Boi gordo “perde o rumo” e vive na incerteza; veja a cotação da arroba pelo país

Tarifas, escalas longas e oferta elevada derrubam preços da arroba do boi gordo em várias regiões e aumentam a tensão no mercado pecuário

O mercado do boi gordo atravessa um dos momentos mais desafiadores do ano. A combinação entre o aumento da oferta de animais confinados, a pressão das indústrias frigoríficas e a recente imposição tarifária dos Estados Unidos está causando uma onda de incertezas e retração nos preços da arroba em diversas regiões do país. O sentimento entre os pecuaristas é de insegurança, e as referências abaixo de R$ 300/@ já são realidade em estados importantes como São Paulo.

Impacto das tarifas dos EUA amplia crise no mercado

A decisão do governo norte-americano, comandado por Donald Trump, de aplicar uma tarifa extra de 50% sobre os produtos brasileiros teve efeito imediato no setor. Embora a medida só entre em vigor a partir de 1º de agosto, o mercado já antecipou o impacto, com frigoríficos adotando uma postura mais cautelosa e reduzindo as compras, sobretudo das boiadas voltadas à exportação.

Analistas da Agrifatto destacam que o ambiente já era desfavorável antes mesmo do anúncio. “Em São Paulo, o recuo em torno de 1,5% já era observado na primeira metade do mês, reflexo do aumento da oferta de animais terminados em confinamentos e contratos de parceria, o que estendeu as escalas para cerca de nove a dez dias de abate”.

Frigoríficos pressionam e escalas longas ampliam a oferta

Com escalas de abate que variam entre oito e dez dias úteis, os frigoríficos atuam com relativo conforto, o que limita o poder de negociação dos pecuaristas. Segundo Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado, a grande presença de animais confinados reduz a capacidade de retenção por parte do produtor, ampliando a pressão por parte da indústria.

Além disso, diante da incerteza tributária, os exportadores reduziram ou até suspenderam temporariamente a compra de boiadas, forçando o mercado interno a absorver o excedente.

Queda generalizada nas cotações da arroba do boi gordo

De acordo com levantamento da Scot Consultoria e Agrifatto, São Paulo registrou queda diária de R$ 1/@ no boi gordo comum (R$ 304/@) e no boi-China (R$ 307/@). Já a vaca gorda caiu R$ 3/@ (R$ 275/@) e a novilha recuou R$ 5/@, sendo negociada a R$ 285/@.

Já no levantamento nacional da Safras & Mercado, a cotação média em São Paulo recuou para R$ 298,67, abaixo da barreira psicológica dos R$ 300:

  • São Paulo: R$ 298,67
  • Goiás: R$ 281,43
  • Minas Gerais: R$ 284,41
  • Mato Grosso do Sul: R$ 297,73
  • Mato Grosso: R$ 298,92

Outras 11 praças também apresentaram desvalorização, entre elas: Acre, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina.

Atacado e varejo também sentem os efeitos

No atacado, os preços da carne bovina com osso seguem estáveis, mas com baixa demanda. O quarto traseiro é negociado a R$ 22,50/kg, o dianteiro a R$ 18,75/kg, e a ponta de agulha a R$ 18,50/kg. A Agrifatto relata que mesmo os cortes tradicionalmente mais procurados, como o dianteiro, já demonstram perda de ritmo nas vendas.

A demanda no varejo continua tímida, com os pontos de venda operando com estoques contidos e postergando pedidos de reposição, o que acentua o freio no mercado de carne.

Mercado futuro também em queda

O pessimismo também chegou à B3. O contrato de boi gordo com vencimento em setembro fechou cotado a R$ 309,45/@, com recuo de 1,7% em relação ao dia anterior. O movimento acompanha a insegurança gerada pela tarifa e a pressão no mercado físico.

Perspectivas: incerteza e cautela

O cenário é de baixa confiança no curto prazo, com analistas prevendo continuidade da pressão nos preços enquanto as exportações não se realinham. A grande incógnita gira em torno da reação do mercado asiático e de possíveis avanços diplomáticos para mitigar os efeitos das sanções dos EUA.

A tendência, segundo Iglesias, é que o mercado siga pressionado enquanto durar o excesso de oferta e a demanda externa estiver desaquecida. “A carne de frango ainda dispõe de maior competitividade em relação às demais proteínas, o que também retira força da carne bovina no mercado interno”, conclui.


📌 Para acompanhar a cobertura completa do mercado do boi gordo e outras análises do agronegócio, acesse também os conteúdos no Compre Rural sobre o preço da arroba.

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