Berrante: Símbolo da pecuária brasileira

Canal do Youtube acompanha confecção de um dos instrumentos mais importantes da pecuária brasileira, o berrante

Os berrantes surgiram há mais de três séculos, época em que o próprio tropeirismo dava seus primeiros passos e talvez seja por isso mesmo que é tão difícil dissociar uma coisa da outra. Ao nascer, o berrante tinha uma primeira função: ajudar os tropeiros a agrupar os animais. Os primeiros berrantes eram feitos do chifre do boi pedreiro – antiga raça surgida em meados de 1910 cujos chifres podiam chegar até 1,50m de comprimentos – mediam mais de um metro,eram fundamentais no transporte de boiadas de até 85 marchas e seu som era bastante grave

A cultura foi difundida em Mato grosso, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Minas Gerais. Conduzir a boiada por trechos com obstáculos naturais, como rios e matas fechadas, não é uma tarefa das mais fáceis, isso sem contar os perigos enfrentados como onças, cobras, jacarés, piranhas etc. Com esse trabalho árduo, a música era uma distração, assim surgiu a associação da música sertaneja ao berrante, tornando-o tema de músicas e até fazendo parte da música.

O berrante funcionava como uma comunicação dos boiadeiros.

berranteira rarissa lombardi
Foto: Rarissa Lombardi / Instagram @berranteira_rl

Tipos de toque do berrante

  • Saída “Solta”
    • É um toque quando da saída da boiada do seu pouso. O capataz ele vai até a porteira para contar a boiada, enquanto o ponteiro (berranteiro) executa o toque.
  • Estradão 
    • Quando a boiada toma o corredor (estrada) e vai seguindo calmamente o ponteiro da o toque de estrada. O som deste toque agrada muito a boiada.
  • Rebatedoro (Toque perigo)
    • É um toque utilizado para chamar um peão que esta no meio da boiada para vir junto com o ponteiro, no qual irá cercar uma encruzilhada, evitando assim que a boiada se separe ou para auxiliar quem está la na frente em caso de uma situação de emergência qualquer.
  • Queima do alho – (Almoço)
    • Neste caso o cozinheiro da comitiva vai na frente, umas duas horas aproximadamente, e quando acha um lugar ideal para o descanso da boiada, freqüentemente junto de um riacho ele para fazer o almoço. O ponteiro ao avistar o cozinheiro. ele executa este toque para avisar os peões para adiantar a marcha da boiada. O boi também aprende este toque porque ele associa pelo condicionamento que vai descansar e beber água.

Características do Berrante

  1. A ponta do berrante recebe o nome de bocal;
  2. Berrantes com emendas deixam o ar vazar, por isso, às vezes são apenas bonitos;
    Berrante é cultura, folclore, saudade;
  3. O som deve ser limpo e ter sentimento, caso contrário irrita o berranteiro;
  4. O som do berrante é contagiante, conquista mundos, corações, religiões, rádios, TV, jornais, cavalgadas, missas… Não tem paleta, corda, teclado;
  5. A nota é dada na boca do berranteiro e cada berranteiro cria um estilo próprio e traz saudades, alegrias, emoções e às vezes leva lágrimas;
  6. Quanto menos se coloca a boca no bocal, melhor é o som;
  7. O bocal tem o lado certo, por isso existem berrantes para destros e canhotos.

A matéria-prima do berrante

Proveniente de bois da raça gir e guzerá – chega dentro grandes sacos que se empilham por toda a fábrica. Em cada berrante são usados cinco chifres, que passam pelas etapas de seleção de tamanhos, corte, lixação, polimento e acabamento. “Temos que escolher muito bem quais chifres serão usados em cada peça. O encaixe deve ficar perfeito para o som não vazar”, afirma Pâmela, que trabalha em todo o processo. Ela conta que o brilho do instrumento, ao contrário do que muitos imaginam, não se deve a verniz ou produtos químicos. “Conseguimos o brilho só com o polimento final”, diz.

gir leiteiro
Foto: Padma Consultoria Pecuária @padmaconsultoria
Vacada Guzerá

Raça Guzerá / Foto: DivulgaçãoO Manual do Mundo é o maior canal de ciência e tecnologia do YouTube Brasileiro, confira o vídeo:

Serjão Berranteiro

Essa matéria nos fez lembrar do icônico “Serjão Berrantero matador de onça”, confira abaixo a apresentação desse sertanejo.

Sobre a ArtChifre

A empresa fica na Zona Leste de São Paulo, a prática é uma herança da família de Marciel Malaquias, que hoje gerencia a produção centenária. Na oficina artesanal batizada de ArtChifre, ele trabalha ao lado dos filhos Fernando, Débora e Pâmela, cercado por quase 20 toneladas de chifres de boi. Por mês, são produzidos 30 berrantes, que são vendidos em lojas e selarias de todo o Brasil.

Tudo começou com um sonho, em que o avô de Marciel viu uma montanha de chifres. “Então ele decidiu ir a um matadouro e comprou a primeira sacolinha de chifres. Com uma serra, fez a primeira peça, que era um pinguinzinho, um enfeite”, diz. A peça foi posta à venda em uma mercearia e, como era novidade, fez sucesso. “Meu avô aumentou a produção e foi abastecendo a loja. As vendas estavam dando certo, então colocou os filhos para trabalhar. Meu pai começou com ele com treze anos de idade”.

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