Em um mercado travado, a arroba segue firme nas principais praças, mas a pressão baixista dos frigoríficos contrasta com a expectativa de pecuaristas por uma virada apoiada na demanda aquecida e no forte ritmo das exportações
O mercado do boi gordo atravessa uma fase de calmaria tensa, marcada por poucas negociações, tentativas de compra mais baixas por parte dos frigoríficos e uma resistência crescente dos pecuaristas em aceitar valores menores. Com a arroba girando em torno de R$ 325/@ nos animais destinados à exportação (boi-China), o setor observa um cenário misto: pressão no curto prazo, mas fundamentos positivos à frente.
Segundo análises recentes divulgadas por Safras & Mercado, Datagro, Agrifatto e Scot Consultoria, o mercado parece ter encontrado um “ponto de resistência” após semanas de volatilidade. Apesar de algumas indústrias tentarem testar preços mais baixos, a dificuldade em originar lotes e a melhora gradual das pastagens reduzem a oferta imediata, impedindo quedas mais acentuadas.
Pressão dos frigoríficos aumenta, mas negócios do boi gordo travam
Os frigoríficos iniciaram a semana tentando impor referências abaixo das praticadas nos últimos dias, especialmente em São Paulo. Porém, segundo a Scot Consultoria, não houve volume expressivo de fechamento, indicando que o pecuarista optou por segurar o boi diante do avanço das chuvas e do impacto da estação de monta.
Em São Paulo, a Scot aponta preços no mercado do boi gordo da seguinte forma:
- Boi comum: R$ 320/@
- Boi-China: R$ 325/@
- Vaca gorda: R$ 302/@
- Novilha: R$ 312/@
A Agrifatto destaca que, pelo terceiro dia consecutivo, os valores permaneceram inalterados nas 17 praças monitoradas, com o boi paulista a R$ 322,50/@ na média entre mercado interno e exportação.
Demanda interna melhora com fim de ano
Enquanto a oferta dá sinais de ajuste, a demanda doméstica responde positivamente. A Safras & Mercado reforça que o consumo de carne bovina tende a se fortalecer com:
- Pagamento do 13º salário
- Contratação de trabalhadores temporários
- Aumento das confraternizações de fim de ano
Essa combinação ajuda a evitar quedas bruscas no atacado, onde os preços seguem firmes:
Quarto traseiro: R$ 26,00/kg
Dianteiro: R$ 19,50/kg
Ponta de agulha: R$ 19,00/kg
Exportações aceleram e ajudam a sustentar o mercado
Se o mercado interno oferece uma base sólida, as exportações se tornaram o principal alívio para o setor. Os embarques de carne bovina estão em forte expansão tanto em novembro quanto no acumulado recente.
Destaques das exportações:
- 100,8 mil toneladas embarcadas apenas na primeira semana de novembro → +67,5% ante 2024 (Secex)
- 163,7 mil toneladas exportadas em 10 dias úteis de novembro → +36,3% na média diária anual
- Receita acumulada: US$ 905 milhões, avanço de 54,7% sobre 2024
- Preço médio: US$ 5.528/ton, valorização de 13,5%
A Agrifatto projeta ainda que novembro poderá atingir 285 mil toneladas, estabelecendo novo recorde histórico. Além disso, a Datagro destaca que a recente medida assinada pelos EUA, reduzindo tarifas de importação, abre mais espaço para a carne brasileira e melhora a competitividade internacional.
Mercado futuro segue pressionado
Mesmo com a sustentação vinda da exportação, o mercado futuro do boi gordo reflete cautela: Contrato dezembro/25 fechou a R$ 316,30/@, queda de 1,26% no dia. A movimentação indica que os investidores ainda enxergam risco de pressão no curtíssimo prazo — muito em função das incertezas envolvendo a demanda chinesa e os ajustes de oferta no Brasil.
O que esperar?
O cenário atual mostra força no suporte dos R$ 320–325/@, mas sem espaço para grandes avanços imediatos. Os fatores que podem destravar o mercado incluem:
Pontos de atenção positiva:
• Recuperação das pastagens → menor oferta imediata
• Demanda interna aquecida no fim do ano
• Exportações recordes
• Reabertura e aumento de competitividade no mercado norte-americano
Pontos de pressão:
• Indústria ainda trabalhando com escalas mais confortáveis
• Incertezas envolvendo a China
• Mercado futuro cauteloso
A tendência, segundo analistas, é que o produtor siga firme, à espera de preços melhores, enquanto os frigoríficos devem continuar testando o mercado do boi gordo — mantendo o ambiente de travamento no curto prazo.
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