Com demanda firme, exportações aquecidas e oferta restrita, analistas preveem continuidade da alta no preço da arroba do boi gordo nas próximas semanas, mas alertam para riscos vindos da China.
O mercado do boi gordo encerra a primeira quinzena de novembro com otimismo moderado e forte expectativa de valorização. De acordo com o analista Raphael Galo, colunista do informativo Boi & Companhia, da Scot Consultoria, há fundamentos sólidos para que a arroba siga firme, podendo oscilar entre R$ 330 e R$ 340/@ nas próximas semanas. Segundo ele, a combinação de exportações recordes de carne bovina in natura, melhora na demanda interna e escassez de animais terminados sustenta um cenário positivo de preços.
Fundamentos de alta: exportação e consumo interno
Galo destaca que o ritmo das exportações brasileiras tem sido um dos principais pilares da valorização. Em outubro, o Brasil exportou um volume histórico de carne bovina, ultrapassando 320 mil toneladas, o maior da série mensal já registrada. Paralelamente, a chegada do fim do ano tende a impulsionar o consumo doméstico, com aumento da renda e contratações sazonais — fatores que costumam favorecer a procura por carne bovina.
No varejo e atacado, os preços também dão sinais de firmeza. Segundo levantamento da Safras & Mercado, o quarto traseiro está cotado a R$ 25/kg, enquanto o dianteiro e a ponta de agulha giram em torno de R$ 18,75 e R$ 17,75/kg, respectivamente. Esses patamares indicam que o mercado ainda tem margem para novas altas, especialmente em São Paulo e Mato Grosso do Sul, onde as médias superam R$ 322/@, segundo dados da Datagro.
Histórico favorece novembro
Ao analisar o comportamento histórico do mercado, Galo reforça que novembro tradicionalmente é um mês de alta para a arroba. Entre 2010 e 2024, dez dos quinze meses de novembro registraram valorização, com média positiva de +8,8%, frente a -2,1% nas quedas observadas. Aplicando esses dados ao fechamento de outubro — R$ 319,42/@ —, o analista projeta três cenários possíveis:
- Pessimista: R$ 297,60/@
- Médio: R$ 335,84/@
- Otimista: R$ 432,91/@
“Há espaço para trabalhar entre R$ 330/@ e R$ 340/@”, reforça Galo, considerando a tendência média e a força dos fundamentos atuais.
O risco chinês: alerta no radar dos pecuaristas
Apesar do cenário otimista, há alertas no horizonte. Recentemente, o governo chinês notificou autoridades brasileiras sobre resíduos de Fluazuron, medicamento usado no controle de carrapatos, em lotes de carne bovina importada. O episódio reacendeu temores de possíveis embargos ou criação de cotas e tarifas adicionais para produtos brasileiros.
Para Galo, o movimento pode ser uma estratégia comercial da China para pressionar os preços, mas não deve ser ignorado. “Pode ser uma jogada para reduzir o valor pago pela carne brasileira, mas é algo que o mercado precisa monitorar de perto”, afirma. Ele ainda orienta os pecuaristas a utilizarem ferramentas de proteção de preços (hedge) na B3: “Tu não vais esperar bater o carro para só depois fazer o seguro?”, ironiza o analista.
Cotações do boi gordo chegaram firmes no fechamento da semana
De acordo com a Scot Consultoria, o mercado paulista encerrou a semana com estabilidade e preços firmes, com o boi gordo comum negociado a R$ 320/@ e o “boi China” a R$ 325/@. Em outras praças, a Agrifatto registrou média de R$ 330/@ em São Paulo e R$ 306,90/@ nas demais regiões.
Os dados da Datagro reforçam o mesmo movimento, com alta generalizada nas principais praças produtoras, lideradas por Goiás (+2%) e Mato Grosso do Sul, que seguem próximos de R$ 322/@.
Um mercado de oportunidades — e cautela para o boi gordo
Mesmo com fundamentos sólidos, analistas alertam que o mercado do boi gordo continua sensível a fatores externos. Questões sanitárias e políticas comerciais da China — principal compradora da carne brasileira — continuam sendo o grande divisor de águas para o desempenho das cotações.
A expectativa, porém, é de que o último bimestre de 2025 mantenha o tom de valorização gradual, sustentado por demanda aquecida, baixo volume de oferta e exportações em ritmo acelerado. Como resume Raphael Galo, “o mercado ainda tem fôlego para subir, desde que o produtor mantenha o foco em gestão, eficiência e proteção financeira”.
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