
Artigo lista todos os fatores importantes na hora do manejo alimentar dos peixes; veja também como observar a eficiência da ração sobre o desempenho dos peixes
Vários autores* – A necessidade de nutrientes alimentares para desempenhar as funções fisiológicas básicas, crescimento e reprodução dos peixes são similares a outros animais de produção. A demanda desses nutrientes normalmente é suprida no ambiente natural, mas para se alcançar um bom desempenho produtivo são fornecidas rações comerciais. Desta forma, o manejo alimentar reduz problemas pertencentes ao consumo deficiente desses nutrientes (RIBEIRO et al., 2012).
O manejo alimentar de peixes apresenta particularidades importantes, visto que pode haver variações quanto à espécie, hábito alimentar, sistema de produção, sexo e idade. Essas características aliadas ao meio de cultivo (aquático) acarretam certa dificuldade na avaliação da eficiência produtiva como o consumo alimentar, já que um fornecimento ineficiente de ração interfere no desenvolvimento dos peixes e o excessivo gera danos econômicos e ao meio ambiente (RODRIGUES et al., 2013).
Para fornecer uma ração que atenda as exigências nutricionais de maneira eficiente é necessário compreender da fisiologia digestiva e particularidades de cada espécie (RIBEIRO et al., 2012). A alimentação desempenha importante papel na redução dos custos de produção, aumento da produtividade, manutenção da qualidade de água, sanidade e boa qualidade nutricional do produto final.
Vista a influência que o manejo alimentar tem sobre a produção de peixes, objetivou-se com este artigo apresentar a produtores e estudantes técnicas alimentares desenvolvidas em artigos científicos que auxiliam na produção de peixes, de maneira prática e simples.
O que considerar na hora de escolher a ração para peixes
A exigência nutricional, principalmente de proteína, varia de acordo com o hábito alimentar da espécie. Peixes carnívoros apresentam exigências proteicas superiores às exigidas pelos peixes onívoros (NRC, 1993). Os fabricantes de ração comercial fornecem rações específicas para peixes carnívoros e onívoros, facilitando para a escolha do piscicultor de acordo com a espécie produzida em sua propriedade. É importante lembrar que as rações para peixes carnívoros têm um custo mais elevado, já que a proteína costuma ser o componente mais caro da ração (RIBEIRO et al., 2012).
Saber a idade, tamanho ou período produtivo do peixe é importante para determinar as exigências nutricionais e tamanho dos peletes da ração. A quantidade de proteína necessária na ração diminui com o crescimento, isto porque na fase inicial precisa-se de mais proteína para um desenvolvimento e crescimento adequado. Já o tamanho do pélete deve ser de até 50% o tamanho da abertura da boca (LIMA et al., 2015). Durante o manejo alimentar é interessante observar o comportamento dos peixes, se ao abocanhar a ração o peixe “cuspir” em seguida está maior que o ideal, se a ração espalhar rapidamente significa que está menor que o ideal.
O peixe precisa apresentar boa aceitação à ração fornecida, caso contrário é necessário trocar a marca ou tipo da ração fornecida, pois indica que não foi bem aceita. A ração fornecida deve, além de ter tamanho dos grânulos de acordo com o tamanho da boca, ser extrusada e ter pouca quantidade de pó, evitando desperdícios e mantendo a qualidade da água dos viveiros.

Tipos de ração para peixes existente no mercado
Em alguns tipos de cultivo os peixes podem obter alimento de forma natural, mas para que alcancem o desempenho esperado é importante fornecer alimentos mais completos, ou seja, rações corretamente formuladas por fábricas especializadas. As rações comumente fornecidas para os peixes são as fareladas, peletizada e extrusadas (RIBEIRO et al., 2005).
- Ração farelada – Consiste apenas na moagem e mistura dos ingredientes determinados na formulação. O fornecimento é recomendado apenas na fase larval, pois a perda de nutrientes é grande e gera problemas tanto para os peixes quanto para a qualidade da água.
- Ração peletizada – Consiste na combinação da umidade, calor e pressão da ração farelada, seguida da aglomeração das partículas menores para dar origem as partículas maiores. Nesse caso a perda de nutrientes na água será menor, além de retirar as toxidades e diminuir a seleção dos nutrientes pelos peixes.
- Ração extrusada – O processo de extrusão consiste no cozimento dos ingredientes em altas temperaturas, pressão e umidade controlada. Esse tipo de ração possui uma estabilidade que permite que os péletes “flutuem” na água por até 12 horas, facilitando o manejo. Essa característica torna as rações extrusadas as mais indicadas para os peixes.
Armazenamento da ração
As rações comerciais devem ser armazenadas em condições que garantam a qualidade estipulada pelo fabricante, tais como:
- Local de armazenamento exclusivo para rações, para que não haja contaminação com outros produtos;
- Arejado e livre de umidade;
- Protegido de insetos, roedores, chuva e raios ultravioleta;
- Os sacos não devem ter contato direto com o solo e paredes, com a distância de 50 cm, devendo estar empilhados em cima de páletes;
- Por fim, é necessário observar se a aparência física está dentro da normalidade, assim como a validade deste produto.
Fornecimento da ração
Tanto quanto a origem, escolha e armazenamento, o fornecimento da ração também necessita de atenção. Para isso, adotar estratégias de manejo quanto à distribuição, horário de arraçoamento e monitoramento da qualidade de água podem influenciar diretamente da produtividade desses peixes.
Arraçoamento – Deve ser uniforme no viveiro para evitar que apenas os peixes dominantes se alimentem.

No momento do arraçoamento é importante observar o direcionamento do vento para que a ração seja distribuída no mesmo sentido do vento, pois, se fornecida no sentido contrário acarreta em desperdício de ração, já que ela será levada para o canto dos viveiros escavados rapidamente dificultando o consumo pelos peixes.
Horário de arraçoamento – Evitar as primeiras horas do dia e dias nublados, pois os níveis de oxigênio e temperatura estão baixos, influenciando no consumo da ração. Determinar horários específicos de arraçoamento irá sujeitar os peixes a procurar alimento naquele horário. Em caso de alterações no tempo, qualidade da água e saúde dos animais, suspender o fornecimento até que o problema seja resolvido.
Jejum – Antes e depois de manejos ou transferências é importante que os peixes passem por um período de jejum de 12h a 24h. Essa estratégia evita que a qualidade da água seja alterada, pois os peixes, em situação de estresse, tendem a liberar as fezes contidas e com o trato vazio isso não acontece.
Comportamento – Durante o arraçoamento observar o comportamento dos peixes, pois o fornecimento de ração extrusada permite essa observação. Se a ração não estiver sendo consumida pelos animais, é necessário interromper o fornecimento, para evitar desperdício, impacto financeiro e ambiental. Quando o consumo for em menos de 10 minutos a quantidade de ração deve ser aumentada, já quando ultrapassar 20 minutos e ainda tiver ração sobrando a quantidade de ração ofertada deve ser diminuída.
Não há necessidade de fornecer alimento “extra” (resíduo animal, farelos vegetais, etc), a ração comercial já é completa e balanceada. Se houver troca de marca ou tamanho dos grânulos deve-se fazer uma transição gradativa até os peixes acostumarem com a mudança.
Frequência alimentar – Os hábitos alimentares das espécies vão definir a frequência alimentar mais recomendada, já que esse ponto vai influenciar no desempenho produtivo dos peixes. Para facilitar esse manejo é interessante utilizar comedouros automáticos ajustados de acordo com os horários e quantidades definidas. Mas mesmo com a introdução do arraçoamento automatizado é imprescindível manter a observação do comportamento dos peixes.
Como observar a eficiência da ração sobre o desempenho dos peixes
Para acompanhar a eficiência da ração utilizada na produção sobre o desempenho dos peixes, o ideal é fazer biometrias periódicas, a cada 15 ou 30 dias. A biometria consiste em pegar uma amostragem do lote, pesar e medir para acompanhar o desempenho produtivo dos animais.
Mas, como fazer a biometria?
Captura – A captura dos peixes vai depender do tamanho dos peixes e criatório. Pode ser com rede de arrasto ou puçá.

Pesagem – A pesagem dos peixes pode ser feita colocando os peixes em um balde com água, no próprio puçá de captura ou, em se o peixe for grande, utilizando sacos de ração vazios. É importante tarar o peso do baldo com água, puçá e saco de ração molhado antes da pesagem dos peixes para não haver erros na pesagem.

Medida – A medida pode ser feita utilizando paquímetro ou fita métrica.

A biometria deve ser rápida e cuidadosa, pois manejos “grosseiros” podem causar muito estresse nos peixes aumentando o índice de doenças e mortalidade pós-biometria. Ao final do manejo devolver os peixes amostrados para os viveiros, com cuidado para não aumentar o estresse.
Todos os valores obtidos na biometria devem ser anotados, juntamente com mortalidades e consumo de ração, permitindo o controle sobre:
- Taxa de mortalidade – Indica que pode estar ocorrendo algum problema quanto à qualidade da água, saúde dos peixes e disponibilidade de alimento.
- Ganho em peso – Indica o crescimento dos peixes sobre o sistema de cultivo.
- Conversão alimentar – Indica a relação entre a quantidade de ração consumida e o ganho em peso durante todo o período de produção, ou seja, quanto o animal precisou consumir para produzir 1kg.
Consideração final
O sucesso da piscicultura está atrelado a um conjunto de técnicas que permitem o crescimento desta cadeia, dentro destas está o manejo alimentar dos peixes que, se executado corretamente de acordo com a realidade do cultivo, evitam perdas de animais, produtividade e, consequentemente, econômicas.
Autores*
• Rafaella Machado dos Santos de Medeiros – Zootecnista pelo Centro Universitário Católica do Tocantins, mestranda do PPGZ no IF Goiano – Campus Rio Verde, proprietária da ZooAqua Consultoria, atua na piscicultura desde 2017.
• Adriano Carvalho Costa – Zootecnista, mestre e doutor em zootecnia pela Universidade Federal de Lavvras; professor do IF Goiano – Campus Rio Verde.
• Hortência Aparecida Botelho – Zootecnista, doutora em zootecnia pela Universidade Federal de Goiás.
• Marília Parreira Fernandes – Zootecnista pela Universidade Federal de Uberlândia, mestranda do PPGZ no IF Goiano – Campus Rio Verde.
• Matheus Barp Pierozan – Médico Veterinário pela Universidade Federal de Santa Maria, mestrando do PPGZ no IF Goiano – Campus Rio Verde.
• Isabel Rodrigues de Rezende – Zootecnista pela Universidade Estadual de Goiás, mestranda do PPGZ no IF Goiano – Campus Rio Verde.
• Igor Eli da Silva – Zootecnista pelo IF Goiano – Campus Ceres, mestrando do PPGZ no IF Goiano – Campus Rio Verde.