Boi gordo sofre pressão da indústria e pecuarista tenta resistir

Com escalas confortáveis e oferta crescente, frigoríficos derrubam os preços da arroba do boi gordo; produtor busca alternativas para manter rentabilidade em meio à pressão do mercado

O mercado do boi gordo atravessa mais uma semana marcada por pressão baixista, resultado da combinação entre aumento da oferta de animais terminados e escalas de abate alongadas nos frigoríficos. Em pelo menos 11 das 17 regiões brasileiras monitoradas, os preços registraram queda, segundo levantamento da consultoria Agrifatto.

Oferta crescente desafia o produtor

O principal fator por trás da retração é o crescimento da disponibilidade de boiadas, reflexo da frente fria que atingiu parte do país, acelerando a oferta residual de animais terminados a pasto. Além disso, julho deve manter esse ritmo, com destaque para animais de confinamento próprio e contratos a termo, segundo análise de Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado .

A pressão sobre os preços é ainda mais significativa porque as escalas de abate continuam confortáveis, com média de até oito dias úteis, o que dá poder de barganha aos frigoríficos e os permite recuar nas negociações, mesmo com demanda firme no exterior .

Preços da arroba: veja as cotações atualizadas do mercado do boi gordo

De acordo com os dados apurados no dia 2 de julho, a arroba do boi gordo caiu em importantes praças pecuárias. Veja os valores médios:

  • São Paulo: R$ 311,67 (queda frente aos R$ 315,08 do dia anterior)
  • Goiás: R$ 293,75
  • Minas Gerais: R$ 299,41
  • Mato Grosso do Sul: R$ 312,39
  • Mato Grosso: R$ 317,30 

Já na B3, o contrato de agosto/25 recuou 0,46%, sendo negociado a R$ 323,10/@ .

Exportações ajudam a conter queda maior

Apesar da pressão interna, as exportações agressivas de carne bovina funcionam como um freio para a queda dos preços. O volume embarcado continua robusto, o que colabora com a sustentação do mercado mesmo em meio à maior oferta interna .

A consultoria Agrifatto projeta que, no médio prazo, o mercado pode reagir positivamente: espera-se uma redução na oferta de fêmeas para abate no segundo semestre, o que tende a apertar a disponibilidade de boi gordo e abrir espaço para alguma recuperação nas cotações .

Atacado mantém estabilidade, mas consumo preocupa

No mercado atacadista, os preços da carne bovina permanecem estáveis, mas com pouca margem para avanço. O consumo interno segue enfraquecido, impactado pelo baixo poder de compra da população, que prioriza proteínas mais acessíveis, como frango, ovos e embutidos.

  • Quarto traseiro: R$ 23,00/kg
  • Quarto dianteiro: R$ 19,00/kg
  • Ponta de agulha: R$ 18,50/kg 

Produtor tenta resistir

Enquanto isso, o pecuarista busca alternativas para preservar margens, seja com ajuste no uso do confinamento, adoção de parcerias, ou negociação direta com compradores. O momento é de cautela: evitar vendas apressadas, buscar informação estratégica e planejar o segundo semestre são passos cruciais para atravessar o cenário.

Apesar da pressão atual, o mercado pode encontrar novos equilíbrios com a chegada da entressafra, diminuição da oferta e o possível avanço da demanda, tanto no mercado externo quanto interno — caso o consumo reaja com a entrada dos salários no início do mês.

“Com as indústrias abastecidas e sem necessidade de correr atrás do boi, o produtor que pode segurar o animal, segura. O mercado ainda tem cartas na mesa”, resume Iglesias.

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