Boi gordo perde viés de alta – por enquanto – com escalas confortáveis e câmbio

Mercado do boi gordo encontra resistência para firmar preços, apesar do bom desempenho das exportações; indústrias trabalham com escalas confortáveis para o final desse mês, o que garante conforto nas negociações

O mercado físico do boi gordo chega ao fim de setembro de 2025 em um cenário de pressão baixista. Embora as exportações brasileiras de carne bovina sigam em patamares elevados e garantam um suporte importante aos preços, a valorização do real, os juros atrativos e as escalas de abate confortáveis dos frigoríficos têm impedido uma reação mais consistente no valor da arroba.

Consultorias apontam que os frigoríficos, em grande parte do país, operam com escalas que avançam para a virada do mês, o que garante maior tranquilidade na compra de animais. O zootecnista Fabiano Fabbri, da Scot Consultoria, explica que o estímulo econômico no primeiro semestre incentivou produtores a intensificarem a terminação em confinamento, ampliando a oferta disponível. Além disso, contratos a termo e parcerias também ajudaram a manter as indústrias abastecidas.

Esse conforto na oferta se reflete diretamente nas cotações. Em São Paulo, o boi comum recuou para R$ 305/@, enquanto o chamado “boi-China” passou de R$ 320/@ para R$ 310/@ em setembro. Outros estados também registraram estabilidade ou leve queda: Goiás encerrou a semana em R$ 287,14, Minas Gerais ficou estável em R$ 287,65, Mato Grosso do Sul em R$ 320,48 e Mato Grosso em R$ 297,91.

Câmbio limita valorização da arroba do boi gordo

Outro fator que pesa sobre o mercado é o comportamento do câmbio. O dólar comercial encerrou a semana a R$ 5,32, acumulando queda de 0,62% no período. Essa valorização do real reduz a competitividade da carne brasileira no mercado internacional e diminui a margem de lucro das exportadoras, o que acaba freando a disposição dos frigoríficos em pagar mais pelo boi.

Exportações em ritmo acelerado

Apesar desses entraves, as exportações continuam sendo o principal pilar de sustentação do mercado. Até a segunda semana de setembro, o Brasil embarcou 137,3 mil toneladas de carne bovina in natura, volume 14,6% maior que no mesmo período de 2024. O preço médio da tonelada foi de US$ 5.617,40, o que representa um avanço de 24,4% em relação ao ano passado.

De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), apenas nos dez primeiros dias úteis de setembro a carne bovina brasileira já rendeu US$ 771 milhões, com média diária de US$ 77,1 milhões.

Consumo interno segue enfraquecido

No mercado interno, o cenário é menos animador. A demanda doméstica está enfraquecida, especialmente com a virada de quinzena, período de menor poder aquisitivo da população. O atacado registrou quedas em cortes importantes: o traseiro recuou para R$ 23,50/kg, o dianteiro para R$ 17,50/kg e a ponta de agulha para R$ 16,50/kg.

Além disso, a carne de frango permanece com maior competitividade, ampliando sua participação nas gôndolas e pressionando ainda mais a carne bovina.

Perspectivas

Especialistas avaliam que o mercado do boi gordo deve seguir com preços firmes, mas sem espaço para altas expressivas no curto prazo. Segundo Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, os fundamentos atuais ainda são baixistas, e a pressão das indústrias para reduzir valores deve continuar até o fim de setembro.

No entanto, as exportações seguem como variável-chave: em caso de manutenção do ritmo forte, a tendência é que funcionem como piso de sustentação para as cotações, evitando quedas mais bruscas e mantendo o mercado atento às próximas movimentações cambiais e de oferta.

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