Bioproduto com bactéria da Caatinga protege plantas contra seca e aumenta produtividade

Tecnologia desenvolvida pela Embrapa e empresa Bioma, bioproduto com bactéria da Caatinga, usa microrganismo adaptado a ambientes áridos para garantir mais resistência às lavouras e ganhos de até 7,7 sacas por hectare

Uma bactéria encontrada em solos áridos do Ceará acaba de se tornar aliada estratégica para a agricultura brasileira diante do avanço das mudanças climáticas e da escassez hídrica. Batizado de Hydratus, o novo inoculante agrícola foi desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo (MG) em parceria com a empresa Bioma e já possui registro no Ministério da Agricultura e Pecuária para uso na cultura da soja, estando em testes para aplicação em outras lavouras.

O produto tem como ingrediente ativo a bactéria Bacillus subtilis, isolada na Caatinga, capaz de estimular o crescimento das plantas, aprofundar o sistema radicular e aumentar a tolerância ao estresse hídrico. Em condições comerciais, os resultados são expressivos: ganho médio de 7,7 sacas por hectare no milho e 4,8 sacas por hectare na soja quando tratadas com o bioproduto.

Como funciona o Hydratus

O diferencial da tecnologia está na alta concentração de células de Bacillus subtilis e em uma formulação com agentes protetores que garantem maior sobrevivência da bactéria no solo e prolongam sua vida útil na prateleira.

O microrganismo atua estimulando a produção de fitohormônios que aumentam o tamanho e a densidade das raízes, fundamentais para que as plantas explorem melhor a umidade do solo. Esse mecanismo é reforçado pela produção de exopolissacarídeos (EPS), que formam uma película protetora ao redor das células bacterianas, reduzindo a perda de água e protegendo contra condições ambientais extremas.

Além de proteger contra a seca, o Hydratus também melhora o desempenho em áreas irrigadas, otimizando o aproveitamento da água.

Hydratus: Uma inovação que vem da biodiversidade brasileira

A pesquisa começou em 2017, quando a equipe da Embrapa Milho e Sorgo coletou 414 estirpes bacterianas em solos de regiões áridas do Ceará. Dessas, apenas 28 sobreviveram em condições de baixa disponibilidade de água, e a estirpe 1A11 mostrou desempenho superior.

Em testes de campo e laboratório, essa cepa demonstrou alta eficiência na promoção de crescimento vegetal e tolerância ao déficit hídrico. O sequenciamento genômico confirmou genes associados à resistência ao estresse oxidativo e osmótico, além da capacidade de produzir compostos voláteis que aumentam a resistência das plantas à seca.

Ganhos diretos para o agricultor

Segundo a cientista Eliane Aparecida Gomes, coordenadora do projeto, a seca reduz a absorção de nutrientes, prejudica o crescimento e aumenta a produção de radicais livres que danificam as células vegetais. Ao mitigar esses efeitos, o Hydratus ajuda a manter a produtividade mesmo quando as chuvas falham ou são irregulares.

Para Artur Soares, diretor de Pesquisa da Bioma, o bioproduto aumenta a eficiência do uso da água nas propriedades e contribui para uma agricultura mais sustentável.

Lançamento e presença internacional

O Hydratus será oficialmente lançado em 5 de agosto, durante o Congresso da Andav, no Transamérica ExpoCenter, em São Paulo. A tecnologia também será apresentada na COP30, que ocorrerá de 10 a 21 de novembro, em Belém (PA), como exemplo brasileiro de bioinovação aplicada à resiliência agrícola.

Brasil na liderança dos bioinsumos

O país é hoje um dos líderes mundiais na produção de bioinsumos agrícolas, com políticas públicas que incentivam a redução da dependência de insumos importados e o aproveitamento da biodiversidade. Essa linha de pesquisa também gerou outros produtos, como o Auras, desenvolvido a partir da bactéria Bacillus aryabhattai isolada do mandacaru, outro exemplo da Caatinga usado para tolerância à seca.

COP30: Um aliado contra a crise climática

Com as mudanças no regime de chuvas e a tendência de secas mais severas, soluções como o Hydratus representam mais do que ganhos de produtividade: são ferramentas essenciais para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

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