência múltipla de órgãos e morte, mesmo em pequenas doses.
Casos confirmados e investigações em andamento
De acordo com o Centro de Vigilância Sanitária (CVS), até o momento foram seis casos confirmados de intoxicação por metanol e dez em investigação no estado de São Paulo . As vítimas confirmadas são:
- Homem de 58 anos, morador de São Bernardo do Campo;
- Homem de 54 anos, residente na capital;
- Homem de 45 anos, com local de residência ainda investigado .
Entre os pacientes internados está Rafael dos Anjos Martins Silva, que permanece em estado grave na UTI, e Rhadarani Domingos, que ficou cega após consumir caipirinhas de vodca em um bar no Jardim Paulista. Segundo relatos da família, o quadro de Rafael é considerado irreversível, com ausência de fluxo sanguíneo cerebral .
Como as intoxicações da bebida adulterada com metanol ocorreram
As vítimas consumiram bebida adulterada com metanol, principalmente gin e vodca adquiridos em adegas e bares da capital e da Grande São Paulo. Uma força-tarefa composta por policiais e fiscais da Vigilância Sanitária realizou operações em estabelecimentos suspeitos, apreendendo 117 garrafas sem rótulo .
O Ministério da Justiça, por meio do Sistema de Alerta Rápido (SAR), registrou nove casos de intoxicação nas últimas semanas, número considerado fora do padrão pela concentração em curto período .
O que é o metanol e por que é tão perigoso
O metanol (CH₃OH) é um álcool simples e inflamável, utilizado na indústria química para a fabricação de solventes, tintas, plásticos e biodiesel. Não é destinado ao consumo humano. Sua ingestão, inalação ou contato prolongado pode causar náuseas, convulsões, cegueira e morte .
Mesmo pequenas quantidades são capazes de provocar danos neurológicos irreversíveis. O efeito tóxico ocorre porque o organismo converte o metanol em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que lesam o sistema nervoso central e o nervo óptico.
Possível ligação com o crime organizado
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levanta a hipótese de que o metanol utilizado nas bebidas seja proveniente de contrabando destinado à adulteração de combustíveis. Investigações do GAECO e do Ministério Público de São Paulo já apontaram que facções criminosas importam ilegalmente o produto, e parte desse estoque pode ter sido redirecionada a destilarias clandestinas para falsificar bebidas alcoólicas .
Segundo a entidade, o fechamento de distribuidoras irregulares nas últimas semanas teria levado criminosos a buscar novos meios de escoar o produto, resultando nesse surto de intoxicações.
Alerta e recomendações das autoridades
As autoridades estaduais reforçam que bebidas adulteradas representam grave risco à saúde pública. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) emitiu alerta técnico para intensificar a fiscalização em bares, adegas e distribuidoras .
A Abrasel-SP recomenda:
- Comprar apenas de fornecedores confiáveis, com nota fiscal e selo de autenticidade;
- Destruir garrafas vazias para evitar reutilização por falsificadores;
- Evitar preços muito abaixo do mercado, pois podem indicar fraude .
A população deve redobrar a atenção e procurar atendimento médico imediato em caso de sintomas como tontura, visão turva, náusea ou convulsões. O Centro de Controle de Intoxicações de SP atende pelos números (11) 5012-5311 e 0800 771 3733 .
Uma tragédia evitável
O aumento dos casos de envenenamento por metanol em São Paulo evidencia uma crise de fiscalização e rastreabilidade de bebidas alcoólicas. Mais do que um problema policial, trata-se de um grave desafio de saúde pública, que exige ação coordenada entre governo, setor privado e consumidores para impedir novas tragédias.
“Bebidas adulteradas destroem vidas, famílias e a confiança no setor. Precisamos combater com firmeza esse crime”, alerta Gabriel Pinheiro, diretor da Abrasel-SP .
Foto: Hera Food/Alamy via BBC
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