
Apesar da firmeza pontual nas cotações do boi gordo, aumento nas escalas e escoamento lento da carne no mercado interno preocupam os analistas
O mercado do boi gordo encerrou a primeira semana de julho com cotações relativamente estáveis, mas sinais de instabilidade voltam a preocupar pecuaristas e consultorias especializadas. Com preço médio da arroba girando em torno de R$ 315 em praças como São Paulo, o setor enfrenta agora uma encruzilhada que envolve pressão de frigoríficos, avanço das escalas de abate, entrada de animais confinados e desaceleração no consumo doméstico.
Este cenário foi abordado por diversas análises ao longo da semana. O Compre Rural reúne os principais dados e avaliações que ajudam a entender o momento do mercado.
Estabilidade aparente, pressão nos bastidores do mercado do boi gordo
Segundo boletim da Scot Consultoria, a sexta-feira (4/7) foi marcada por poucos negócios e frigoríficos fora das compras, especialmente em São Paulo. “A maioria dos negócios da semana foi realizada até quarta-feira”, destacou a consultoria. A arroba do boi gordo comum ficou cotada a R$ 310, enquanto o chamado “boi-China” manteve a referência de R$ 315/@.
No entanto, apesar da aparência de estabilidade, a pressão por preços mais baixos é uma realidade, principalmente pela chegada gradual dos bois de confinamento e a fraca demanda por carne bovina no mercado interno, conforme ressaltado também por analistas da Safras & Mercado.
“Os frigoríficos, especialmente os de maior porte, apostam na boa oferta de animais confinados e de contrato para alongar escalas e pressionar os preços”, explicou Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado.
Escalas de abate se alongam
A consultoria Agrifatto informou que as escalas de abate foram ampliadas em diversas regiões, com destaque para Rondônia, que encerrou a semana com 10 dias úteis programados, e São Paulo, Pará, Minas Gerais e Paraná, todas com 9 dias úteis de escalas.
“A presença dos animais confinados justifica esse avanço”, diz a Agrifatto.
Este aumento nas escalas indica menor urgência dos frigoríficos nas compras, reforçando o movimento de pressionar o mercado do boi gordo para reduzir os preços pagos ao pecuarista.
Exportações em alta dão fôlego ao setor
Na contramão da lentidão do mercado interno, as exportações de carne bovina in natura seguem em ritmo forte e recorde. O Brasil embarcou 241,1 mil toneladas em junho, um salto de 25,27% em relação ao mesmo mês de 2024.
Em receita, o resultado foi ainda mais expressivo: US$ 1,31 bilhão no mês, segundo dados da Secex. No acumulado do primeiro semestre de 2025, o faturamento somou US$ 6,6 bilhões, alta de 27,7% em relação ao ano anterior.
A China segue como o principal destino da carne brasileira, respondendo por 48,8% da receita, com US$ 3,2 bilhões. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com forte aumento de 142% nas compras, somando US$ 791 milhões.
Esses números sustentam parte da demanda e ajudam a impedir quedas mais acentuadas nos preços internos, mas não são suficientes para absorver toda a oferta disponível, principalmente em um momento de aumento na oferta de bois terminados.
Atacado espera reação com entrada dos salários
No mercado atacadista, os preços permanecem estáveis. O quarto traseiro é cotado a R$ 23/kg, o dianteiro a R$ 18,50/kg e a ponta de agulha a R$ 18,00/kg. Com a entrada dos salários na economia, espera-se que haja um leve aumento na reposição entre atacado e varejo. Ainda assim, a carne de frango segue sendo a preferência do consumidor, pressionando o consumo da carne bovina.
O que esperar para os próximos dias?
Os analistas avaliam que o mercado segue dividido entre dois vetores:
- Oferta em crescimento, com mais bois de confinamento e maior resistência dos pecuaristas às ofertas baixas;
- Demanda interna enfraquecida e exportações em ritmo forte, mas que ainda enfrentam variações cambiais e incertezas externas.
O cenário, portanto, é de estabilidade tensa. A tendência é que o boi-China mantenha patamares acima de R$ 310/@, mas a pressão de baixa deve continuar, especialmente se o consumo interno não reagir.
Resumo das cotações (04/07/2025)
(valores médios por praça segundo Scot e Safras)
- São Paulo: R$ 310,50 a R$ 315,00
- Goiás: R$ 292,50
- Minas Gerais: R$ 299,41
- Mato Grosso do Sul: R$ 311,36
- Mato Grosso: R$ 315,61
A aparente estabilidade da arroba do boi gordo esconde um mercado em efervescência. O pecuarista precisa estar atento à movimentação das escalas, à evolução da oferta de confinamento e ao comportamento da demanda interna nas próximas semanas. Em um cenário de margens apertadas, qualquer variação pode fazer a diferença entre lucro e prejuízo.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.