Boi gordo encerra a semana “melhor que começou”, mas cenário ainda exige cautela

Cotação da arroba do boi gordo estabiliza após semanas de queda, mas incertezas seguem no radar com tarifa dos EUA e pressão das fêmeas nas escalas

Após semanas de queda nos preços, o mercado físico do boi gordo deu sinais de trégua no encerramento desta semana, mantendo a estabilidade em boa parte das praças brasileiras. No entanto, o viés ainda é negativo, e o cenário futuro exige atenção redobrada por parte dos pecuaristas, principalmente diante das incertezas que rondam o comércio internacional, os abates e o consumo interno.

De acordo com levantamento da Scot Consultoria e da Agrifatto, os preços da arroba ficaram estáveis nesta quinta-feira (24), especialmente em São Paulo, onde o mercado já vinha acumulando desvalorizações expressivas.

As referências apontam que:

  • Boi gordo sem padrão-exportação: R$ 297/@
  • Boi-China: R$ 300/@
  • Vaca gorda: R$ 270/@
  • Novilha: R$ 282/@
  • Boi comum (segundo Agrifatto): R$ 290/@
  • Boi para exportação: R$ 300/@

Apesar da pausa nas quedas, as consultorias ressaltam que o movimento predominante ainda é de baixa, com frigoríficos exercendo pressão sobre os preços em função da boa oferta de animais terminados, especialmente em confinamento. Outro fator de peso é a presença intensa de fêmeas nas escalas de abate, principalmente nos estados do Norte, como Acre, Pará, Rondônia e Tocantins.

Impacto das tarifas dos EUA traz insegurança no mercado do boi gordo

Um dos principais elementos de instabilidade no mercado pecuário neste momento é a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto.
A medida imposta pelo governo do ex-presidente Donald Trump compromete diretamente a competitividade do Brasil no comércio internacional de carne bovina e já provocou um impacto concreto:

  • Segundo a Abiec, cerca de 30 mil toneladas de carne já processadas e prontas para embarque estão paradas, gerando risco de perdas que podem chegar a US$ 160 milhões.

Mercado futuro reage, mas sem retomada clara

Na Bolsa B3, os contratos futuros também sentiram o impacto do ambiente incerto. O contrato com vencimento em outubro, período de pico da entressafra, encerrou a quarta-feira (23) cotado a R$ 314,80/@, com queda diária de 0,17%.

A perda do suporte dos R$ 300/@ no físico paulista e no mercado futuro evidencia que o ciclo de baixa ainda não foi totalmente superado, embora a intensidade do recuo tenha diminuído nos últimos dias.

Pressão interna e competição com outras proteínas

No mercado interno, o consumo de carne bovina segue fraco, dificultando a recuperação dos preços. A concorrência com proteínas mais baratas, como frango e suíno, tem favorecido o consumidor final, mas prejudica os produtores de gado, que enfrentam custos elevados e margens comprimidas.

Além disso, o atacado também registrou queda nos preços de todos os cortes, o que reforça o cenário de pressão em toda a cadeia da carne bovina.

Perspectivas para o mercado do boi gordo: fim do túnel ou falsa trégua?

Apesar das dificuldades atuais, analistas apontam possíveis sinais de recuperação no último trimestre do ano, impulsionados por:

  • Alta na demanda doméstica com o 13º salário e festas de fim de ano
  • Abertura de novos mercados e reorientação das exportações para a Ásia

Entretanto, altas expressivas parecem pouco prováveis no curto prazo, considerando o atual ambiente externo, o câmbio e a morosidade no consumo. Para os pecuaristas, a principal lição do momento é clara: ferramentas de proteção de preço, como hedge, deixam de ser opcionais para quem quer garantir margens saudáveis.

O boi gordo encerra a semana “melhor que começou”, mas não há motivos para euforia. A leve recuperação precisa ser vista com cautela, pois ainda está ancorada em um mercado frágil, pressionado por oferta abundante, consumo tímido e incertezas externas. O cenário exige estratégia, gestão e informação constante por parte do produtor.

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