Biodiesel: Terror das camionetes movidas a diesel está de volta

Motoristas brasileiros estão preocupados que nem todos os veículos a diesel estão preparados para receber uma mistura tão alta de biodiesel

Em março, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu elevar a mistura de biodiesel no diesel para 12% no país, um movimento comemorado por produtores, especialmente da indústria de soja, que responde pela maior parte da matéria-prima. O CNPE decidiu que a mistura de biodiesel ao diesel fóssil passará dos atuais 10% para 12% a partir deste mês de abril. Em 2024, ela será elevada para 13%; em 2025 irá para 14%; em 2026 será elevada para 15%. A data para entrada em vigor dos teores poderá ser antecipada com base em avaliação pelo CNPE dos aspectos relacionados à oferta e à demanda de biodiesel, bem como de seus impactos econômicos, informa o Ministério de Minas e Energia.

“Fizemos estudos técnicos profundos para evitar que tivesse um impacto econômico muito grave no preço do diesel e, portanto, chegamos à conclusão que o número mais coerente [é de 12%], que não impacta praticamente nada, 1 centavo a cada 1% do aumento da composição [de biodiesel]”, explicou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em entrevista após a reunião.

Silveira explicou que é pacificado em todo o mundo pela indústria automotiva que a elevação de biodiesel em até 15% não traz prejuízos para operação de motores e equipamentos com esse teor de mistura. “Estamos desenvolvendo estudos para poder darmos mais segurança no aumento do biodiesel, levando em consideração a balança técnica, comercial, mas, fundamentalmente, social, que é o grande espectro do governo do presidente Lula, combater a desigualdade no país”, disse o ministro.

Na avaliação de Tatiana Cymbalista, sócia da Manesco Advogados, o aumento do percentual mínimo de biodiesel incorporado no diesel em território nacional decorre de uma política pública que precisa ponderar diversos fatores.

“O aumento na mistura para 15% nos próximos dois anos é uma decisão técnica e política, com base na alta qualidade do biodiesel nacional e na capacidade instalada da nossa indústria, que já é uma das melhores do mundo. A Frente é um movimento político suprapartidário, com 220 parlamentares, e é um dos principais articuladores da política nacional do biodiesel junto ao governo” – avalia a advogada.

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Foto: Divulgação

Qual o problema dessa mudança na lei do biodiesel?

Quando o diesel chegou aos 13%, há dois anos, foi um festival de motores enguiçados, tanques, bombas, bicos e injetores entupidos. Pois o biodiesel provoca a formação de borra, o que é uma pena, porque ele é um combustível limpo, feito a partir de vegetais. O teor no diesel acima de 10% provocou protestos das associações dos fabricantes de veículos, dos postos e dos concessionários. Mas na decisão política que se danem os motoristas.

Especialistas falam sobre os problemas nos motores

Pode anotar aí: motor movido a diesel vai voltar a apresentar problemas no Brasil. Se você tiver outra opção, evite comprar um veículo com motor a diesel. Porque é inacreditável, mas explicável, a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), do Ministério de Minas e Energia, em concordar com a pressão pelo aumento do teor de biodiesel no diesel, de 10% para 12%, agora em abril.

O biodiesel é um combustível limpo produzido a partir de grãos. Contribui para o desenvolvimento econômico, geração de empregos e limpeza da atmosfera.

Então qual é o problema?

O percentual de biodiesel no diesel já havia chegado a 13% em 2021 e o resultado foi caótico. Filtros e bicos injetores entupidos com a borra do combustível. O biodiesel não pode ficar armazenado durante semanas porque ele é higroscópico, ou seja, absorve água e forma borra no fundo do tanque. E é essa borra que entope motores de caminhões, SUVs e ônibus, das bombas de abastecimento nos postos e até geradores em hospitais, gerando grande risco.

No governo Bolsonaro o teor de biodiesel no diesel foi reduzido de 13% para 10%, não pelos problemas técnicos, mas porque o litro do biodiesel custa o dobro e aumenta o preço do diesel na bomba.

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Foto: Divulgação

Representantes das indústrias de combustíveis, de transportes e montadoras de veículos e máquinas defendem que o uso do biodiesel precisa ser revisado no Brasil, ao mesmo tempo em que consideram que este biocombustível traz problemas para motores e é menos eficiente em relação a outras rotas tecnológicas, como o chamado “diesel verde”.

“O biodiesel produzido hoje no Brasil é o de base éster. A característica química desse biodiesel gera problemas como o de criação de borra, com alto teor poluidor. Na prática, esse sedimento danifica peças automotivas, bombas de abastecimento, geradores de hospitais, máquinas agrícolas e motores estacionários”, afirmou o comunicado.

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) e a associação que representa as montadoras de veículos, a Anfavea, defendiam que a mistura de biodiesel no diesel fosse fixada em 10%, citando que níveis acima desse índice geram problemas para os motores. O patamar de 10% é o que estava em vigor, após o governo reduzir a mistura devido aos altos custos do produto, na esteira da forte demanda por soja, que responde por mais de 70% da matéria-prima do biodiesel no Brasil.

Segundo a CNT, a mistura maior de biodiesel gera problemas como o entupimento de filtros, bicos injetores, formação de resíduos em tanques de combustíveis, além de borra no cárter e dificuldades na partida a frio.

“A Anfavea entende que o uso com teores superiores a 10%, com a qualidade e especificações técnicas atuais, não é recomendável”, afirmou Joseph, lembrando que o processo de testes para uma mistura maior, anteriormente, foi atropelado. Ele disse ainda que outras rotas tecnológicas de produção de biocombustíveis estão sendo adotadas com sucesso na Europa.

A solução existe. Um outro biocombustível, também obtido de grãos: o óleo vegetal hidrotratado (HVO), também chamado diesel verde. E que pode ser usado até puro no motor. Mas tem custo mais elevado pelo tratamento com hidrogênio, o que exigiria investimento dos produtores. E pra que investir se basta uma canetada do governo?

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