Boi gordo mantém viés de alta apoiado nas exportações e escalas curtas; até quando?

Cenário de firmeza nos preços do boi gordo é sustentado pela demanda externa aquecida e dificuldade dos frigoríficos em alongar escalas de abate, mas analistas alertam para riscos de acomodação no mercado interno

O mercado do boi gordo segue em viés de alta, sustentado por dois fatores decisivos: a forte demanda das exportações de carne bovina e a dificuldade dos frigoríficos em alongar suas escalas de abate. Essa combinação tem mantido os preços firmes, com negociações em alguns estados ocorrendo acima da referência média. No entanto, a grande questão que paira sobre o setor é: até quando esse cenário poderá se sustentar?

Cenário de firmeza nos preços do boi gordo é sustentado pela demanda externa aquecida e dificuldade dos frigoríficos em alongar escalas de abate, mas analistas alertam para riscos de acomodação no mercado interno.

De acordo com o analista Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado, frigoríficos em regiões como o Norte do país enfrentam maior dificuldade na composição das escalas, o que pressiona as cotações. Já em praças tradicionais como São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, o mercado se mostra mais acomodado.

Na média nacional, os preços mantêm viés positivo. Em São Paulo, a arroba foi precificada em R$ 311,52, acima dos R$ 310,85 da véspera. Em outros estados, os valores também registraram avanços, como em Minas Gerais, onde a arroba chegou a R$ 302,94.

Exportações seguem como principal pilar

O fator que mais sustenta o movimento de alta é o bom ritmo das exportações brasileiras de carne bovina in natura. Segundo a Scot Consultoria, o preço médio da tonelada exportada na semana passada atingiu US$ 5.734,50, o maior do ano, superando o pico anterior registrado em julho.

Esse desempenho se apoia também na abertura de novos mercados. Em 2025, o Brasil consolidou o acesso a países estratégicos do Sudeste Asiático, como Vietnã, Filipinas e Indonésia. Somados, esses mercados ultrapassam 500 milhões de habitantes e podem representar até 800 mil toneladas exportadas até 2035, segundo projeções da Agrifatto.

Mercado interno: consumo mais lento e concorrência das proteínas

Enquanto o mercado externo fortalece a pecuária brasileira, o cenário doméstico apresenta sinais de cautela. A reposição entre atacado e varejo tem ocorrido de forma mais lenta na segunda quinzena do mês, refletindo em queda das cotações da carne no atacado. O quarto traseiro, por exemplo, foi precificado a R$ 23,15/kg, recuo de R$ 0,15.

Além disso, a carne de frango mantém maior competitividade frente à bovina, atraindo consumidores de menor poder aquisitivo e gerando um contraponto ao otimismo das exportações.

Futuro do mercado: sustentação ou acomodação na cotação do boi gordo?

No mercado futuro, a B3 trouxe algum alívio, interrompendo a sequência de quedas. O contrato de novembro/25 fechou cotado a R$ 328,25/@, alta de 1,3% em relação ao dia anterior. Isso mostra que os investidores ainda acreditam em um ambiente favorável no curto prazo.

No entanto, analistas alertam que a manutenção desse cenário depende da capacidade de o Brasil seguir avançando nas exportações, especialmente para a Ásia, e do comportamento do consumo interno nos próximos meses. Com a entrada dos salários no início de setembro, a expectativa é de melhora sazonal no varejo.

Até quando?

A resposta para a pergunta que dá título a esta análise depende de um equilíbrio delicado: se as exportações mantiverem ritmo firme e os frigoríficos continuarem enfrentando escalas curtas, a tendência de alta pode se alongar. Mas qualquer arrefecimento na demanda internacional, somado ao peso da concorrência das proteínas mais baratas no mercado interno, pode levar a uma estabilização ou até queda das cotações.

O fato é que o Brasil, diante de novos mercados abertos e preços recordes nas exportações, tem uma oportunidade estratégica. Porém, a pecuária nacional ainda convive com um consumo interno fragilizado, o que torna o futuro do boi gordo uma equação de múltiplas variáveis.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM