Boi gordo sente a “gripe aviária”, mas exportação recorde mantém arroba acima de R$ 300

Apesar do consumo interno enfraquecido e da pressão dos frigoríficos, embarques fortes garantem suporte aos preços da arroba do boi gordo em meio à turbulência no mercado de proteínas

Em meio aos reflexos do caso de gripe aviária confirmado no Brasil, o mercado do boi gordo encerrou a semana em acomodação, mas mantendo a arroba acima dos R$ 300 em praças importantes, sustentado pelo ritmo acelerado das exportações de carne bovina. O cenário, no entanto, é de negociações travadas entre frigoríficos e pecuaristas, influenciadas por uma combinação de oferta crescente de animais, demanda interna enfraquecida e expectativas negativas no curto prazo.

Segundo a consultoria Safras & Mercado, os frigoríficos seguem com escalas de abate confortáveis, atendendo entre oito e nove dias úteis, o que permite pressionar por preços menores nas negociações.

De acordo com o analista Fernando Henrique Iglesias, o avanço da seca tem reduzido a capacidade de retenção do gado, o que força muitos produtores a colocar os animais no mercado, aumentando a oferta.

“A expectativa no curto prazo ainda é pela tentativa de compras em patamares mais baixos. Já como ponto de suporte, precisa ser mencionado o forte ritmo de exportação, com o país caminhando a passos largos para um recorde de embarques na atual temporada”, afirmou Iglesias.

Cotações da arroba do boi gordonas principais praças

Apesar da pressão baixista, os preços da arroba seguem firmes em alguns estados:

  • São Paulo: R$ 302,17
  • Goiás: R$ 286,29
  • Minas Gerais: R$ 289,65
  • Mato Grosso do Sul: R$ 301,59
  • Mato Grosso: R$ 298,11

Na praça paulista, houve queda de R$ 2/@ para todas as categorias nesta quinta-feira (22), segundo a Scot Consultoria. O boi comum passou a valer R$ 304/@, o boi-China R$ 306/@, a vaca gorda R$ 275/@ e a novilha R$ 288/@.

Negociações travadas e retração de oferta

A Agrifatto informa que diversos frigoríficos suspenderam temporariamente as compras de boiadas, enquanto outros atuam pontualmente. Ao mesmo tempo, pecuaristas têm restringido a oferta de animais em estados como SP, MS, PR, MG e GO.

“Em um primeiro momento, a oferta de R$ 300/@, sobretudo em São Paulo, surpreendeu os pecuaristas, levando muitos deles a retraírem suas vendas”, relatou a consultoria.

Com isso, não houve alterações nas cotações em 17 praças monitoradas nesta quinta-feira (22), e o mercado permanece estável, mesmo com previsões de frente fria intensa nos próximos dias, o que pode forçar entregas e aumentar a pressão sobre os preços.

Mercado futuro do boi gordo aposta em valorização

Na B3, os contratos futuros do boi gordo seguem trajetória oposta ao mercado físico. O contrato com vencimento em outubro/25 fechou o dia cotado a R$ 340,70/@, com alta de 1,11%. A valorização reflete expectativas mais otimistas para o segundo semestre, ancoradas no avanço das exportações e possível recuperação do consumo.

Carne bovina com osso e mercado atacadista

No mercado de carne com osso, as vendas seguem lentas nos pontos de consumo, pressionadas por:

  • Concorrência do frango, cuja oferta interna pode crescer após recuo nas exportações
  • Fatores sazonais, como o “mês longo para um salário curto

Como resultado, os estoques seguem elevados e há adiamento de descargas nos centros de distribuição. Os preços, portanto, estão frágeis:

  • Bois castrados de MS e SP: R$ 20,30/kg (queda de R$ 0,20/kg em uma semana)
  • Quarto traseiro: R$ 23,90/kg
  • Quarto dianteiro: R$ 19,00/kg
  • Ponta de agulha: R$ 17,80/kg

“Ressaltando que proteínas de menor valor agregado são prioridade neste momento”, conclui Iglesias.

Câmbio e influência no comércio internacional

O dólar comercial terminou a quinta-feira (23) com queda de 0,26%, cotado a R$ 5,6455 na venda. Na semana, a desvalorização acumulada foi de 0,41%, o que contribui para manter a competitividade da carne brasileira no exterior e sustentar os preços internos mesmo com consumo fraco.

A exportação aquecida continua sendo a âncora de sustentação para o boi gordo, mesmo diante de dificuldades no consumo doméstico e do impacto indireto da gripe aviária na preferência por proteínas. A arroba, embora pressionada, resiste acima dos R$ 300 nas principais praças, enquanto expectativas futuras seguem positivas com suporte no câmbio e nas vendas externas.

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