
Tarifaço de Trump é novo alerta no mercado. Com escalas confortáveis e consumo interno enfraquecido, frigoríficos pressionam o mercado; Mato Grosso lidera cotações do boi gordo, mas cenário ainda é incerto
O mercado físico do boi gordo segue enfrentando forte pressão de baixa, reflexo de um conjunto de fatores que vêm reduzindo o poder de barganha dos pecuaristas. Apesar do bom desempenho das exportações, a lentidão nas vendas domésticas, aliada às escalas de abate bem posicionadas, tem levado os frigoríficos a adotarem uma postura cautelosa e oferecerem valores mais baixos para a arroba.
De acordo com análise da Safras & Mercado, os frigoríficos trabalham atualmente com escalas entre 8 e 9 dias úteis na média nacional — um nível confortável, que reduz a urgência por novas compras. Além disso, animais provenientes de confinamentos e contratos a termo estão entrando com força no mercado, aumentando a oferta e colaborando para a retração nos preços.
Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria, destaca que o ambiente de negócios continua favorecendo tentativas de compra em patamares mais baixos. Isso se reflete na cotação da arroba em São Paulo, que caiu para R$ 308,25 — um recuo frente aos R$ 310,33 registrados anteriormente .
Cotação por estado: onde está o maior valor da arroba do boi gordo?
Segundo os dados mais recentes:
- Mato Grosso: R$ 312,64/@
- Mato Grosso do Sul: R$ 310,34/@
- São Paulo: R$ 308,25/@
- Minas Gerais: R$ 297,65/@
- Goiás: R$ 289,64/@
O maior valor da arroba está em Mato Grosso, o que indica um cenário de maior resistência à pressão compradora naquele estado, possivelmente devido à demanda local ou custos logísticos que exigem preços mais elevados.
“Boi China” mantém prêmio; mercado sem padrão exportação sofre mais
Enquanto o boi gordo “comum” caiu para R$ 309/@ em São Paulo, o chamado “Boi China” — que segue padrão exigido pelo mercado asiático — ainda é negociado a R$ 315/@. Já vacas e novilhas gordas recuaram para R$ 280 e R$ 295/@, respectivamente .
A diferenciação entre animais com padrão exportação e os demais segue relevante, especialmente no contexto atual em que diversos frigoríficos suspenderam temporariamente as compras, segundo a Agrifatto, devido à resistência dos pecuaristas em aceitar valores em queda .
Exportações aquecidas e projeções de valorização futura
Apesar do cenário interno frágil, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram 23,7% em volume e 50% em faturamento em junho de 2025, somando US$ 1,42 bilhão. A China segue como principal destino, absorvendo 50% do total exportado .
A Agrifatto acredita que, no médio prazo, há espaço para valorização: “A menor oferta de fêmeas, somada à recuperação do consumo interno e ao forte ritmo de exportações — que podem chegar a 250 mil toneladas em julho — pode contribuir para a alta da arroba do boi gordo”.
Risco no horizonte: EUA anunciam tarifa de 50% sobre produtos brasileiros
Um fator que preocupa o setor é o anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país a partir de 1º de agosto. A medida, segundo a Abiec, representa um entrave ao comércio internacional e poderá impactar negativamente as exportações brasileiras de carne bovina.
O mercado do boi gordo vive um momento de ajuste, pressionado por fatores internos — como oferta elevada e escalas cheias — e por ameaças externas, como a imposição de tarifas pelos EUA. Ainda assim, a força das exportações, em especial para a China, sustenta uma perspectiva de recuperação a médio prazo. Até lá, o produtor deve ficar atento às oportunidades de venda diferenciada (como o boi-China) e manter o foco em eficiência para atravessar a turbulência com competitividade.
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